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Foto do escritorChristian Lo Iacono

A Grandeza no Mundo. A Grandeza em Cristo.

Então se aproximou de Jesus a mulher de Zebedeu, com seus filhos, e, adorando-o, pediu-lhe um favor.

Jesus lhe perguntou: — O que você quer? Ela respondeu: — Mande que, no seu reino, estes meus dois filhos se assentem um à sua direita e o outro à sua esquerda.

Mas Jesus disse: — Vocês não sabem o que estão pedindo. Será que podem beber o cálice que eu estou para beber? Eles responderam: — Podemos.

Então Jesus lhes disse: — Vocês beberão o meu cálice. Quanto a sentar à minha direita e à minha esquerda, não me compete concedê-lo, pois é para aqueles a quem está preparado por meu Pai.

Quando os outros dez discípulos ouviram isso, ficaram indignados com os dois irmãos.

Então Jesus, chamando-os para junto de si, disse: — Vocês sabem que os governadores dos povos os dominam e que os maiorais exercem autoridade sobre eles.

Mas entre vocês não será assim; pelo contrário, quem quiser tornar-se grande entre vocês, que se coloque a serviço dos outros;

e quem quiser ser o primeiro entre vocês, que seja servo de vocês;

tal como o Filho do Homem, que não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos.



O Evangelho de Lucas tem um relato similar (Lc 22.24-30), mas que provavelmente ocorre em ocasião distinta. Mais uma vez o tema da “posição” é retomado (Mt 18.1-4). A despeito das repetidas predições de Jesus de sua paixão, dois discípulos e sua mãe ainda estão pensando a respeito de privilégio, posição e poder.


Em Marcos, João e Tiago falam eles mesmos com Jesus; aqui, isso é feito pela mãe deles (que talvez pudesse ser tia de Jesus pelo lado de sua mãe). Tiago e João já tinham proibido alguém que expulsava demônios em nome de Jesus porque não os seguia, mas Jesus lhes disse: “Não o proíbam, porque não há ninguém que faça milagre em meu nome e, logo a seguir, possa falar mal de mim. Pois quem não é contra nós é a favor de nós. Pois aquele que lhes der de beber um copo de água, em meu nome, porque vocês são de Cristo, em verdade lhes digo que de modo nenhum perderá a sua recompensa” (Mc 9.38-41). Tiago e João também haviam perguntado a Jesus se era para pedir fogo do céu para consumir samaritanos que não os receberam, mas Jesus os repreendeu (Lc 9.53-55).


v. 21 “Jesus lhe perguntou: — O que você quer? Ela respondeu: — Mande que, no seu reino, estes meus dois filhos se assentem um à sua direita e o outro à sua esquerda.” A ideia de “à direta” e “à esquerda” sugere proximidade com a pessoa do Rei e, por isso, o compartilhamento de seu prestígio e poder. Essas posições crescem à medida que o rei é respeitado e tem poder absoluto. “Na tua presença há plenitude de alegria, à tua direita, há delícias perpetuamente” (Sl 16.11). “Filhas de reis se encontram entre as suas damas de honra; à sua direita está a rainha enfeitada com ouro finíssimo de Ofir” (Sl 45.9). “Mas Estêvão... fitou os olhos no céu e viu a glória de Deus e Jesus, que estava à direita de Deus. Então disse: - Eis que vejo os céus abertos e o Filho do Homem, em pé à direita de Deus” (At 7.55-56). Ora, o “reino” aqui é o reino do Messias na consumação. O que os filhos de Zebedeu e sua mãe pedem é que eles compartilhem a autoridade e proeminência do Jesus Messias quando seu reino for totalmente consumado – algo que eles acham que está próximo sem a cruz.


v. 22 “Mas Jesus disse: — Vocês não sabem o que estão pedindo. Será que podem beber o cálice que eu estou para beber? Eles responderam: — Podemos.” A resposta de Jesus não é severa, mas mistura firmeza e sondagem. Muitas vezes é a ignorância que busca liderança, poder e glória: os irmãos não sabem o que estão pedindo. Pedir para reinar com Jesus é pedir para sofrer com ele, e eles não só não sabem o que estão pedindo, mas também não têm ainda uma percepção clara do sofrimento de Jesus. Ora, Jesus havia ensinado: “Quem não toma a sua cruz e vem após mim não é digno de mim. Quem acha a sua vida a perderá; e quem perde a vida por minha causa, esse a achará” (Mt 10.38-39). Pedir riquezas e muita honra com frequência é pedir ansiedade, tentação, desapontamento e inveja. E na arena espiritual, pedir por grande utilidade e recompensa com frequência é pedir grande sofrimento. Paulo escreveu aos colossenses: “Agora me alegro nos meus sofrimentos por vocês e preencho o que resta das aflições de Cristo, na minha carne, a favor do seu corpo, que é a igreja” (Cl 1.24). “Não sabemos o que pedimos quando pedimos a glória de usar uma coroa, e não pedimos a graça para carregar o sofrimento em nosso caminho para ela” (Henry). Na imagem do AT, o “cálice” refere-se a julgamento ou retribuição.


