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Andrei Michel Schwingel

Da lamúria ao louvor

¹⁵ No dia em que foi levantado o tabernáculo, a nuvem cobriu o tabernáculo, a saber, a tenda do testemunho. E, à tarde, estava sobre o tabernáculo uma aparência de fogo até a manhã seguinte.

¹⁶ Assim acontecia sempre: a nuvem o cobria, e, de noite, havia aparência de fogo.

¹⁷ Quando a nuvem se erguia de sobre a tenda, os filhos de Israel se punham em marcha; e, no lugar onde a nuvem parava, aí os filhos de Israel acampavam.

¹⁸ Segundo o mandado do Senhor, os filhos de Israel partiam e, segundo o mandado do Senhor, acampavam; por todo o tempo em que a nuvem pairava sobre o tabernáculo, permaneciam acampados.

¹⁹ Quando a nuvem se detinha muitos dias sobre o tabernáculo, os filhos de Israel cumpriam a ordem do Senhor e não partiam.

²⁰ Às vezes, a nuvem ficava poucos dias sobre o tabernáculo; então, segundo o mandado do Senhor, permaneciam e, segundo a ordem do Senhor, partiam.

²¹ Às vezes, a nuvem ficava desde a tarde até a manhã seguinte; quando, pela manhã, a nuvem se erguia, punham-se em marcha; quer de dia, quer de noite, erguendo-se a nuvem, partiam.

²² Se a nuvem se detinha sobre o tabernáculo por dois dias, ou um mês, ou por mais tempo, enquanto pairava sobre ele, os filhos de Israel permaneciam acampados e não se punham em marcha; mas, quando a nuvem se erguia, eles partiam.

²³ Segundo o mandado do Senhor, acampavam e, segundo o mandado do Senhor, se punham em marcha. Cumpriam o seu dever para com o Senhor, segundo a ordem do Senhor por meio de Moisés.


Números 9:15-23


O tabernáculo era uma tenda que ficava no meio do grande acampamento de todo esse povo que saiu do Egito, indicando que Deus estava no meio deles. Também era ali que Deus falava com Moisés, seu representante no meio do povo.


Agora lembre que esse povo tinha sido escravo por 400 anos, o que quer dizer que todos ali não conheciam outra situação de vida.


Imagine: desde seu nascimento você se encontra no meio de outro povo, sendo forçado a trabalhar para eles. De repente aparecem dois homens, Moisés e Arão, representando o Deus do seu povo, dizendo que Ele vai levar todo o povo a uma terra fértil para viver.


Após diversos eventos sobrenaturais, Deus realmente os livra daquele povo e ainda derrota seu exército que estava os perseguindo. Agora, com uma presença sobrenatural visível, está te guiando pelo deserto.


Números 10.33-36


Imagine você, no seu dia a dia hoje. Acorda de manhã e Deus te dá sinais sobrenaturais sobre o que fazer, para onde ir. Que diferença isso faria na tua vida? E no teu relacionamento com Deus? Guarde esse pensamento e vamos voltar para a história.


Estamos acompanhando Deus, de maneira espetacular, tirando milhares e milhares de pessoas de um país para outro, de uma situação de vida para outra, motivado pela promessa que ele fez aos antepassados daquele povo. Parece bem simples, Deus conduz e o povo vai do ponto A para o ponto B, fim da história.


O que vamos começar a ver agora, porém, é que o meio do caminho entre A e B, foi bastante tumultuado. Ao longo do caminho, quando começaram a surgir dificuldades, sofrimentos,


Números 11.1


O povo se queixou. Daqui em diante, o livro de Números vai mostrar diversas situações de conflitos no meio do povo. Suas queixas vão gerar conflitos contra Deus, contra Moisés, contra Arão e uns contra os outros.


O título da mensagem de hoje é “da lamúria ao louvor” porque o ponto inicial dos conflitos são as queixas do povo. Quero olhar com vocês para o capítulo 11 e tirar lições sobre a lamúria para as nossas vidas.


Nós vamos ler boa parte do capítulo e depois refletir, não tentando nos afastar desse povo, criticando eles à distância, mas vamos aprender sobre nós mesmos com os conflitos que eles tiveram e suas motivações.


Podemos aprender muito sobre nós mesmos olhando para esse povo, porque, como Gordon Wenham escreve em seu comentário sobre Números: “a história se repete pois se baseia em dois fatores imutáveis: o caráter divino e a pecaminosidade humana”.


