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Foto do escritorChristian Lo Iacono

Cuidando uns dos outros- Parte VII| Série - A igreja

Atualizado: 5 de dez.

1 Irmãos, se alguém for surpreendido em alguma falta, vocês, que são espirituais, restaurem essa pessoa com espírito de brandura. E que cada um tenha cuidado para que não seja também tentado.2 Levem as cargas uns dos outros e, assim, estarão cumprindo a lei de Cristo.3 Porque, se alguém julga ser alguma coisa, não sendo nada, engana a si mesmo.4 Mas que cada um examine o seu próprio modo de agir e, então, terá motivo de gloriar-se unicamente em si e não em outro.5 Porque cada um levará o seu próprio fardo.

O que a pessoa semear, isso também colherá

6 Mas aquele que está sendo instruído na palavra compartilhe todas as coisas boas com aquele que o instrui.

7 Não se enganem: de Deus não se zomba. Pois aquilo que a pessoa semear, isso também colherá.8 Quem semeia para a sua própria carne, da carne colherá corrupção; mas quem semeia para o Espírito, do Espírito colherá vida eterna.9 E não nos cansemos de fazer o bem, porque no tempo certo faremos a colheita, se não desanimarmos.10 Por isso, enquanto tivermos oportunidade, façamos o bem a todos, mas principalmente aos da família da fé.

Gálatas 6.1-10


Cuidar: manifestando o fruto do Espírito


O filme Duelo de Titãs é um projeto biográfico esportivo sobre a integração de estudantes brancos e negros no colégio no ano de 1971. Os jogadores se debatiam com as tensões raciais daquela época (tensões que ainda assolam nosso tempo). Os ânimos se exaltam entre os rapazes, até que eles entram no campo de futebol e se tornam uma família. O técnico, interpretado por Denzel Washington, exige que cada jogador aprenda algo sobre um dos seus companheiros de outra cor. Enfim, eles acabam cantando juntos no vestiário e na hora do almoço.


Perto do fim do filme, Gary, um dos líderes brancos do time, está no hospital. Julius, um dos líderes negros, visita Gary com os olhos marejados. A mãe de Gary diz: "Ele só quer vê-lo". Quando Julius entra no quarto, a enfermeira diz: “Somente familiares são autorizados a entrar". Gary responde: "Não vê que somos parecidos? Ele é meu irmão". Então ele e Julius conversam, e Julius diz: "Quando tudo isso passar, nós vamos nos mudar para o mesmo bairro".


Quando pararam de brigar uns com os outros e se tornaram uma (diversificada) família, os integrantes do time se superaram como equipe. Essa é uma boa ilustração da comunidade bíblica. Nosso inimigo não é nosso irmão ou irmã. Nós devemos encorajar e ajudar uns aos outros como família. Se o futebol pode unir as pessoas, quanto mais poderá o evangelho! E essa unidade no evangelho não se manifesta somente em palavras, mas em atos concretos de amor.


Uma das características mais marcantes da igreja primitiva era o cuidado que os membros tinham uns com os outros. Se alguém espiasse sua igreja hoje, ele notaria essa mesma característica? Ou diria algo do tipo: "Vejam só como criticam uns aos outros!", "Vejam só como fofocam!", "Vejam só como são educados quando juntos presencialmente, mas não cuidam uns dos outros de verdade". Hoje em dia, infelizmente, abundam as brigas e as birras entre irmãos (pessoal ou virtualmente), mas há pouco companheirismo bíblico, pouco "uns aos outros".


As passagens uns aos outros ou uns dos outros do Novo Testamento demonstram a importância de cuidarmos dos nossos irmãos e irmãs em nossa comunidade cristã. O fato de haver tantas dessas passagens mostra que essa dinâmica é inegociável. Considere a seguinte lista de 21 passagens (não exaustiva; ARA):


- "Novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros; assim como eu vos amei, que também vos ameis uns aos outros" (Jo 13.34);

- "... assim também nós, conquanto muitos, somos um só corpo em Cristo e membros uns dos outros" (Rm 12.5);

- "Amai-vos cordialmente uns aos outros com amor fraternal, preferindo-vos em honra uns aos outros" (Rm 12.10);

- “... admoestardes uns aos outros" (Rm 15.14);

- “... cooperem os membros, com igual cuidado, em favor uns dos outros" (1Co 12.25);

