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Foto do escritorChristian Lo Iacono

Coparticipantes dos sofrimentos de Cristo

Por isso não desanimamos. Pelo contrário, mesmo que o nosso ser exterior se desgaste, o nosso ser interior se renova dia a dia. Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós um eterno peso de glória, acima de toda comparação, na medida em que não olhamos para as coisas que se veem, mas para as que não se veem. Porque as coisas que se veem são temporais, mas as que não se veem são eternas. 2 Coríntios 4:16-18


A morte (decapitação) de João Batista por Herodes Antipas, “a pedido” de Salomé (12/14 anos), filha de Herodias, após uma “dança” realizada no dia do aniversário de Herodes (Mt 14.1-12). Parece haver algum sentido nesse sofrimento?


v. 16 Por isso não desanimamos. Pelo contrário, mesmo que o nosso ser exterior se desgaste, o nosso ser interior se renova dia a dia. Apesar das muitas lutas que Paulo tem que enfrentar em sua vida e ministério, é a ressurreição de Cristo que o motiva (v. 14), e também o poder de Deus (v. 7), condições que levam Paulo a glorificar a Deus (v. 15).


“Por isso não desanimamos” não são palavras vazias; Paulo sabia o que estava falando (2Co 1.8-11). Ele foi açoitado com varas, foi jogado na prisão e teve as pernas presas num tronco, e mesmo assim estava orando e cantando a Deus (At 16.22-25). Em outra ocasião, quando uma tempestade fez todos desistirem, Paulo disse que fossem corajosos (At 27.20-26). Aqui, mais uma vez ele diz: “não desanimamos” (v. 1: em vista da grandeza do ministério recebido!).


Embora o “ser exterior” de Paulo se apresente enfraquecido pelos sofrimentos, seu “ser interior” está renovado, forte e animado. Paulo não está, aqui, sustentando a ideia de uma alma imortal (Platão), porque ele cria no ser humano como uma unidade integrada (Gênesis 2.7). Os judeus sempre consideraram “corpo” e “alma” como um ser só, e mesmo quando usaram os termos separadamente, geralmente queriam se referir à totalidade da pessoa. Nesse sentido, a separação entre “corpo” e “alma” pela morte não é coisa natural.


“Exterior” e “interior” são expressões que têm um sentido mais profundo de “velho eu” ou “velha natureza” (Ef 4.22) e “novo eu” ou “nova natureza” (Cl 3.10) (embora na NTLH o versículo 16 use os termos “corpo” e “espírito”). O ser “exterior” está exposto a tentações, perigos e degeneração, mas o ser “interior” é renovado pela comunhão com Cristo e o Espírito. A conversão de Paulo na estrada para Damasco marcou o início do seu “novo eu” (Rm 6.6: “a nossa velha natureza foi crucificada com ele, para que o corpo do pecado seja destruído, e não sejamos mais escravos do pecado”; Rm 7.22: “segundo o homem interior, tenho prazer na lei de Deus”; Ef 3.16: “conceda a vocês que sejam fortalecidos com poder, mediante o seu Espírito, no íntimo de cada um”). Paulo foi fortalecido para os seus desafios por meio do seu “interior”, cheio de Cristo. Essa transformação na vida do crente é progressiva:


Ef 4.22-24: “22 Quando à maneira antiga de viver, vocês foram instruídos a deixar de lado a velha natureza, que se corrompe segundo desejos enganosos, 23 a se deixar renovar no espírito do entendimento de vocês, 24 e a se revestir da nova natureza, criada segundo Deus, em justiça e retidão procedentes da verdade”.

