Filhos, obedeçam a seus pais no Senhor, pois isto é justo.
"Honre o seu pai e a sua mãe", que é o primeiro mandamento com promessa,
"para que tudo corra bem com você, e você tenha uma longa vida sobre a terra".
E vocês, pais, não provoquem os seus filhos à ira, mas tratem de criá-los na disciplina e na admoestação do Senhor.
Como pais, além de termos a tendência de colocar a nossa esperança em relação a nossos filhos na lei, também somos inclinados a substituir a perfeita lei de Deus por “nossa lei” – uma lei que é movida por nossa ânsia por afirmação, controle, paz, sucesso e reputação. O fato é que nossos filhos não foram criados e entregues aos nossos cuidados por nossa causa, mas para a glória de Deus e para o seu próprio bem! Acabamos concluindo, portanto, que somos exatamente como nossos filhos: pessoas que precisam ser resgatadas de si mesmas!
Se desejamos oferecer a graça de Cristo aos nossos filhos, precisamos confessar que nada somos além de filhos, carentes do cuidado gracioso e diário do Pai. Se qualquer ser humano tivesse o poder de produzir mudança duradoura em qualquer outro ser humano, Jesus não precisaria ter morrido na cruz! Assim, ser pai ou mãe envolve fidelidade submissa ao desejo de participar da obra transformadora de Deus pelo bem de seus filhos.
Ao mesmo tempo, ser pai e mãe não é renunciar à sua autoridade. Não é deixar seus filhos fazerem o que desejam. Não é deixar de aplicar correção ou disciplina. Não se trata de ignorar os atos maus de seus filhos ou chamar de certo o que é errado. Mas é confiar que a mudança verdadeira ocorre pelo poder do evangelho de Cristo, do qual somos chamados a ser instrumentos.
Se você não estiver descansando na identidade que Deus lhe deu em Cristo, olhará buscando encontrar a si próprio e sua razão de viver em algum elemento da criação. Podem ser seus bens, suas realizações, sua carreira, seu cônjuge, e também seus filhos. O problema é que os elementos da criação nunca foram projetados para suprir sua identidade. Eles nunca foram projetados com o intuito de satisfazer seu coração e lhe trazer paz. Eles não foram criados para lhe dar sentido e propósito. Todo elemento positivo da criação tem como objetivo conduzi-lo ao único que pode lhe conceder a identidade, a paz e o sentido que seu coração anseia: Cristo!
Vejamos o que Pedro escreveu: “Pelo poder de Deus nos foram concedidas todas as coisas que conduzem à vida e à piedade, pelo pleno conhecimento daquele que nos chamou para a sua própria glória e virtude. Por meio delas, ele nos concedeu as suas preciosas e mui grandes promessas, para que por elas vocês se tornem coparticipantes da natureza divina, tendo escapado da corrupção das paixões que há no mundo” (2Pe 1.3-4).
Buscar por identidade em uma criação destruída e disfuncional nunca dá certo. O resultado é sempre mais controle, frustração, medo, ansiedade e compulsão (2Pe 1.8-9). Pedro afirma que você pode ser cristão e ter uma vida "inativa ou infrutífera” quando se esquece de quem é e do que lhe foi concedido. Infelizmente, creio que essas palavras descrevem muitos pais. Eles esperam encontrar em seus filhos o que já receberam em Cristo, e não percebem que agem dessa forma. Sua ansiedade e compulsão como pais é fruto de esquecimento de sua verdadeira identidade. Amnésia de identidade sempre leva à substituição de identidade. O significado disso para um pai ou uma mãe é que, se você não encontra sua identidade em Deus e na obra de seu Filho, provavelmente tentará encontrá-la em seus filhos. Essa é a razão do adoecimento emocional de muitos pais quando seus filhos se casam. Como esses filhos sempre deram sentido à vida desses pais, a ausência súbita dos filhos com o casamento é catastrófica: um sentimento de vazio.
Quando esperamos que nossos filhos nos deem o que já temos em Cristo, acabamos conduzindo-os “ao sucesso” porque precisamos disso para que nos sintamos bem a respeito de nós mesmos e tenhamos uma razão para sair da cama de manhã. Quando você se preocupa excessivamente com a própria imagem, geralmente evita buscar a ajuda que necessita em sua dificuldade, pois isso significaria admitir que não está se saindo muito bem. Nunca funciona tratar como troféu um filho que ainda está fragilizado e precisa ser diariamente resgatado pela graça.
