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Foto do escritorChristian Lo Iacono

A Importância dos Pensamentos


Finalmente, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é respeitável, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se alguma virtude há e se algum louvor existe, seja isso o que ocupe o pensamento de vocês.

O que também aprenderam, receberam e ouviram de mim, e o que viram em mim, isso ponham em prática; e o Deus da paz estará com vocês.



“Pensamentos são companheiros constantes enquanto permanecemos acordados” (Shedd). Paulo, aqui aprisionado, deve ter tido tempo para muitos pensamentos. A ansiedade, mencionada nos versículos anteriores (vv. 6-7), é o resultado de pensamentos sobre possíveis acontecimentos desastrosos do futuro que amedrontam o indivíduo que dá lugar a todos eles. Ora, a oração é um ótimo remédio para essa dificuldade.


Mas há um lado positivo dos pensamentos. Um filho de Deus pode honrar ao seu Criador e Salvador, que lhe concede uma paz que não pode ser explicada humanamente, concentrando a sua atividade metal em “tudo o que é verdadeiro, tudo o que é respeitável, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama” (v. 8). Parece que cuidar dos nossos pensamentos – e não somente das ações – é não somente possível, mas importante! Com a assistência do Espírito Santo, que foi outorgado também para santificar a nossa mente, podemos vigiar os nossos pensamentos para que o “louvor” e aquilo que é “virtuoso” ocupem as nossas mentes.


A primeira ocupação da mente é com a “verdade”. Só devem passar pelas veredas da nossa mente pensamentos que não sejam hipócritas e falsos. Frequentemente nós nos encontramos em ambientes onde fofocas e rumores são espalhados. Criam-se suspeitas e dúvidas acerca de pessoas que raras vezes estão presentes para se defender. Mas o confronto imediato com os fatos pode acabar corrigindo o fofoqueiro. Falsos pensamentos são gerados onde a verdade não é virtude valiosa.


O termo “verdadeiro” não define simplesmente fatos verídicos, mas aponta para aquilo que é “genuíno”. Jesus reivindicou ser “a verdade” (Jo 14.6), não no sentido de uma enciclopédia cheia de fatos e mínimos erros, mas por ser uma pessoa que é a fonte da realidade. Ele se apresentou como o oposto de toda ilusão, falsidade, maldade disfarçada e mudança (Hb 13.8: “Jesus Cristo é o mesmo ontem, hoje e para sempre”). Ele encarna o eterno “Amém” (2Co 1.20; Ap 3.14: “Estas coisas diz o Amém, a testemunha fiel e verdadeira, o princípio da criação de Deus”). Pecado, na sua raiz, não passa de mentira, uma depravação da natureza santa de Deus. Consequentemente, conhecer a verdade (entregar-se a Cristo) liberta do pecado (Jo 8.32). Jesus Cristo nos oferece em si mesmo a eterna fidelidade (sentido básico do “amém”) de Deus. Pensar no verdadeiro seria manter na mente somente o que é consistente com a natureza, vontade e lei do Criador.


Pensar no que é “respeitável” comunica a ideia de limitar a entrada em nossa mente ao que é “nobre” (semna). Conceitos paralelos como “venerável”, “sério”, “digno de reconhecimento elevado”, igualmente emanam deste vocábulo. Este termo se destaca nas cartas Pastorais. O pastor deve criar os seus filhos “sob disciplina, com todo o respeito” (1Tm 3.4). Os diáconos devem ser “respeitáveis, de uma só palavra” (1Tm 3.8), bem como as mulheres, que não devem ser “maldizentes” (v. 11). Os idosos também devem ser “respeitáveis” (Tt 2.3), apresentando essa qualidade como uma manifestação de seriedade moral, tanto na intenção (interior) quanto no comportamento (exterior). Uma piedade que se manifesta numa “vida ordeira” está em vista aqui. Pensar naquilo que se qualifica pela nobreza e dignidade nos protege de pensamentos maus. Manter uma mente sadia também tem a ver com as pessoas com quem andamos, inclusive amigos (que tipo de amigos?); tem a ver com o que lemos, ouvimos, assistimos. Será que não temos sigo ingênuos e imprudentes, oferecendo as nossas mentes à escravidão, sujeitando-nos àquilo que acabamos apreciando? “Tenha cuidado com o que você pensa, pois a sua vida é dirigida pelos seus pensamentos” (Pv 4.23, NTLH). Precisamos de um guarda “respeitável”, que guarde o nosso coração e mente em Cristo Jesus (v. 7).