Números 11.1-20, 31-35


Números 11.1

“O povo se queixou de sua sorte aos ouvidos do Senhor.”

“O povo começou a reclamar de sua situação”

“O povo começou a queixar-se das suas dificuldades”.

“O povo se tornou como aqueles que reclamam e choramingam suas dificuldades”.


Você conhece alguém assim?


Podemos pensar: mas como pode? Eles tinham a presença de Deus visível no meio deles! Deus mostrava quando ficar, quando caminhar, como pode que resolveram reclamar?


Antes eu perguntei que diferença faria na sua vida ter sinais sobrenaturais de Deus no teu dia a dia. Você acorda de manhã, vê um brilho na janela, pensa que é o sol e já é hora de levantar. Abre a janela e vê que na verdade é nuvem da presença de Deus.


Você vai trabalhar, aparece uma nuvem aqui, uma nuvem ali, mostrando o caminho pra cá ou pra lá. Parece legal. Até que de repente a nuvem te guia por uma dificuldade, por um caminho que você não estava querendo passar. Qual tem sido nossa reação diante das dificuldades hoje?


“Ah, mas aquele povo estava vendo a presença de Deus!”. Mas nós cristãos hoje temos o próprio Espírito Santo em nós. Nós lemos esses textos e ficamos admirados, querendo também ver coisas sobrenaturais. Mas o próprio texto mostra que isso não soluciona nosso problema.


O povo via a presença de Deus, mas estava preocupado consigo mesmo. Nós temos o mesmo problema, um coração que não consegue se agradar e se contentar com Deus. Hoje nós queremos ver coisas, mas o texto nos mostra que ver coisas não soluciona o problema do coração.


O que significa que temos um problema no coração?


Significa que nossa capacidade de tomar decisões está corrompida, nossa central de comando está defeituosa, ela sempre se volta para nós mesmos, é egoísta. Quando você era criança e desobedecia, deve ter ouvido seus pais falarem que o que eles falavam “entra num ouvido e sai pelo outro”.


O pecado em nós é pior. Entra no ouvido Jesus dizendo "sem mim vocês não podem fazer nada", mas na prática parece que ouvimos "eu posso", "eu consigo", "eu sou suficiente". Tanto nosso planejamento, como a execução e a avaliação estão corrompidas. Não quer dizer que tudo vai dar errado na vida, mas que nunca vai te aproximar de Deus.


Somos muito parecidos com esse povo. Como eles, nós também nos queixamos, não aprovamos a condução de Deus. Talvez a gente não fique lamuriando, nossa cultura brasileira é mais de fazer piada. “Bom dia, irmão, como vai?”. “Tirando o que está ruim, até que está bom”, respondemos. Fazemos piada, mas no fundo estamos insatisfeitos, gostaríamos que alguma coisa fosse diferente, e ainda não entendemos porque não mudou.


Nós nos entendemos como diretores da nossa vida, como uma empresa. Como diretores, nós sabemos o que precisa acontecer para tudo dar certo. Quando não dão, cobramos de quem não está cumprindo suas tarefas para que tudo corra bem. “O que é que Deus fez agora?”


As dificuldades têm essa capacidade de trazer à tona pecados, mostrar nossas inclinações mais profundas, das quais não queremos abrir mão. A lamúria aparece como sinal externo, reclamando de algo que está na superfície, mas que é apenas a ponta do iceberg, lá no fundo algo está incomodando, alguém está mexendo em algum pecado que nós queríamos fosse mexido.


Quando lemos o versículo 1, não entendemos exatamente qual a queixa do povo. Mas quando Deus fala com Moisés, Ele diz que chegou aos seus ouvidos a queixa de que “a vida era melhor no Egito.”


Quando Deus prepara uma punição ao povo, ele diz que o povo o rejeitou. Temos que entender aqui que voltar ao Egito não é simplesmente um desejo de provar certas comidas de novo. Voltar ao Egito é voltar a outros deuses, é rejeitar Deus.


Quando Deus libertou o povo do Egito, ele fez de uma maneira que demonstrou que seu poder era maior do que o das divindades egípcias. As pragas que Ele enviou no Egito demonstraram seu poder superior ao de alguma divindade egípcia relacionada com a praga.


Também devemos lembrar que Deus prometeu levar o povo para uma terra fértil e que prometeu derrotar todos os inimigos. Isso que tornou todas essas queixas tão graves. Deus estava sendo rejeitado em seu poder, suas promessas e seu cuidado com o povo.


Na superfície está “sem apetite, só tem maná”, mas no fundo está a rejeição a Deus.


