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Foto do escritorChristian Lo Iacono

A Missão dos Pais | Parte I

Filhos, obedeçam a seus pais no Senhor, pois isto é justo.

"Honre o seu pai e a sua mãe", que é o primeiro mandamento com promessa,

"para que tudo corra bem com você, e você tenha uma longa vida sobre a terra".

E vocês, pais, não provoquem os seus filhos à ira, mas tratem de criá-los na disciplina e na admoestação do Senhor.



Se em seu trabalho profissional, em seu lazer ou mesmo em seu ministério (ex. pastor) você busca identidade, sentido e propósito, motivação para levantar-se todas as manhãs e paz interior, na verdade você está esperando que trabalho, lazer ou qualquer outra coisa que não seja Cristo seja o seu próprio messias pessoal e, ao fazer isso, será muito difícil dizer não a essas atividades e, como consequência dessa dificuldade em delimitar limites a elas, você ficará inclinado a negligenciar os compromissos básicos de tempo e de relacionamento, tanto com relação à sua própria nutrição espiritual como com relação à sua esposa, filhos e o próximo.


A Bíblia deixa muito claro que Deus não é insensível, insensato, infiel e cruel a ponto de nos chamar para cumprir um mandamento que exija o descumprimento de outro. Seus mandamentos não são exigências concorrentes que se originam em sistemas de valor competitivos. Eles formam uma trama única de fios que, tecidos em conjunto, definem o que significa viver de uma forma que seja boa, reta, bela e agradável a ele. Portanto, se o zelo pelo trabalho, ministério ou lazer me leva a ser menos do que fiel ao meu chamado como esposo, pai ou mãe, na maneira como administro meu tempo e minha energia, estou buscando obter algo de meu ministério ou trabalho que eles não deveriam ter. Assim, o trabalho e o lazer, ou qualquer outra coisa, não podem ser “concorrentes” da educação cristã de um filho.


E segundo o que Paulo escreveu aos efésios, sua igreja não foi escolhida para substituí-lo na criação dos filhos, mas para ajudá-lo e capacitá-lo para essa obra essencial. O governo jamais foi designado para substituí-lo, mas para protegê-lo enquanto executa esse trabalho fundamental. A escola próxima jamais o substituirá (cuidado!); seu papel, quando muito, é oferecer-lhe apoio enquanto você realiza a obra que só você pode realizar. A principal razão pela qual Deus coloca os pais na vida dos filhos é para que eles o conheçam. Porém, filhos que não reconhecem a Deus agirão como se eles mesmos fossem deus e resistirão ao socorro e ao resgate que ele lhes oferece por meio de seus pais. Nesse caso, se tudo o que você ofereceu aos seus filhos foi uma educação baseada nas ameaças e no medo, quando eles saírem de casa não terão mais nada que os motive a fazer o que é certo. Terá você cumprido bem a sua missão?


Ora, nossa notória incapacidade como pais, porém, não representa o fracasso de nossa missão como pais, porque Deus vai ao encontro daqueles que humildemente admitem sua fraqueza e correm a ele em busca de ajuda. Entretanto, o juízo que fazemos da capacidade de criar filhos pode ser exatamente a razão pela qual nos vemos em conflito com filhos que, aparentemente, nunca estão à altura de nossas expectativas. “Pais ‘capazes’ parecem se perturbar quando os filhos demonstram repetidas vezes que, na realidade, precisam do cuidado dos pais! Se você cruza o corredor cheio de ira porque seus filhos precisam de correção mais uma vez, está irado porque, naquele momento, eles precisam do que todo ser humano carece constantemente: o cuidado paterno. Por outro lado, se você cruza aquele corredor confessando a sua própria necessidade do cuidado do Pai, é mais provável que perceba essa mesma necessidade em seus filhos e seja afetuoso ao supri-la.” (Paul Tripp).


Meus irmãos, Deus nunca nos chama para uma tarefa sem nos dar o que precisamos para realizá-la. A graça de Deus torna o nosso coração mais afável para a tarefa de educar filhos. Os pensamentos, palavras e ações relacionados aos nossos filhos são movidos por um coração amoroso? Se os seus filhos pudessem descrevê-lo precisamente, afeto seria um dos termos que usariam? Sua missão como pai, ou mãe, o impele mais à mansidão paciente ou à aspereza impaciente? Lembre-se, suas palavras e ações são sempre um reflexo nítido da verdadeira condição do seu coração. “O que você fala e faz sempre revelam mais a seu respeito do que qualquer pessoa com quem você fale” (Paul Tripp).