- “... sede, antes, servos uns dos outros, pelo amor" (Gl 5.13);

- "Levai as cargas uns dos outros" (Gl 6.2);

- "... suportando-vos uns aos outros em amor" (Ef 4.2);

- "... sede uns para com os outros benignos" (Ef 4.32);

- "... sujeitando-vos uns aos outros no temor de Cristo" (Ef 5.21);

- “Nada façais por partidarismo ou vanglória, mas por humildade, considerando cada um os outros superiores a si mesmo" (Fp 2.3);

- "Não mintais uns aos outros" (Cl 3.9);

- "Consolai-vos, pois, uns aos outros" (1Ts 4.18);

- "... segui sempre o bem entre vós e para com todos" (1Ts 5.15);

- "Consideremo-nos também uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras" (Hb 10.24);

- "Irmãos, não vos queixeis uns dos outros" (Tg 5.9);

- "Confessai, pois, os vossos pecados uns aos outros e orai uns pelos outros, para serdes curados" (Tg 5.16);

- "Sede, mutuamente, hospitaleiros, sem murmuração" (1Pe 4.9);

- "... no trato de uns com os outros, cingi-vos todos de humildade" (1Pe 5.5);

- "Amados, amemo-nos uns aos outros, porque o amor procede de Deus; e todo aquele que ama é nascido de Deus e conhece a Deus" (1Jo 4.7);

- "Ninguém jamais viu a Deus; se amarmos uns aos outros, Deus permanece em nós" (1Jo 4.12).


Em toda essa lista é possível perceber o chamado ao cuidado genuíno que temos de ter uns com os outros. Considere reler esses versículos e reflita sobre o que você e eu, e os outros, estamos perdendo quando não cuidamos ou somos cuidados dessa maneira. Observando esses versículos lado a lado, fica evidente que Deus nos chama a um grau elevado de compromisso uns com os outros, mas também nos dá um vislumbre animador do que nossas igrejas locais podem se tornar se aprendermos a cuidar e sermos cuidados como nos ensinam as Escrituras.


Esse tipo de cuidado que honra a Deus é também destacado em Gálatas 6.1-10, onde encontramos um esboço bem útil de como devemos cuidar uns dos outros. Não é por acaso que Paulo passa do "fruto do Espírito" (Gl 5.16-24) para o cuidado da igreja (Gl 6.1-10). A vida cheia do Espírito Santo não consiste necessariamente em encontros poderosos, milagrosos e dramáticos, nem em experiências místicas, mas em cristãos fiéis vivendo em alegre devoção a Cristo e uns para com os outros. Nosso papel é demonstrar o fruto do Espírito no cuidado de nossa família da fé. Qual é o propósito de fazermos uso de algum tipo de poder sem a virtude do amor?


Restaurando com mansidão


"Irmãos, se alguém for surpreendido em alguma falta, vocês, que são espirituais, restaurem essa pessoa com espírito de brandura" (Gl 6.1). Você precisa de uma família para cuidar da sua saúde espiritual. A igreja é uma "família da fé" (v. 10), feita de irmãos e irmãs (veja Gl 1.18), que chama Deus de "Aba, Pai" (G1 4.6).


Às vezes, alguém da família é "pego" em uma "transgressão" (Gl 6.1). Nessa situação, aquele que caiu precisa que um irmão ou irmã venha a armadilha e o ajude a se libertar. Precisamos colocar em prática o ministério da restauração (veja também Tg 5.19-20). Tim Keller aponta que a palavra traduzida por "restaurem" tem a ver com colocar um osso deslocado de volta no lugar: “Um osso deslocado causa uma dor terrível, pois não está no lugar apropriado; não está em sua relação natural com as outras partes do corpo. Colocar o osso de volta no lugar inevitavelmente causará dor, mas uma dor restauradora. Isso significa que devemos confrontar mesmo que seja doloroso. Nosso confronto, porém, deve ter o objetivo de causar uma transformação de vida e de coração” (Gálatas).


Temos sempre de lembrar o objetivo de ministrar àqueles que caíram em pecado: restauração, e não julgamento. Quando Jesus deu os passos a serem seguidos no processo de disciplina na igreja em Mateus 18.15-17, o objetivo era positivo e construtivo, como também aqui. O foco é a saúde e o bem-estar espiritual do crente. Disciplina eclesiástica é a regulação da conduta dos membros e líderes da igreja, alcançada através do aconselhamento, da correção e, se necessário, da exclusão da membresia. Através da história da igreja, muitos teólogos incluíram a disciplina eclesiástica como uma das marcas principais da igreja, ao lado da pregação da Palavra e da administração do batismo e da Ceia do Senhor.