Cl 3.9-19: “9 Não mintam uns aos outros, uma vez que vocês se despiram da velha natureza com as suas práticas 10 e se revestiram na nova natureza que se renova para o pleno conhecimento, segundo a imagem daquele que a criou”.


v. 17 Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós um eterno peso de glória, acima de toda comparação. Paulo não menospreza suas dificuldades, até porque ele lista algumas vezes seus sofrimentos: 1Co 4.11-13; 2Co 1.8-10; 4.8-9; 6.4-10;11.23-27; 12.10. Ele está pensando em todos nós, cristãos. Sob a perspectiva celeste é que o sofrer, terreno, é momentâneo (1Pe 1.6: “Nisso vocês exultam, embora, no presente, por breve tempo, se necessário, sejam contristados por várias provações, para que, uma vez confirmado o valor da fé que vocês têm, muito mais preciosa do que o ouro perecível, mesmo apurado pelo fogo, resulte em louvor, glória e honra na revelação de Jesus Cristo”; 1Pe 5.10: “E o Deus de toda a graça, que em Cristo os chamou à sua eterna glória, depois de vocês terem sofrido por um pouco, ele mesmo irá aperfeiçoar, firmar, fortificar e fundamentar vocês”). Ora, o apedrejamento em Listra foi insignificante (At 14.19)? Claro que não! Mas a questão é relacionar o temporário com o eterno; o insignificante com o significativo; a aflição com a glória!


Não podemos dizer que a aflição em si mereça a glória, porque, nesse caso, cada um buscaria a tribulação. Mas é Deus quem permite a aflição do crente, e por meio dela Deus produz eterna glória para ele (Rm 8.17: “somos... coerdeiros com Cristo, se com ele sofremos, para que também com ele sejamos glorificados”). Paulo fortalecia o ânimo dos discípulos “exortando-os a permanecerem firmes na fé e mostrando que, através de muitas tribulações, nos importa entrar no Reino de Deus” (At 14.22). Kabod (hebraico) significa tanto “peso” como glória” (Gn 18.20; Jó 6.3). Baros (grego) significa “peso” ou “plenitude” (Bauer). Ou seja, uma glória tão grande que é imensurável (Rm 8.18: “os sofrimentos do tempo presente não podem ser comparados com a glória a ser reveladas em nós”; 2Co 3.7-11; 1Pe 4.13: “alegrem-se na medida em que são coparticipantes dos sofrimentos de Cristo, para que também, na revelação de sua glória, vocês se alegrem, exultando”).


v. 18 na medida em que não olhamos para as coisas que se veem, mas para as que não se veem. Porque as coisas que se veem são temporais, mas as que não se veem são eternas. Tudo depende do nosso foco e coração. É preciso olhar para o céu (Cl 3.1-2: “Portanto, se vocês foram ressuscitados juntamente com Cristo, busquem as coisas lá do alto, onde Cristo vive, assentado à direita de Deus. Pensem nas coisas lá do alto, e não nas que são aqui da terra”). Paulo não diferencia o material do espiritual, mas o terreno do celestial, e o que é temporal do que é eterno (Rm 8.24-25: “Porque na esperança fomos salvos. Ora, esperança que se vê não é esperança. Pois quem espera o que está vendo? Mas, se esperamos o que não vemos, com paciência o aguardamos”). As coisas invisíveis são aquelas de que nos apropriamos pela fé em Deus (Hb 11.13: “Todos estes morreram na fé. Não obtiveram as promessas, mas viram-nas de longe e se alegraram com elas, confessando que eram estrangeiros e peregrinos na terra”; Hb 12.2-3: “olhando firmemente para o Autor e Consumador da fé, Jesus, o qual, em troca da alegria que lhe estava proposta, suportou a cruz, sem se importar com a vergonha, e agora está sentado à direita do trono de Deus. Portanto, pensem naquele que suportou tamanha oposição dos pecadores contra si mesmo, para que vocês não se cansem nem desanimem”; Fp 3.20-21: “Pois a nossa pátria está nos céus, de onde também aguardamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo, o qual transformará o nosso corpo de humilhação, para ser igual ao corpo da sua glória, segundo a eficácia do poder que ele tem até de subordinar a si todas as coisas”).



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