Sem perceber, milhares e milhares de pais cristãos bem-intencionados estão esperando que o uso da lei realize na vida de seus filhos o que somente a poderosa graça de Deus pode realizar. Uma verdade precisa ser considerada e deve moldar todas as suas ações como pai ou mãe: se as leis e as regras tivessem o poder de mudar o coração e a vida de seu filho, resgatando-o de si mesmo e concedendo-lhe um coração de submissão e fé, a vinda de Jesus jamais seria necessária! Veja bem, aquilo a que você atribui o poder da mudança moldará a maneira como você lida com seus filhos em todos aqueles momentos corriqueiros e não tão corriqueiros que acabam por formar quem eles serão quando deixarem a sua casa.


A lei de Deus, contudo, é boa para nossos filhos: ela lhes concede a graça do convencimento. Sem o padrão da lei de Deus, nossos filhos não saberiam que são pecadores, carentes de proteção, sabedoria, perdão e salvação. Você sabe como funciona: somente quando aplicamos o padrão de medida a uma tábua é que percebemos se a cortamos curta demais. Um dos aspectos mais perigosos na vida de seu filho é sua cegueira à profundidade de sua própria necessidade espiritual. Um filho que não vê a si mesmo com nitidez resistirá à sabedoria, orientação, disciplina e correção de seus pais. Por quê? Porque ele acredita não precisar dessas coisas. A lei é muito eficaz em expor não apenas a nossa atitude, mas também o nosso coração. A lei de Deus é o sistema de medidas definitivo para o homem e, por essa razão, é bom que seus filhos sejam regularmente expostos a ela e por ela.


O problema é quando reduzimos a função dos pais a de um legislador fiel, uma autoridade policial, um advogado de acusação, um juiz, um carcereiro. É isto que todos os pais e mães precisam compreender: a lei cumpre bem sua função de expor o pecado de seu filho, mas não tem qualquer poder de libertá-lo desse pecado. A lei não é capaz de resgatar seu filho do poder das garras do pecado. A lei não é capaz de dar a seu filho um novo coração. A lei não é capaz de criar nos filhos a mudança duradoura que todo pai e toda mãe desejam. A lei não pode salvar, redimir e restaurar seu filho, e isso é exatamente o que todo filho precisa. Portanto, se você deseja ser um instrumento de mudança usado pelas mãos de Deus na vida de seus filhos, vai precisar de algo além da lei de Deus em sua caixa de ferramentas.


Como pais, além de termos a tendência de colocar a nossa esperança para nossos filhos na lei, também somos inclinados a substituir a perfeita lei de Deus por uma infeliz segunda melhor opção humana. De alguma forma, a lei de Deus é substituída por nossa lei - uma lei que é tristemente movida por nossa ânsia por afirmação, controle, paz, sucesso e reputação. Assim, fazemos exigências egoístas, impacientes e iradas a nossos filhos, tratando-os como servos que aqui estão para aliviar a carga de nossas tarefas diárias e tornar nossa vida mais confortável. O fato é que nossos filhos não foram criados e entregues aos nossos cuidados por nossa causa, mas para a glória de Deus e para o seu próprio bem!


Na realidade, nos iramos com nossos filhos não por sua desobediência à lei de Deus, mas pela obstrução que representam à nossa lei (algo que desejamos). Pense em quão pouco de sua ira como pai ou mãe nos últimos meses teve qualquer relação com a lei de Deus. Não é apenas o uso somente de lei que nos impede de realizar tudo o que deveríamos como representantes de Deus na vida de nossos filhos, mas a substituição da lei por nossa própria lei. O perigo aqui é que tudo pode se resumir à minha pessoa. A lei das minhas expectativas egocêntricas em relação aos meus filhos. A lei da minha aclamação, do meu bem-estar e da minha valorização. Posso afirmar que grande parte do que move nossas reações aos nossos filhos seja um conjunto de leis não declaradas que se referem mais ao que desejamos para nós mesmos e para nossa vida do que àquilo que Deus deseja para nossos filhos e o que espera deles. Em submissão à nossa própria lei acabamos desobedecendo a lei de Deus quando interagimos com nossos filhos. Somos, portanto, exatamente como eles: pessoas que precisam ser resgatadas de si mesmas.


Como pais, perdemos a direção, queremos tudo à nossa maneira. Nos esquecemos do plano de Deus e seguimos nosso próprio roteiro. Se nosso desejo é representar bem o Pai eterno – e educação cristã tem tudo a ver com isso –, precisamos ser cuidados por esse mesmo Pai também. Se desejamos oferecer graça aos nossos filhos, precisamos confessar que nada somos além de filhos, carentes do cuidado diário do Pai. Se desejamos ser pacientes, precisamos confessar que precisamos de paciência. Se desejamos ser perdoadores, precisamos reconhecer nossa necessidade de perdão. Se desejamos perseverar, precisamos admitir humildemente que nossa única esperança é que nosso Pai celestial jamais nos abandonará. E se desejamos ensinar nossos filhos a correrem diariamente para Jesus, devemos também correr para ele todos os dias. Eles enxergam isso? Se desejamos que nossos filhos se entristeçam com o pecado de seu coração e de suas ações, também devemos lamentar o nosso pecado como pais.