Além de rejeitar a Deus, voltar ao Egito representava voltar a ser escravo, e isso não parecia um problema, o que nos mostra que o desejo excessivo, o descontrole por não ter o que se quer, nos cega, atrapalha o pensamento.


Para o povo ter de volta o que queria, já não importava o que perderia. Não importava perder sua liberdade se pudessem ter de volta as comidas. Nós também, somos tão dominados pelo desejo de ter certas coisas que nos tornamos incapazes de calcular o que estaremos perdendo para alcançar nosso desejo.


Isso vale desde pequenos detalhes da nossa vida. Por exemplo, quando perdemos a hora nos divertindo na madrugada sendo que temos um compromisso importante no dia seguinte pela manhã. Vamos dormir tarde porque queremos muito ter aquela experiência, seja um jogo, filme, série, qualquer passatempo, e não raciocinamos que todo o dia seguinte está sendo prejudicado.


Poderemos evitar lamúria dentro de um tempo de dificuldade se conseguirmos entender como uma jornada na qual Deus nos conduz, e que Ele tem um objetivo. Lamentar, querendo sair antes, é como querer optar pelo imediato prazer menor de não ter dificuldade no lugar do crescimento e amadurecimento para o longo prazo.


A lamúria contagia (Números 11.4-6)


Os estrangeiros começaram a reclamar e contaminaram os filhos de Israel que também começaram a reclamar. Essa é uma característica da lamúria, ela contagia.


Alguém inicia o lamento ao nosso redor, logo começamos a dar atenção e razão, e somos capturados. “É verdade, quem nos dará carne?”. O texto mostra que eles não estavam passando fome, não faltava alimento. O que faltava era a variedade que um dia tinham no Egito, era o desejo excessivo pelo que outros estavam tendo naquele momento.


Novamente, a dificuldade trouxe à tona o pecado. A lamúria não era porque Deus não estava suprindo sua alimentação, mas que não estava suprindo do jeito que queriam. Nossa dificuldade não é que Deus não nos conduz, mas que Ele nos conduz por onde não gostamos de andar. Nos conduz por caminhos que trazem à tona nosso pecado.


A lamúria porque não temos o excesso que queremos (Números 11.31-35).


É interessante observar que o maná caía como orvalho. Deus o dava de maneira abundante e o povo tinha apenas de recolher, sem nenhum outro esforço. Quando Deus lhes deu carne, novamente sem esforço, atendendo seus desejos, não houve um agradecimento e retorno à Deus. Ao contrário, o povo se afundou na gula.


Na sua Bíblia deve ter alguma nota de rodapé indicando o significado de Quibrote-Hataavá. Em duas que verifiquei, os significados são “sepulturas do desejo” e “túmulos da gula”. Quer dizer, o povo não queria carne para ficar feliz com quem a desse, mas para satisfazer seus próprios desejos.


Novamente a lamúria escondia um pecado. O problema não era falta do básico. Com o maná, o povo tinha o necessário, a lamúria era um desejo insaciável por algo além do necessário, as carnes do Egito.


Ao nosso redor esse desejo por algo além do necessário é muito comum. Quando namorados querem casar e colocam como requisito ter casa mobiliada, dois carros e ambos com sucesso profissional.


Quando casais querem ter filhos e colocam como requisitos que os dois estejam ganhando o suficiente para pagar escola, babá, nutricionista e tenham em investimentos uma renda passiva suficiente para pagar mensalidade da futura faculdade dos filhos.


Quando procuramos trabalho e queremos que seja o emprego dos sonhos, pague muito bem, todos benefícios, horário flexível, estabilidade e de preferência sem muita exigência.


São caminhos nos quais nós nos colocamos que nos tornam pessoas muito suscetíveis a lamentar qualquer dificuldade da vida.


Deus estava conduzindo o povo para uma terra fértil, uma terra que mana leite e mel, que produz muito bem. Mas no caminho até lá a abundância seria de maná. O desafio para o povo era o contentamento. Se contentar com o que tem agora, entender como condução de Deus, depender dele e saber que na chegada teria a promessa.


Quando não conseguimos entender a condução de Deus, nos tornamos pessoas muito suscetíveis a procurar alívio para qualquer dificuldade da vida.


Quando nossos planos falham, surge raiva, descontrole, gritaria, estresse, descontentamento, todo tipo de maneira de protestar contra a realidade, contra nossas fraquezas, contra nossa incapacidade. Buscando alívio, nos voltamos para todo tipo de vício que nos tira dessa realidade e nos leva para uma onde só existe prazer, ilusão, analgesia.


