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Foto do escritorChristian Lo Iacono

A sabedoria humana e a loucura divina- Série Coríntios (Parte I)

Certamente a palavra da cruz é loucura para os que se perdem, mas para nós, que somos salvos, ela é poder de Deus.

Pois está escrito: “Destruirei a sabedoria dos sábios e aniquilarei a inteligência dos inteligentes.”

Onde está o sábio? Onde está o escriba? Onde está o questionador deste mundo? Não é fato que Deus tornou louca a sabedoria deste mundo?

Visto que, na sabedoria de Deus, o mundo não o conheceu por sua própria sabedoria, Deus achou por bem salvar os que creem por meio da loucura da pregação.

Porque os judeus pedem sinais e os gregos buscam sabedoria,

mas nós pregamos o Cristo crucificado, escândalo para os judeus, loucura para os gentios.

Mas, para os que foram chamados, tanto judeus como gregos, Cristo é o poder de Deus e a sabedoria de Deus.

Porque a loucura de Deus é mais sábia do que a sabedoria humana, e a fraqueza de Deus é mais forte do que a força humana.

Irmãos, considerem a vocação de vocês. Não foram chamados muitos sábios segundo a carne, nem muitos poderosos, nem muitos de nobre nascimento.

Pelo contrário, Deus escolheu as coisas loucas do mundo para envergonhar os sábios e escolheu as coisas fracas do mundo para envergonhar as fortes.

E Deus escolheu as coisas humildes do mundo, e as desprezadas, e aquelas que não são, para reduzir a nada as que são,

a fim de que ninguém se glorie na presença de Deus.

Mas vocês são dele, em Cristo Jesus, o qual se tornou para nós, da parte de Deus, sabedoria, justiça, santificação e redenção,

para que, como está escrito, “aquele que se gloria, glorie-se no Senhor”.



O evangelho e um contraste com os valores de Corinto, inclusive os filosóficos. O evangelho não deve ser pregado com uma sabedoria (forma) caracterizada pela retórica, eloquência ou lógica. Ele é a sabedoria divina (conteúdo) em contraste com a sabedoria humana (vv. 20, 25). “Para que a cruz não seja esvaziada de seu poder”. A pregação da cruz é a contradição divina a nossas maneiras humanas de fazer as coisas. Exemplo disso é a divisão da igreja de Corinto, e também a divisão da igreja hoje.


Loucuras de Deus: o evangelho do Messias crucificado (1.18-25), os crentes escolhidos por Deus em Corinto (1.26-31) e a fraqueza de Paulo (2.1-5) têm o objetivo de acabar com o fascínio dos coríntios pela sabedoria humana. É a declaração do fim da autossuficiência humana. O evangelho não é uma “nova sabedoria”.


v. 18. “Palavra” da cruz – oposto à sabedoria de “palavra”. O versículo divide dois grupos: os salvos e os que se perdem. A ênfase não está na resposta humana, mas no evento da cruz.


v. 19. A cruz foi intencional e quis destruir a sabedoria humana! “Está escrito” (Is 29.14) foi suficiente para Paulo. O texto teve cumprimento. Não podemos competir com Deus.


v. 20. Paulo segue o estilo de Isaías (19.12). Onde estão os mestres da sabedoria, judeus e gregos? Sábio – pensadores gregos; escriba – rabinos judeus; debatedor – filósofo. Paulo vai argumentar que todos são “deste mundo”, que já foi julgado e só está esperando chegar o fim. Pela cruz Deus tornou a sabedoria do mundo louca. O mundo não é julgado mediante o raciocínio, mas mediante a afirmação de um ato salvador de Deus! Deus inverteu o sentido da sabedoria humana: ela ficou louca.


v. 21. O cosmos é a ordem humana em condição de caída. Em sua sabedoria, os seres humanos fracassaram em conhecer a Deus. Deixadas à própria sorte, as criaturas não conseguem descobrir o Deus vivo (Rm 1.18-31). O melhor que podem fazer é criar deuses à semelhança de coisas criadas, ou à sua própria semelhança, distorcida pelo pecado. O verdadeiro conhecimento de Deus – não tanto uma percepção adequada do ser e caráter de Deus, mas uma compreensão correta daquilo que Deus está fazendo no mundo – só por Revelação, por meio do Espírito (2.6-16). Deus fez isso na sua sabedoria. Um “Deus” descoberto pela sabedoria humana será tanto uma projeção da queda humana quanto uma fonte de orgulho humano. Os deuses dos “sábios” não são muito graciosos. Eles são deuses apenas de uma elite de “merecedores”. Na sabedoria de Deus isso é diferente.

“Deus achou por bem” que a salvação fosse pelo evangelho. “Loucura” da pregação: por meio de algo louco, a pregação humana? Não, pelo conteúdo mesmo (1.23, 25; 15.14)! Foi Deus quem deu início à salvação para aqueles que Ele chamou (v. 24). Nossa resposta é crer, confiar, não com base na sabedoria, mas pela loucura da pregação.