O pastor Mark Dever escreve: "Tradicionalmente, os protestantes veem essas duas marcas, a pregação do evangelho e a adequada administração dos sacramentos, como marcas que distinguem a verdadeira da falsa igreja". Depois de citar Thomas Cranmer e João Calvino como exemplos, Dever continua: "Uma terceira marca da igreja, a disciplina corretamente aplicada, tem sido acrescentada desde então, apesar de ser de conhecimento geral que ela está implícita na segunda marca: a correta administração dos sacramentos". Então, após citar o artigo 29 da Confissão Belga de 1561 (que aponta essas três marcas como as marcas da verdadeira igreja), M. Dever faz um resumo a partir de uma citação de Edmund Clowney, que diz que a igreja inclui: “a pregação fiel da Palavra; a adequada observância dos sacramentos; e o exercício fiel da disciplina eclesiástica" (Nove marcas de uma igreja saudável).


Em Gálatas 6, Paulo não delineia os passos da restauração, mas fala do restaurador. O restaurador deve ser alguém "espiritual" (v. 1). Isso não significa ser perfeito, nem quer dizer que temos de nos tornar a "polícia da retidão", mas, por outro lado, mostra que é necessário agir de acordo com o espírito do restaurador supremo, Jesus.


Alguns levantam objeções a esse "repreender uns aos outros e restaurar", afirmando que se trata de uma atitude julgadora e intrometida. "Acaso Jesus não disse: ‘Não julgueis, para que não sejais julgados'?", eles questionam. Sim, Jesus disse, mas aqueles que apelam a essa passagem normalmente se esquecem do versículo 5 de Mateus 7: "Hipócrita! Tire primeiro a trave do seu olho e então você verá claramente para tirar o cisco do olho do seu irmão". Em outras palavras, uma vez tirada a trave de nosso olho, é nosso dever tirar o cisco do olho de nosso irmão. Jesus não está dizendo que não devemos jamais nos preocupar com o bem-estar espiritual de nosso irmão ou irmã! Ele está no exortando a sondarmos nosso coração primeiro, e só depois agir.


Mas, quando agimos, temos de ser gentis. Brandura é um fruto do Espírito, o que implica que essa virtude floresce à medida que nos unimos intimamente a Cristo. Ele nos torna gentis, assim como ele é (Mt 11.29). Em seguida, o restaurador também deve ser cauteloso. Paulo diz: "E que cada um tenha cuidado para que não seja também tentado" (Gl 6.1b). Temos de ter sempre em mente que não somos imunes à queda. Tome cuidado para não se gabar diante de seu irmão, e para que você não caia na mesma armadilha quando tentar restaurá-lo.


Vi, ao longo dos anos, membros fiéis da igreja desempenharem muito bem a obra de restauração. Às vezes, cristãos ficam à deriva no âmbito espiritual, enredam-se num vício, se metem num relacionamento não saudável, ou simplesmente deixam de congregar. Um cristianismo cheio do Espírito Santo consiste numa busca constante pelos irmãos e irmãs que caíram, a fim de gentilmente restaurá-los. Numa cultura privatista e individualista (como a cultura ocidental do século 21), muitos podem achar esse movimento um incômodo. Mas é impossível negar que ele seja uma característica do cristianismo bíblico. Somos guardiões dos nossos irmãos. E você precisa de um irmão para ser seu guardião também! Isso não deixa de ser uma forma de manifestação do discipulado cristão.


Esteja preparado para restaurar. Não pressuponha que outros membros irão atrás dos desviados e daqueles irmãos de difícil trato. Não espere simplesmente que eles fiquem bem. Não deixe esse trabalho somente nas mãos dos pastores e líderes. Importe-se o suficiente para tomar a iniciativa de confrontar quando necessário, e de orar e agir para restaurar sempre que preciso.


Carregando humildemente o fardo


Em seguida, Paulo trata do irmão, ou irmã, que está sendo oprimido por algum fardo: "Levem as cargas uns dos outros e, assim, estarão cumprindo a lei de Cristo" (Gl 6.2).