Pode ser comida, pornografia, jogos, drogas, um novo plano perfeito, agenda, horários (não deu certo, faltou esse detalhe), novas metas de vida mais rígidas, porque você consegue, você é o cara, dá uns gritos no espelho, dá uns tapas na cara, dá risada de você mesmo (nasci pra isso mesmo, sou uma tragédia, como achei que poderia ser diferente, sou desse jeito mesmo).


Você se enche daquilo que te alivia, até sair pelas orelhas. Quando o efeito passa, a realidade volta e você precisa de mais.


A queixa de Moisés (Números 11.7-15)


Aqui podemos pensar, “por que Deus não destruiu Moisés?”, ele também está se queixando. Aqui é interessante notarmos a diferença entre as duas queixas.


O povo estava preocupado consigo mesmo, estava apegado às delícias do Egito, e começaram a lamuriar de que a vida era melhor no Egito. Moisés não gostou, mas ao invés de apenas se queixar, foi falar com Deus sobre o que estava acontecendo.


Diversas vezes Moisés vai se mostrar um exemplo de intercessor. Vendo o povo pecar, ele clama a Deus que intervenha, perdoe. Isso me lembra como Jesus intercede por nós.


Enquanto o povo culpa Deus e imagina que poderia estar em melhor situação, Moisés reconhece que Deus o trouxe até ali e pede ajuda, pede solução para Deus. O povo mostrou sua cobiça, Moisés sua humildade.


O povo estava preocupado com seus prazeres, Moisés estava preocupado com as demandas do povo.


Diante das dificuldades, ao invés de lamentar o presente, se apegando a prazeres do passado, Moisés vai a Deus reconhecendo que precisa de ajuda para passar pelo presente. Moisés não quis voltar ao tempo que não conduzia o povo, mas reconheceu a Deus que sozinho não era capaz, que não estava suportando aquele momento.


É por esse caminho que devemos orientar nossa jornada da lamúria ao louvor. Reconhecer Deus, procurá-lo, reconhecer nossas limitações, nosso coração pecador.


Tendemos a não confiar no Espírito, mas em nós. Na criação de filhos, na profissão, no casamento, no serviço na igreja. Colocamos nossa confiança e segurança em ídolos.


O crescimento vem por colocar nossa confiança e segurança em Deus. Conhecermos mais a Deus (sua obra), provarmos mais das suas promessas (Ele as cumpre), confiamos mais nele (ele corrige quem ama, consola), ficarmos mais seguros (Ele é bom, Ele é soberano).


Aliança - compromisso

Pai, nós que sabemos dar coisas boas


Mt 7.11 Ora, se vocês, que são maus, sabem dar coisas boas aos seus filhos, quanto mais o Pai de vocês, que está nos céus, dará coisas boas aos que lhe pedirem?


“Foi por tua grande compaixão que não os abandonaste no deserto. De dia a nuvem não deixava de guiá-los em seu caminho, nem de noite a coluna de fogo deixava de brilhar sobre o caminho que deviam percorrer. Deste o teu bom Espírito para instruí-los. Não retiveste o teu maná que os alimentava, e deste-lhes água para matar a sede. Durante quarenta anos tu os sustentaste no deserto; nada lhes faltou, as roupas deles não se gastaram nem os seus pés ficaram inchados.” Neemias 9:19-21


Salmo 42.11

Por que estou tão triste?

Por que estou tão aflito?

Eu porei a minha esperança em Deus e ainda o louvarei.

Ele é o meu Salvador e o meu Deus.

Eu sabia que esses momentos chegariam

E agora eles chegaram Com arranhões ardentes

Eu poderia parecer pronto

Nunca é como planejei


Estou lutando contra meus pensamentos, estou vencido

Você desistiria de mim? Estou perguntando, Senhor

Em nenhum lugar aqui eu sinto Sua presença


Por quanto tempo serei alguém eternamente esquecido por Ti?

Você não está fazendo sentido aqui

Parece que a eternidade montou morada entre nós


Então eu vou clamar, até que eu vá


Da lamúria ao louvor

Você está sempre me impressionando

Você está me mudando devagar, mas verdadeiramente

E você vai me conduzir até o fim


Você está me mudando lentamente

Eu simplesmente não posso deixar de ver dessa maneira

Porque você vai me conduzir até o fim.


Assista o Sermão completo no Youtube.



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