Meus irmãos, Deus deteve todas as forças do mundo natural e direcionou todos os diversos eventos da história do ser humano para que seu Filho viesse e, por meio de sua vida e morte, nos resgatasse de nós mesmos. Deus não tomou essa atitude radical e transformadora a fim de que seus filhos fossem “bem-sucedidos”, mas para que se unissem novamente a ele em um relacionamento de amor e vivessem de forma agradável aos seus olhos. O que você e seus filhos precisam não é de “sucesso”, mas de redenção. Você e seus filhos não precisam da glória da realização pessoal, mas da libertação da servidão a essa autoglória, para que possam desfrutar da liberdade de viver para a glória de outro, Deus.
Além disso, a missão dos pais deve ser vista como um processo. Uma das últimas vezes em que Jesus se dirigiu aos seus discípulos foi para lhes dizer que tinha muito mais a lhes ensinar, mas, naquele momento, eles não poderiam suportar. Por isso, ele prometeu que enviaria outro mestre para concluir a sua obra. O melhor mestre do mundo tinha a visão de processo e por isso estava disposto a deixar sua obra com “pessoas inacabadas” (Jo 16.12-15).
Sendo assim, dia após dia, nós buscamos oportunidades para avançar mais um passo nesse diálogo com nossos filhos, e não interpretamos os momentos de correção como interrupções ou aborrecimentos, mas como presentes da graça concedidos por um Deus que age no coração e na vida deles. Assim, você não deve se irritar com seus filhos porque eles precisam de você, mas deve se alegrar por mais uma oportunidade de dar continuidade ao processo. O nosso compromisso é de muitos minimomentos de mudança.
Porém, por não termos essa visão de processo, tendemos a ver esses momentos com os filhos como interrupções e aborrecimentos e, ao agir dessa forma, nos inclinamos a lidar com eles de modo emocional. Para seu filho, essa atitude revela uma estrutura irregular e inconsistente de autoridade. Infelizmente, em vez de desenvolver um senso de dependência e submissão à autoridade colocada por Deus em suas vidas, muitos filhos se tornaram meteorologistas emocionais. Eles começam a perceber que as regras da casa tendem a variar conforme o estado emocional do pai ou da mãe. Visto que há inconsistência no envolvimento e na autoridade dos pais, a submissão dos filhos também será assim.
É importante compreender que todo filho crê em duas mentiras perigosas e destrutivas. O poder dessas mentiras deveria ter importância muito maior para você do que um momento frustrante com o comportamento de um de seus filhos. A primeira mentira é a da autonomia. Essa mentira afirma que sou um ser humano totalmente independente e, por ser assim, tenho o direito de conduzir minha vida da forma como escolher. É a convicção de que minha vida pertence a mim mesmo e de que eu deveria poder fazer com ela o que me faz feliz. Parte dessa mentira é a crença de que ninguém deve me dizer o que fazer.
Exemplo: pais que discutem com uma criança de 1 ano de idade sobre o que ela deve comer não estão de fato discutindo sobre comida. Não se trata de alguém com um ponto de vista diferente do seu a respeito de alimentação. Afinal, a criança simplesmente não entende nada de alimentação. Essa briga é por autonomia. É a resistência da criança às regras. Sua atitude se baseia na convicção de que aquela pequenina boca pertence a ela e ninguém lhe dirá o que colocar ali. Essa criança não sabe que nenhum ser humano foi criado para viver de forma independente.
A segunda mentira é igualmente perigosa: é a autossuficiência. Ela diz ao filho que ele tem em si todos os elementos necessários para ser o que deve ser e agir como deve agir. Ele não precisa da sua ajuda, de salvação, de instrução, de sabedoria ou de correção. Logo você terá de lidar com a ilusão da autossuficiência no coração de seu filho. A filha adolescente que começa a discutir quando você tenta transmitir a ela alguma sabedoria está discutindo porque acredita em sua autossuficiência e, por acreditar nela, pensa já ter toda a sabedoria de que necessita.
Ora, ninguém é autônomo ou autossuficiente. Todos precisam de cuidado paterno e materno. Crer em algo diferente disso é estar perigosamente iludido, rumo a problemas. Mas não faz sentido algum ficar irado com alguém que está perdido assim. Não faz sentido algum tomar a questão como uma ofensa pessoal. Não faz qualquer sentido condenar uma pessoa perdida com palavras ou lançar sobre ela um castigo e sair de cena. Pessoas perdidas precisam de compreensão e compaixão.
Pense no depoimento desta mãe: “Tenho um filho de 4 anos que não consigo controlar. Se levanto a voz e digo ‘não’, ele faz um escândalo e só se acalma quando eu lhe dou o que deseja. Sei que está errado, mas todas as manhãs tenho horror em pensar que ele vai acordar e mal posso esperar que vá dormir à noite. É batalha após batalha; nada é fácil ou prazeroso. Agora, se eu sequer insinuo que vou lhe dizer ‘não’, ele bate em mim. Estou no meu limite e não sei o que fazer."