Perceba que à medida que estivermos dispostos a confessar que somos mais semelhantes a nossos filhos do que diferentes deles, que também precisamos do cuidado paternal todos os dias, é que seremos pais carentes da graça de um Pai que, muitas e muitas vezes, conduzirá nossos filhos à graça dele.


Se você deseja ser o pai ou a mãe que Deus planejou, e fazer o que ele chamou para você fazer, deve confessar algo essencial. Essa confissão tem o poder de afetar em grande parte a maneira como você age e lida com seus filhos. É vital que você creia e admita que não tem qualquer poder de transformar seu filho ou sua filha. Agora, reflita pela perspectiva do evangelho de Jesus Cristo. Se qualquer ser humano tivesse o poder de produzir mudança duradoura em qualquer outro ser humano, repito, Jesus não precisaria ter vindo! A encarnação, vida, morte e ressurreição de Jesus colocam-se como evidência histórica de que não existe poder humano para a transformação. A razão pela qual Deus chegou ao elaborado extremo de controlar os eventos da História a fim de que, no momento certo, seu Filho viesse e fizesse por nós o que nós mesmos não poderíamos fazer é porque não havia outra forma.


Assim, ser pai ou mãe não é exercitar o poder de transformação em seus filhos. Ser pai ou mãe envolve fidelidade submissa ao desejo de participar da obra transformadora de Deus pelo bem de seus filhos. Pais, eis aqui o que vocês precisam entender: Deus lhes deu autoridade para a obra da mudança, mas não lhes concedeu o poder de fazê-la acontecer. No entanto, abraçamos a ilusão de imaginar muitas e muitas vezes que o poder é nosso. Acreditamos que se falarmos só um pouquinho mais alto, ou mais de perto, ou se tornarmos a ameaça ligeiramente mais assustadora, ou o castigo um tanto mais severo, nossos filhos mudarão. E como a mudança não acontece, temos a tendência de buscá-la com mais empenho. (Isso não quer dizer que a autoridade dos pais não tem importância. Veremos ela na próxima semana.)


Nos acostumamos a pensar que por meio da ameaça ou da promessa de recompensa podemos produzir nos filhos uma mudança momentânea! Isso pode temporariamente comprá-lo ou assustá-lo. Pode exercer controle temporário sobre o comportamento de um filho ou uma filha, mas o que precisa ser transformado para que essa mudança perdure e frutifique é algo que está dentro deles. O comportamento dos filhos é um indício do que acontece dentro deles. A mudança interior sempre precede uma mudança exterior duradoura. Como pais, vocês lidam com algo muito mais profundo do que a necessidade de mudança de comportamento. Estamos sempre lidando com a necessidade de mudança no coração e não temos poder algum para mudar o coração de outra pessoa.


A questão é esta: se como pai ou mãe você acredita ter um poder que na realidade não tem, você fará o que não deve fazer e deixará de fazer o que é vital. Enquanto você crer que sua tarefa é mudar seu filho e que lhe foi dado o poder para fazê-lo, sua postura como pai ou mãe será exigente, agressiva, ameaçadora e focada somente em regras e castigos. Com esse tipo de atitude, você estará “trabalhando para mudar seus filhos” em vez de trabalhar para ajudá-los a enxergar e buscar a mudança por si mesmos. Nesse tipo de postura, o foco está em você e em seus filhos, não na capacidade de ser um agente daquilo que somente Deus pode realizar. Sua esperança é exercer o poder certo, na hora certa e da maneira certa, e a mudança em seus filhos será o resultado. Esse processo é totalmente diferente de trabalhar como um instrumento nas mãos de um Deus de graça gloriosa e transformadora, o único que pode ser a esperança tanto sua quanto de seus filhos.


Isso significa que você e eu, no exercício da nossa missão como pais, temos de estar dispostos a descartar hábitos antigos, fundamentados na força humana. Precisamos parar com as vozes elevadas, as ameaças crescentes, o xingamento sutil, as palavras de condenação, a mensagem de que somos mais justos do que eles, o silêncio acusador e a recusa de afeto quando eles nos aborrecem. Seus filhos, sem dúvida, precisam que você exerça autoridade, mas não como quem produz mudança. Eles precisam que você exerça autoridade como o representante do autor de toda mudança duradoura. Isso significa desistir de tentar exercer qualquer poder ao seu alcance com o intuito de promover mudança em seus filhos e começar a pensar como um representante. Representar o Deus que nos concede graça para mudar significa buscar oportunidades no dia a dia para expressar essa graça, ajudando nossos filhos a perceberem quanto precisam dela e servindo de exemplo dessa graça em nossa forma de agir e falar com nossos filhos.