Eis aqui uma missão diária para todos nós: atenção aos fardos dos outros e ao comprometimento de aliviá-los. Esse ministério pode não trazer muito reconhecimento público, mas é importante para Jesus. Paulo pressupõe que os gálatas terão cargas, e então os exorta a se ajudarem mutuamente nesse sentido.


Um dos obstáculos desse ministério é o orgulho: "Porque, se alguém julga ser alguma coisa, não sendo nada, engana a si mesmo" (6.3). Se eu me considero nobre demais para me curvar e ajudar meu irmão, então preciso tratar meu coração. Orgulho resulta na recusa em servir à família da fé.


É necessário ouvir com atenção as seguintes palavras de Paulo: "Mas que cada um examine o seu próprio modo de agir e, então, terá motivo de gloriar-se unicamente em si e não em outro" (v. 4). Basicamente, o que Paulo está dizendo é: não se compare com o seu próximo. Pelo contrário, examine sua própria vida sob o crivo de Deus, e, ao fazê-lo, não haverá mais espaço para a arrogância. Não se gabe porque alguém está caindo onde você não cairia, ou carregando um fardo que você não carrega. Paulo diz: Pare de alimentar seu orgulho, comparando-se com os outros.


Simultaneamente, entretanto, Paulo aponta com sabedoria a necessidade de diferenciar entre fardos pesados e cargas mais leves. Devemos levar as "cargas pesadas uns dos outros" (v. 2), mas ao mesmo tempo "cada um levará o seu próprio fardo" (v. 5). Algumas cargas são pesadas demais para carregarmos sozinhos, mas há coisas de que devemos cuidar pessoalmente. Alguns tratam tudo como se fosse um fardo, quando, na verdade, são cargas leves. Outros tratam tudo como se fosse carga leve, recusam-se a pedir ajuda e acabam quebrando a cara.


Eu tenho o dever de não me atrasar para o trabalho – eis uma carga que é minha. Mas se fico desempregado e por consequência começo a passar necessidade, isso se torna um fardo e provavelmente vou precisar da ajuda de outros. Gastar sabiamente nosso dinheiro é nossa carga. Perder um ente querido para o câncer é um fardo difícil. A mãe solteira de quatro filhos tem o direito de esperar cuidado e socorro de sua igreja.


Se você está carregando um fardo pesado, garanta que alguém conheça sua situação. Muitas vezes os cristãos não têm ciência dos fardos de seus irmãos e irmãs e por isso não oferecem ajuda. Parte de ser uma comunidade bíblica consiste em nos comunicarmos uns com os outros. Isso envolve ser transparente o suficiente para contarmos nossos fardos aos outros, como também sermos humildes e interessados o suficiente para ajudar os aflitos.


Um dos enganos acerca do cuidado pastoral é achar que ele é exclusivo dos pastores. Ainda que seja verdade que os presbíteros têm uma função especial na igreja, o cuidado e o interesse pelos outros são uma obra que deve ser praticada por todos os membros. Todos são capazes de ouvir, de cuidar, de ajudar a carregar fardos, e de socorrer os santos doentes e oprimidos. De fato, uma das principais funções do pastor é o "aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo" (Ef 4.12), e carregar os fardos e cuidar dos outros fazem parte desse ministério.


Como membros de igreja, precisamos ter consciência de que os pastores não são os únicos capazes de cuidar de nós. A igreja toda é chamada ao cuidado mútuo. Se um membro visitar você no hospital, não fique frustrado por não ser o pastor! Ao contrário, você deveria ver esse membro (provavelmente sacrificando seu tempo) como alguém que está realizando o ministério de Gálatas 6 e ser grato por isso.


O clímax da parte final do filme O Retorno do Rei, baseado na obra de Tolkien, ilustra muito bem o ministério de carregar fardos. Frodo está prestes a concluir sua missão de jogar o anel no fogo, mas fraco e cansado demais para subir a montanha.

Sam, seu amigo fiel, brada: "Venha, Sr. Frodo! Eu não posso carregar o anel por você, mas eu posso carregar o Sr.!". Sam, então, ajuda seu amigo exausto a subir a montanha para que então Frodo dê um fim ao drama de uma vez por todas. O mesmo vale para nós: cristãos cheios do Espírito Santo ajudam seus irmãos e irmãs a carregarem os fardos que os estão oprimindo.


Assista o Sermão completo no Youtube:






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