A “justiça” deve cercar os pensamentos dos cristãos como os muros de uma cidade medieval. Paulo escolheu esse termo para englobar o mais amplo conceito do que é certo, visto do ponto de vista divino. Deus, sendo absolutamente justo em sua pessoa, revela na sua lei a justiça que ele exige das criaturas formadas segundo a sua imagem (Rm 7.12). Desse padrão divino os seres humanos deduzem o que representa o certo e o errado. A lei pode ser justa, mas se o nosso pensamento não se apegar com profundo amor aos mandamentos do Senhor, seremos controlados pela força do mal que nos conduz contra a nossa própria vontade (Rm 7.19-21). A retidão no pensamento certamente renunciaria às imaginações da carne em que outrora andávamos (Ef 2.3). Ora, o dilúvio ocorreu porque “o SENHOR viu que a maldade das pessoas havia se multiplicado na terra e que todo desígnio do coração delas era continuamente mau” (Gn 6.5). Jesus também enfatizou que os ritos de purificação religiosos não adiantam enquanto não se efetua uma transformação radical na fonte dos “maus desígnios” (Mc 7.21). Pela ação do Espírito, a mente cristã pode ser capturada para servir a Cristo. Ainda que ninguém tenha o direito de instruir o Senhor, Paulo escreveu que nós “temos a mente de Cristo” (1Co 2.16). Somos filhos de Deus e, pela renovação da mente, rejeitamos os pensamentos moldados por este século, para experimentarmos a boa, perfeita e agradável vontade de Deus (Rm 12.2). Sujeitando-nos ao poder do Espírito, podemos levar cativo todo pensamento à obediência de Cristo (2Co 10.5). “Tudo o que é justo”, portanto, não visa simplesmente ocupar a mente com as nobres ideias de líderes humanos que detêm prêmios Nobel de literatura, paz etc. É preciso que nos ocupemos com a purificação de nossas mentes de todo pensamento egocêntrico, encarnando a mente de Cristo (Mc 7.21-22).


“Pureza” indica “limpeza”, “sem contaminação”. Paulo usa a expressão “virgem pura” quando pensa na igreja como a esposa de somente um esposo, Cristo (2Co 11.2). A palavra no NT pode ser usada tanto para a pureza sexual como para a observação santa do culto a Deus, com o coração leal e singelo. Contemplando a vinda de Cristo, o cristão reconhece que será semelhante a Ele: “Todo o que tem essa esperança nele purifica a si mesmo, assim como ele é puro” (1Jo 3.3). A lavagem dos pés dos discípulos depois da última Ceia foi praticada por Jesus para simbolizar a necessidade de um arrependimento contínuo dos discípulos, visando a purificação e a manutenção da comunhão com o Mestre (Jo 13.5-11; 15.3).


Entre as dificuldades que mais perturbam a mente do cristão se destaca a impureza sexual. Elas encabeçam as listas dos pecados nas Epístolas que os seguidores de Cristo devem mortificar: prostituição, impureza, imoralidade sexual, desejo maligno e avareza (Cl 3.5; Ef 4.19; 5.3; 1Ts 4.5-6). Nossa cultura ocidental estimula o pensamento impuro por todos os meios de que dispõe. E a pornografia nunca foi tão acessível e intensamente desfrutada como nos dias atuais. Aos tessalonicenses Paulo escreve que o pensamento impuro caracteriza “os gentios que não conhecem a Deus” (1Ts 4.5). Representa uma ofensa contra Deus que não ficará sem punição: “e que, nesta matéria, ninguém ofenda nem defraude o seu irmão. (NTLH: “ninguém prejudique o seu irmão, nem desrespeite os seus direitos”) Porque, contra todas estas coisas, como antes já avisamos e testificamos, o Senhor é vingador. Pois Deus não nos chamou para a impureza, e sim para a santificação” (1Ts 4.6-7). Jesus também advertiu sobre o acúmulo de pensamento impuro no coração, indicando que a intenção em si já configura o adultério (Mt 5.28). A seriedade do pecado mental também pode ser verificada nas seguintes palavras suas: “se o seu olho direito leva você a tropeçar, arranque-o e jogue-o fora. Pois é preferível você perder uma parte do corpo do que ter o corpo inteiro lançado no inferno” (Mt 5.29-30). Chama a atenção a última petição do Pai Nosso: “não nos deixes cair em tentação; mas livra-nos do mal” (Mt 6.13). Pensar em tudo o que é puro implica em tomar atitudes práticas que não nos exponham ao que é maculado e degradante: “Que a imoralidade sexual e toda impureza ou avareza não sejam nem sequer mencionadas entre vocês, como convém a santos. Não usem linguagem grosseira, não digam coisas tolas e indecentes, pois isso não convém” (Ef 5.3-4). Conceitos puros, pensamentos edificantes, estimulados pela palavra de Deus aplicada pelo Espírito, são como remédio. Tendo sido libertos da corrupção que há no mundo, precisamos escolher as fontes que nutrem nossos pensamentos, para termos uma vida mais sadia e frutífera.