Caso você esteja se perguntando, não se trata de renunciar à sua autoridade como pai ou mãe. Não é deixar seus filhos fazerem o que desejam. Não me refiro a pais que não aplicam correção ou disciplina. Não se trata de ignorar os atos maus de seus filhos ou chamar de certo o que é errado. Refiro-me ao exercício da autoridade paterna ou materna que se submete ao poder essencial da graça transformadora. Esse tipo de autoridade renuncia à esperança na capacidade humana e, de boa vontade, deposita sua esperança no tremendo poder de Deus. Somente o poder de Deus é a esperança de todo pai, de toda mãe e de todo filho ou filha, quer tenham ciência disso, ou não. Você não se levanta todas as manhãs e coloca novamente sobre si o fardo da transformação de seus filhos; ao acordar pela manhã, você entrega todas as palavras e ações do dia ao Deus da mudança que o enviou como seu representante.


Mudar é aprender o que é certo, reconhecer que é certo, confessar o próprio erro, comprometer-se com uma nova forma de viver e buscar a ajuda necessária para fazê-lo. Nada disso ocorre quando sucumbimos à tentação de optar pelo controle em ver de nos dedicarmos à difícil, exaustiva e muitas vezes desanimadora tarefa de servir de instrumentos da mudança nas mãos do Único que pode produzi-la. É tentador para todo pai ou mãe, num daqueles momentos difíceis de um dia qualquer, optar pelo controle momentâneo dos filhos em detrimento da mudança a longo prazo e utilizar qualquer ferramenta que esteja ao seu alcance para conseguir que seu filho ou sua filha faça o que eles desejam, como a recompensa. A vergonha e a culpa são outras ferramentas poderosas, pois é natural que nossos filhos busquem nossa aceitação e apreciação. É natural que desejem ser motivo de alegria e orgulho. Toda criança deseja ser amada. A culpa e a vergonha são ferramentas de controle com eficácia apenas temporária.


Sim, "eficácia temporária". Como acontece com todas as ferramentas de controle de filhos, a culpa e a vergonha têm um resultado positivo de curto prazo e deixam um legado negativo no longo prazo. Em algum momento, todo filho desiste de ser movido pela culpa e começa a se cansar de ser depreciado. Em algum momento, os filhos começam a perceber a dinâmica de seu relacionamento com os pais. Em algum momento, muito embora não consigam verbalizá-lo, os filhos começam a distinguir entre controle e amor paciente. Começam a perceber a diferença entre usar estratégias conhecidas para levá-los a fazer algo e ser um instrumento de Deus em amor para ajudá-los a ser algo. Em algum momento, eles começam a se distanciar, com o objetivo de proteger a si mesmos da culpa e da vergonha que parecem surgir com frequência quando você está por perto. É evidente que eles não estão isentos do pecado da rebelião.


A falta de comunicação, de proximidade e de afeto que existe entre pais e seus filhos mais velhos costuma ser um triste legado dos métodos que usamos na tentativa de controlar nossos filhos. Nosso Pai celestial nunca se contenta em apenas nos controlar. Controle não é problema para ele, afinal, ele é soberano. Pela graça, contudo, ele desejou mais para nós. Elaborou um plano cujo resultado seria nosso perdão e completa transformação. Em Jesus, ele criou um meio pelo qual poderíamos enxergar nosso pecado, confessá-lo, receber pleno perdão e ser abençoados com o desejo e a força para mudar. Ele é o Redentor de nossas vidas.


Esta é a boa notícia: podemos admitir nossa impotência como pais e não viver em constante pânico e frustração. Podemos assumir nossa incapacidade e não nos preocupar durante os anos em que cumprimos nossa missão de pais. Por quê? Porque, como pais, servimos a um Redentor gloriosamente amoroso e poderoso. Ele ama nossos filhos infinitamente mais do que nós e, como prova desse amor, colocou-os em uma família da fé onde a história de seu amor será ouvida muitas vezes. Seu poder excede nossa capacidade de compreensão. O mesmo poder inexplicável que usou para ressuscitar Jesus dos mortos ele agora libera para conceder visão, convicção, poder e desejo a nossos filhos desesperadamente carentes. Em sua graça, ele jamais voltará as costas ao seu clamor como pai ou mãe e ao clamor de seus filhos que o buscam. Ele se deleita no amor. Ele se deleita na reconciliação. Ele se deleita no arrependimento e na transformação. Ele se deleita em derramar seu poder sobre seus filhos a fim de realizar neles a sua vontade, mas que eles são incapazes de realizar por si mesmos.



Assista o Sermão completo no Youtube



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