v. 23 “Então Jesus lhes disse: — Vocês beberão o meu cálice. Quanto a sentar à minha direita e à minha esquerda, não me compete concedê-lo, pois é para aqueles a quem está preparado por meu Pai.” Jesus responde-lhes primeiro nos termos deles antes de falar de sua própria morte como resgate (v. 28). Em certo sentido, eles podem beber e beberão do seu cálice de sofrimento. Tiago vai se tornar o primeiro mártir apostólico (At 12.2) e João sofrerá o exílio (Ap 1.9). Mas não é papel de Jesus determinar quem se assenta a sua direita e a sua esquerda. Aqui, como em outras passagens, Jesus deixa claro que sua autoridade é derivada. Essas posições são designadas pelo Pai. Jesus não pode atender ao pedido da mãe.


vv. 24-27 “Quando os outros dez discípulos ouviram isso, ficaram indignados com os dois irmãos. Então Jesus, chamando-os para junto de si, disse: — Vocês sabem que os governadores dos povos os dominam e que os maiorais exercem autoridade sobre eles. Mas entre vocês não será assim; pelo contrário, quem quiser tornar-se grande entre vocês, que se coloque a serviço dos outros; e quem quiser ser o primeiro entre vocês, que seja servo de vocês”. A indignação dos outros dez decorre menos da humildade e mais do ciúme – somado ao temor do que eles podiam perder (cultura no Brasil). Embora esses versículos dificilmente sustentem o igualitarismo – haverá posições determinadas para cada um (Mt 5.19) –, eles demonstram que o interesse no igualitarismo pode mascarar um ciúme cuja origem mais profunda não é a preocupação com justiça, mas com o próprio interesse. Os discípulos voltam à mesma discussão ocorrida em Mt 18.1.


Jesus apresenta um contraste entre a grandeza entre os pagãos e a grandeza entre os herdeiros do reino. Os pagãos, ou gentios, que vinham à mente são os romanos: poder e autoridade caracterizavam seu império. Jesus não está aqui criticando o abuso de poder em estruturas políticas, mas ele insiste que as próprias estruturas não podem ser transferidas para o relacionamento entre seus seguidores. Grandeza entre os discípulos de Jesus baseia-se no serviço. Qualquer um que queira ser grande deve se tornar diakonos (“servo”, v. 26) de todos. (Hoje vemos uma seletividade na escolha do objeto do nosso amor! Que amor é esse?) Aqui, diakonos não quer dizer “diácono” nem “ministro” no moderno uso da igreja. Uma das ironias da língua é que uma palavra como “ministro”, que em sua raiz se refere a ajudador, aquele que “ministra” se transforma em emblema de honra e poder na religião e na política. Mas a não ser que a plena força de seu ensinamento seja perdida, Jesus repete isso no versículo 27 com uma palavra forte: doulos (“escravo”; 1Co 9.19; 2Co 4.5; 1Pe 1.22; 5.1-3). No mundo pagão, a humildade era vista não tanto como uma virtude, mas como um defeito. Imagine dar a liderança a um escravo! A ética de Jesus da liderança e do poder em sua comunidade de discípulos era revolucionária.


v. 28 “tal como o Filho do Homem, que não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos.” Jesus se apresenta como o supremo exemplo de serviço aos outros. É natural entender o “não veio” como um indício da pré-existência de Jesus. Ele não veio para ser servido, como um rei que depende de incontáveis cortesãos e criados; ele veio para servir aos outros. O Filho do Homem tem todo o direito de esperar ser servido, mas, em vez disso, ele serve. Está implícita a autoconsciência de que o Filho do Homem – que, por causa de sua origem celestial, possuía autoridade divina – era aquele que se humilhou a ponto de se submeter a uma morte vicária. “A vida de Jesus entregue em morte vicária realiza a libertação de vidas confiscadas. Ele agiu em favor de muitos ao tomar o lugar deles” (Harris). O termo “muitos” enfatiza os incomensuráveis efeitos da morte solitária de Jesus: um morre, mas “muitos” encontram sua vida “resgatada, curada, restaurada, perdoada”, uma grande multidão que nenhum ser humano pode contar (J. Jeremias). Jesus se refere a si mesmo como o Servo Sofredor de Isaías e interpretava a sua morte sob essa luz.


Em Mateus 18.1-4, quando Jesus já havia falado de seu sofrimento (vv. 22-23), a muita tristeza dos discípulos (v. 23) prova ter vida curta. Isso porque eles passam a se ocupar em especular quem é o maior no reino. Três dos discípulos haviam sido recentemente favorecidos na transfiguração (17.1-3), embora Pedro seja muitas vezes escolhido (14.28-29; 15.15; 16.16-18, 22-23; 17.4, 24-27) – mesmo que para ser repreendido! Talvez essas coisas tenham desencadeado a disputa, que continuará no pedido da mãe de Tiago e João. Jesus assegura que os discípulos precisam se converter e se tornar como crianças (v. 3); do contrário, jamais entrarão no Reino. A criança é levantada como um ideal não de inocência, pureza ou fé, mas de humildade e de despreocupação por posição social. Jesus advoga a humildade de mente (v. 4), não a infantilidade de pensamento (10.16). Essa humildade é acompanhada da confiança semelhante à da criança (TDNT). Os discípulos devem ser converter de sua conduta e atitudes atuais e adotar essa nova norma, ou serão excluídos do reino.

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