“Amável” (prosphile, “o que conduz à amizade”) é uma palavra que só se encontra no NT. Pensar naquilo que promove o amor parece ser, à primeira vista, não apenas uma recomendação boa, mas fácil de entender. O ser humano, por natureza, quer ser apreciado e amado. Amizade representa o que mais valorizamos na vida. Por que encontramos então uma orientação para pensar de modo amável? Ora, não é difícil acumular pensamentos positivos acerca das pessoas de nosso círculo que nos apoiam, que nos valorizam e nos fazem sentir bem. Mas dos rivais e concorrentes é bem difícil não pensar criticamente. Suspeitas e invejas caracterizam o oposto de pensar em tudo o que é amável. Pelo grande número de palavras que Paulo usa para descrever as obras da carne que separam as pessoas, devemos concluir que a mente está mais disposta a pensar de forma inimiga do que amavelmente. Consideremos a lista de Gálatas 5.20-21: “inimizades, rixas, ciúmes, iras, discórdias, divisões, facções, invejas”. Todas essas obras são más, mas infelizmente aparecem no relacionamento entre irmãos na comunidade da graça e exteriorizam assim o que se passa na mente deles. Essas inclinações devem ser enfrentadas, e não ignoradas, através da ação da Palavra e do Espírito. Pensamentos longânimos, que suportam os irmãos em amor (Ef 4.2), são úteis para tecer laços de amizade. Perdão oferecido na mente e, em seguida, em palavras sinaliza o perdão divino que todos os crentes reivindicam (Ef 4.32; Mt 6.14). Por que não concentrar um amor deliberado no irmão menos amável da igreja? Por que não levantar uma onda de comentários positivos e verídicos a respeito do irmão que mais desprezo suporta? Pensar em tudo que conduz para a amizade acarreta um grande galardão.


O sentido da expressão “boa fama” (euphema) não é difícil de captar. Pensamentos devem gravitar na direção de tudo que merece louvor e comentários de apreciação. A propaganda aumentou com os meios de comunicação em massa. Todo produto que o consumidor deve adquirir para dar lucro ao produtor tem a boa fama do propagandista. Com certeza, Paulo rejeitaria a valorização deliberada só para aumentar as vendas. A orientação é para que deixemos penetrar em nossa meditação o que merece bons comentários e que tem valor real intrínseco. O erro dos gnósticos libertinos que se gloriavam na “infâmia” (Fp 3.19) foi justamente o de não cogitar os valores eternos: “só pensam nas coisas terrenas”. Os pensamentos filtrados pela peneira do Espírito levam a mente a cogitar o que tem boa fama e que vem “dele, e por meio dele, e para ele” (Rm 11.36). A criação vem de Deus, e podemos valorizá-la, desde que não esqueçamos a natureza transitória da presente era contaminada pelo pecado e aguardemos esperançosos o novo mundo vindouro (Fp 3.20).


Para completar a lista das qualificações do pensamento cristão, Paulo acrescenta duas restrições. Primeiro, deve haver louvor surgindo da atividade cerebral. Como água fervendo cria vapor naturalmente, nossos pensamentos devem produzir louvor da nossa parte e dos que compartilham do nosso modo de encarar a realidade. Segundo, deve-se limitar o pensamento pela virtude que reside nele. Aretê (predileto na ética helenista) significava para os gregos toda atividade excelente, valiosa, benéfica para a sociedade (2Pe 1.5). Lighfoot achou que Paulo apontava para qualquer valor que ainda por acaso residisse no conceito pagão de virtude. O amor que une uma família seria um bom valor que não deve ser renunciado simplesmente porque é reconhecido como virtude na ética dos antigos. Assim, o cristão não deve deixar a mente acumular pensamentos inconvenientes, e de forma descontrolada. O Espírito Santo veio nos habitar (Jo 14.17) para produzir o fruto do domínio próprio (Gl 5.23), que começa no coração, filtrando os pensamentos.

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