Como não se compadecer dessa mulher? Como não entender como são terríveis essas batalhas com um filho a quem você ama e quer ajudar? Mas avalie a frase dela: "Tenho um filho de 4 anos que não consigo controlar”. Com 4 anos de idade ele já está fora de controle. Com 4 anos de idade ele já sabe como conseguir tudo à sua maneira. Com 4 anos de idade ele já levou sua mãe ao seu limite. Evidentemente, o problema aqui é com a autoridade.
Como pais, não estamos lidando apenas com as palavras e as ações de nossos filhos, mas com aquilo que molda, dirige e controla o comportamento deles: o coração. Não há tema de maior importância para todos os filhos do que a autoridade. Seus filhos devem aprender logo cedo que nasceram em um mundo de autoridade e que essa autoridade não é deles. Por quê? Porque a submissão à autoridade que não seja a minha não faz parte da natureza do pecador. O pecado nos faz desejar tudo à nossa maneira. O pecado nos faz desejar estabelecer nossas próprias regras. O pecado convence a todos nós de que sabemos o que é melhor. O pecado me leva a demonstrar resistência a ordens de outros. O pecado me coloca no centro do meu mundo, lugar onde não devo estar, pois pertence a Deus somente.
Tudo isso significa que os filhos vêm ao mundo como pequenos soberanos coroados por si mesmos. Há uma resistência natural à autoridade em todas as crianças nascidas desde a queda de Adão e Eva. Elas querem viver à sua própria maneira. Mas Paulo escreveu o seguinte: “E ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si mesmos, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou” (2Co 5.15).
Aqueles que estão comprometidos com o autogoverno não se submeterão às regras de outro e, visto que não se submeterão às regras de outro, também não reconhecerão que estão errados nem confessarão seus erros; e sem a confissão de seus erros, não buscarão o perdão de Deus ou a sua ajuda. Pode-se dizer que o desejo pelo autogoverno é o elemento que, sem a graça divina, separa nós e nossos filhos de Deus. Não há questão mais crucial do que essa para toda criança. Rejeitar a autoridade é rejeitar a Deus, que é a autoridade sobre toda a autoridade.
Ef 6.1-4. Conforme Paulo escreve aos efésios, exercer a autoridade de embaixador é realizar a obra do evangelho. É vital que você compreenda que, como pai ou mãe, não possui autoridade autônoma e independente. Não lhe foram dados direitos e poder para exercer autoridade na vida de seus filhos da forma como você desejar. A autoridade que você tem é a de um embaixador. O embaixador não tem qualquer autoridade em si mesmo. Sua autoridade se encontra no fato de representar um rei que detém autoridade. Observe o plano maravilhoso de Deus. Ele torna visível sua autoridade invisível enviando figuras visíveis de autoridade como seus representantes. Isso significa que cada vez que você exercer autoridade na vida de seus filhos ela deve ser um belo retrato da autoridade de Deus. Para seus filhos, você é a expressão do rosto de Deus, você é o toque de sua mão e o tom da sua voz. Nunca exerça autoridade de forma irada e impaciente, ou de uma forma abusiva. Nunca exerça autoridade de uma forma egoísta. Porque você foi colocado na posição de pai para demonstrar diante de seus filhos como a autoridade de Deus é bela, sábia, paciente, formadora, protetora, libertadora e perdoadora.
Isso significa nunca permitir que sua ira diante da desobediência cause controle a ponto de levá-lo a fazer o que não deveria (beliscar, cutucar, chacoalhar, estapear, empurrar seu filho, por exemplo). Significa nunca associar à sua disciplina palavras de repreensão, humilhação ou condenação. (“Não acredito que você seja minha filha!"). Nunca exerça autoridade de forma que pareça um rompimento em seu relacionamento com seu filho.
Porque se você exercer sua autoridade de forma indolente, abusiva ou egoísta, aprofundará e fortalecerá a rebelião natural à autoridade no coração de seus filhos. Deus o chamou para confrontar seus filhos diariamente com a beleza, o propósito e a paciência da autoridade dele. Você quer ser usado por Deus para ajudar seus filhos a crerem que é na submissão à autoridade que estão a vida e a liberdade? Quando isso ocorre, os filhos começam a admitir sua necessidade, a confessar seus erros e a buscar ajuda do Salvador. Pensando em como você exerce sua autoridade, que tipo de imagem seus filhos estão recebendo da autoridade de Deus?