v. 22. A sabedoria (humana) e a cruz (de Deus) estão em contradição. A coisa louca (cruz) é o lugar em que Deus se agradou de demonstrar o seu poder e a sua graça. Os que se perdem se dividem em 2 grupos: judeus e gregos. Os judeus têm suas expectativas messiânicas: mostra-nos um sinal, pedem a Jesus várias vezes (Mt 12.38-39). De fato, os judeus estavam desanimados. Para eles, Deus iria se manifestar na forma do Êxodo, como o Todo-poderoso, em favor dos judeus. A intenção sutil era que Deus se conformasse às suas ideias; ou seja, como Deus faria sentido para eles? Idolatria! Grande perigo para cada um de nós. O ser humano acaba se colocando como critério, acima de Deus, e julga o próprio Deus. Já os gregos buscavam sabedoria. Heródoto: “todos os gregos eram zelosos de todo tipo de conhecimento”. Eles foram responsáveis, de fato, por grandes avanços, até derrubando os falsos deuses (mitos). Idolatria: conceber a Deus como razão suprema, sempre em nosso favor ou com base no nosso ponto de vista. Essas são as duas idolatrias básicas do nosso mundo caído.


v. 23. “Mas nós”! Deus tem abundância de sinais e sabedoria; mas aqui resolve dar fraqueza e loucura. Cristo crucificado é uma contradição interna, pelo menos da perspectiva humana. Por isso é impossível entendermos tudo sobre Deus! Todos estavam escandalizados diante da cruz. “Escândalo” (scandalon), ou “pedra de tropeço”, tem mais o sentido aqui de “algo que ofende a ponto de despertar a oposição”. Os judeus não crucificavam, mas penduravam para exposição pública os mortos por apedrejamento, especialmente os blasfemadores e os idólatras (Dt 21.23). Daí a ira de Paulo contra Cristo. Como judeus podiam honrá-lo? Escândalo!

“Gentios”: mais abrangente. Para eles a cruz era uma superstição perniciosa, uma insanidade. Hoje esse sentimento parece estranho para nós. Mas à época os coríntios estavam se afastando da cruz para a “sabedoria”. Demorou 1 século aproximadamente até a cruz ser símbolo da fé cristã.


v. 24. A razão porque Deus não atende judeus e gentios: 1) o tema desagradável de um Messias crucificado era a expressão máxima do poder e da sabedoria de Deus; 2) O evangelho é para os chamados. Paulo leva os coríntios a verem as coisas “de cima”, da perspectiva de Deus. Cristo é a sabedoria de Deus porque é o poder de Deus para a salvação do que crê (Rm 1.16).


v. 25. Deus é mais sábio e mais poderoso do que os seres humanos. Na cruz, Ele subjugou seus inimigos, com graça e perdão, privando-os de sua força. Podemos confiar na loucura de Deus, e ser salvos, ou podemos insistir com as nossas pretensões, e perecer. A fraqueza de Deus é mais forte do que a força humana. Não podemos nos salvar. Dependemos totalmente de Jesus!


v. 26. A loucura de Deus: não foi da elite do mundo de então que Deus escolheu o seu povo; mas, na sua maioria, das classes mais baixas. Os coríntios são a prova da loucura divina. Vanglória, por quê? Paulo instruí os coríntios a pensarem sobre quem eles eram quando foram chamados por Deus pelo evangelho. Jr 9.23. Antes da conversão, a maioria dos crentes não fazia parte dos “sábios” e “influentes” de Corinto. Não faz sentido então achar que pela sabedoria ou qualquer ou valor elevado entre eles fosse possível se chegar a Deus, até porque os mesmos eram carentes de tudo isso. A boa notícia é que Deus vê as coisas de forma diferente! Muitos dos coríntios crentes não eram de nobre nascimento. Corinto romana era habitada por libertos que vinham da Itália.


Estudos sociológicos do século 20 demonstram que a característica peculiar do cristianismo primitivo era seu caráter não homogêneo. Os irmãos eram escravos e livres, judeus e gentios, homens e mulheres.


“Não muitos” – alguns, então, eram mais abastados: Crispo, Gaio, Erasto, Estéfanas. Inclusive, em Corinto alguns estavam destratando os menos favorecidos (11.17-22). Ao levar as boas novas aos pobres por meio de Jesus, Deus se colocou ao lado dos menos favorecidos. Deus derruba os falsos padrões deste mundo. O evangelho não pode ser adaptado para atender à classe média ou à classe mais alta.


v. 27-28. A ideia de Paulo não e humilhar os coríntios, mas exaltar a graça de Deus. Deus não está em dívida com o mundo: “tudo o que agrada ao SENHOR, ele o faz” (Sl 135.6). Ele “envergonha” os sábios. Aqui Paulo retoma um tema importante do AT que é a vindicação de Deus sobre os seus inimigos (ou inimigos dos justos), relacionado com os justos juízos de Deus. Ao escolher os coríntios, Deus já desmoralizou seus inimigos. Teve início a vindicação final sobre os inimigos de Deus.

“Desprezados” – indica que a maioria era de classe baixa, de fato. A era presente está “de saída”!


v. 29. Propósito da loucura divina: acabar com toda pretensão de justiça própria dos seres humanos perante Deus. Genialidade, realizações, dinheiro, prestígio não podem nos erguer acima do chão da cruz. Ou confiamos totalmente em Deus para a nossa salvação, ou nada! “Vangloriar-se” tem o sentido de confiar em si.


v. 30-31. Devemos nossa existência à obra de Deus em Cristo (v. 30). O texto não faz uma declaração cristológica, como se Cristo aqui fosse a fonte da sabedoria, como dava a entender a KJV. Ou seja, essa sabedoria não depende de uma apropriação subjetiva. “Deus o fez sabedoria em nosso favor” é a tradução mais adequada. Não era uma sabedoria pela qual os coríntios já estavam fascinados. São usadas 3 metáforas diferentes para o mesmo acontecimento: sentido forense, religioso e libertário (escravidão). A sabedoria de Deus é diferente da dos coríntios. Tem a ver com Cristo, para a glória de Deus!

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