Ajudar seus filhos a entender por que agem da forma como agem é realizar a obra do evangelho. Observe que você é chamado não apenas para "disciplinar", mas também para "admoestar", ou "instruir". Seus filhos não têm ideia do porquê fazem as coisas que fazem. Eles não sabem por que se consideram superiores a você. Não entendem por que se colocam em situações de sofrimento e tensão para lutar por um pouco de independência. Seus filhos não sabem quem são. Eles sofrem diariamente da carência de autocompreensão espiritual. Mas sempre que você, como embaixador, associa a disciplina à admoestação, oferece ao Espírito de Deus mais uma oportunidade de operar no coração de seus filhos o convencimento.
Estabelecer a autoridade nas pequenas coisas logo de início é realizar a obra do evangelho. Trave logo cedo suas batalhas por autoridade. Enfrente-as enquanto as questões forem insignificantes. Capitalize as pequenas oportunidades que Deus lhe dará enquanto seus filhos ainda têm pouca idade. Você quer travar batalhas por autoridade com um jovem de 17 anos de idade? Não diga a si mesmo que esses pequenos momentos de resistência à sua autoridade (o que comer, o que vestir, a hora de dormir, o que assistir, as tarefas etc.) são pouco significativos porque em si não têm muita importância. Esses pequenos momentos são importantes, porque a resistência não é resultado do que seus filhos acreditam a respeito da alimentação ou do sono, mas de corações que resistem à autoridade, exceto a deles próprios.
Pais, se seus olhos veem ou seus ouvidos ouvem o pecado e a fraqueza de seus filhos, isso nunca é obra do acaso, nunca é um aborrecimento, nunca é uma interrupção, é sempre graça. Você é confrontado com a resistência de seus filhos porque Deus é um Deus de maravilhosa graça. Sua graça tem o poder de transformar momentos maus em momentos muito bons. Não é esse o propósito da cruz de Jesus Cristo? A cruz é o pior acontecimento possível transformado pelo plano de Deus no melhor que já aconteceu.
Esteja ciente também que seus filhos não sabem como é a verdadeira obediência. É sua função esclarecê-los. Obediência é a submissão do coração, voluntariamente, às autoridades que Deus colocou em minha vida. O que essa submissão voluntária produz? Ela me motiva a encontrar alegria no cumprimento do que as autoridades colocadas por Deus na minha vida solicitam de mim. Se você pedir à sua filha pequena que vá até o quarto e recolha os brinquedos espalhados e ela gritar com você enquanto se dirige ao quarto, é muito importante que você não a deixe pensar que ela está obedecendo. Pois embora o corpo dela esteja em movimento rumo ao quarto, seu coração está enfurecido, cheio de ira e rebelião. Sendo assim, você precisa chamar sua filha, mas não para lhe dizer: "Nunca mais se atreva a falar comigo dessa forma. Quem você pensa que é? Compare o seu tamanho ao meu. Você nem imagina o que vai lhe acontecer se falar comigo dessa forma outra vez!" Esse tipo de reação endurece o coração contra a autoridade, quando o que você deseja é ser usado por Deus para amolecê-lo.
Ao contrário, você pode orar brevemente pedindo paciência e graça, e então pedir carinhosamente a ela que volte: “Filha, temos um problema aqui. A mamãe não foi indelicada com você. A mamãe não pediu que você fizesse algo ruim. A mamãe não lhe xingou, mas você está gritando. Quando você grita com a mamãe, está tentando ser a mãe da mamãe, e esse não é o seu lugar." Ora, será que a filha cairá de joelhos imediatamente e dirá: "Agora entendi. Sou uma pessoa egoísta, rebelde contra a autoridade. Mamãe, preciso ser salva do perigo que represento para mim mesma!”? Talvez não, mas você deu mais um passo nessa direção.
Exercer autoridade coerente é realizar a obra do evangelho. O exercício do amor de Deus nunca obstrui o exercício da autoridade de Deus. A concessão da graça de Deus nunca compromete o exercício da autoridade de Deus. O cumprimento do plano soberano de Deus jamais é interrompido pelo exercício de sua autoridade. Confessar que você tem mais semelhanças com seus filhos do que diferenças no que se refere à autoridade é realizar a obra do evangelho. Por que nos iramos quando exercemos autoridade? Por que uma questão que não nos incomoda certo dia nos faz perder o controle no dia seguinte? Agimos dessa forma porque somos mais semelhantes a nossos filhos do que diferente deles. Não são apenas nossos filhos que têm problemas com autoridade; nós também temos. Assim como nossos filhos, precisamos do cuidado de um Pai amoroso que não nos acoita com a condenação, mas nos aconchega em sua graça.
Assista o Sermão completo no Youtube
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