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Foto do escritorChristian Lo Iacono

Devoção total, ou nenhuma devoção!

9 — Não acumulem tesouros sobre a terra, onde as traças e a ferrugem corroem e onde ladrões escavam e roubam;20 mas ajuntem tesouros no céu, onde as traças e a ferrugem não corroem, e onde ladrões não escavam, nem roubam.21 Porque, onde estiver o seu tesouro, aí estará também o seu coração.

22 — Os olhos são a lâmpada do corpo. Se os seus olhos forem bons, todo o seu corpo será cheio de luz;23 se, porém, os seus olhos forem maus, todo o seu corpo estará em trevas. Portanto, se a luz que existe em você são trevas, que grandes trevas serão!

24 — Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou irá odiar um e amar o outro, ou irá se dedicar a um e desprezar o outro. Vocês não podem servir a Deus e às riquezas.


Mteus 6.19-24


Jesus, depois de denunciar a piedade religiosa que é pouco mais que ostentação (vv. 1-18), adverte contra os pecados opostos: ganância, materialismo e preocupação, que têm origem em prioridades mal dirigidas e mundanas. Em vez disso, Jesus pede lealdade inabalável aos valores do reino (vv. 19-24) e confiança firme (vv. 25-34).


a. Metáforas para lealdade inabalável aos valores do reino (6.19-24)


1) TESOURO (6.19-21)


19 “Não acumulem”. O tempo presente da proibição (mê thêsaurizete) bem podia levar à tradução: "Parem de acumular tesouros" (Turner, Syntax [Síntaxe], p. 76); é chegado o tempo para uma parada decisiva (semelhante ao v. 25).


O amor pela riqueza é o grande mal – 1Tm 6.10: “Porque o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males; e alguns, nessa cobiça, se desviaram da fé e atormentaram a si mesmos com muitas dores.” Isso pede advertência constante! O texto de Paulo aqui não se dirige a ricos ou pobres especificamente, mas a cobiçosos.


Para os herdeiros do reino, acumular riquezas nos últimos dias é particularmente falta de visão – Tg 5.2,3: “As suas riquezas [ricos] apodreceram, e as suas roupas foram comidas pelas traças. 3 O seu ouro e a sua prata estão enferrujados, e essa ferrugem será testemunha contra vocês e há de devorar, como fogo, o corpo de vocês. Nestes tempos do fim, vocês ajuntaram tesouros.”


Todavia, como acontece com muitas das proibições de Jesus nesse sermão, seria temerário também absolutizar essa afirmação de que a riqueza em si mesma se torna um mal, pois outras declarações não podem ser absolutizadas de forma apropriada:


- Lc 14.12: “Quando você der um jantar ou uma ceia, não convide os seus amigos, nem os seus irmãos, nem os seus parentes, nem os vizinhos ricos”;

- Jo 4.21: “nem neste monte nem em Jerusalém vocês adorarão o Pai”;

- 1Pe 3.3,4: “Que a beleza de vocês não seja exterior...”.


Além disso, outras passagens das Escrituras:

- exigem que o homem provenha para seus parentes – 1Tm 5.8: “Se alguém não tem cuidado dos seus...”;

- recomendam trabalho e provisão para o futuro – Pv 6.6-8: “Vá ter com a formiga, ó preguiçoso”;

- e encorajam-nos a usufruir das coisas boas que o Criador nos concedeu – 1Tm 4.3,4: “[ensinos de demônios] que proíbem o casamento e exigem abstinência de alimentos que Deus criou para serem recebidos com gratidão pelos que creem e conhecem a verdade. 4 Pois tudo o que Deus criou é bom, e, se recebido com gratidão, nada é recusável...”;

1Tm 6.17: “Exorte os ricos deste mundo a que não sejam orgulhosos, nem depositem a sua esperança na instabilidade da riqueza, mas em Deus, que tudo nos proporciona ricamente para o nosso prazer.”


Jesus está preocupado com o egoísmo observado nos valores errôneos. Seus discípulos não devem acumular tesouros para si mesmos; eles devem se perguntar honestamente onde está seu coração (vv. 20,21).


Esse versículo não proíbe "ser previdente (fazer provisão sensata para o futuro), mas ser ganancioso (como avarentos que acumulam bens, e materialistas que sempre querem mais)" (Stott, p. 155). Porém, é insensato considerar alguém previdente se essa pessoa age e pensa como um ganancioso (France, “Deus e o Mamom").


Os "tesouros sobre a terra" podem ser roupas que podem ser atacadas por traças. A moda mudava pouco à época, e os trajes podiam ser passados adiante. Eles também podiam deteriorar. "Ferrugem" (brôsis) não se refere apenas à corrosão dos metais, mas à destruição causada por ratazanas, fungos e coisas semelhantes. Comentaristas mais antigos, com frequência, pintavam uma fazenda sendo destruída por ratos e outros animais e insetos daninhos. Veja que os tesouros menos corruptíveis podiam ser roubados: ladrões podiam entrar (dioryssousin, "arrombar", referindo-se às paredes de barro da maioria das casas palestinas do século I) e roubar.


20,21 Por contraste, os tesouros do céu estão para sempre isentos da deterioração e dos roubos (v. 20; Lc 12.33: “Vendam os seus bens e deem esmola; façam para vocês mesmos bolsas que não desgastem, tesouro inesgotável nos céus, onde o ladrão não chega, nem a traça corrói”). As palavras "tesouros no céu" remontam à literatura judaica (M Peah 1.1; T Levi 13.5; Sl Sal 9.9). Aqui, o termo "tesouros" refere-se a tudo que é bom e de relevância eterna que vem do que é feito na terra.


Fazer obras justas, sofrer por causa de Cristo, perdoar uns aos outros — tudo isso tem promessa de "recompensa":


- Mt 5.12: “Alegrem-se e exultem, porque é grande a sua recompensa nos céus; pois assim perseguiram os profetas que viveram antes de vocês”;

- Mt 5.30,46: “E, se a sua mão direita leva você a tropeçar, corte-a e jogue-a fora. Pois é preferível você perder uma parte do seu corpo do que o corpo inteiro ir para o inferno”; “Porque, se vocês amam aqueles que os amam, que recompensa terão? Os publicanos também não fazem o mesmo?”;

- Mt 6.6,15: “Mas, ao orar, entre no seu quarto e, fechada a porta, ore ao seu Pai, que está em secreto. E o seu Pai, que vê em secreto, lhe dará a recompensa”; “se, porém, não perdoarem aos outros as ofensas deles, também o Pai de vocês não perdoará as ofensas de vocês”;

- 2Co 4.17: “Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós um eterno peso de glória, acima de toda comparação”.


Outras obras de bondade também acumulam tesouros nos céus:


- Mt 10.42: “E quem der de beber, ainda que seja um copo de água fria, a um destes pequeninos, por ser este meu discípulo, em verdade lhes digo que de modo nenhum perderá a sua recompensa”;

- Mt 25.40: “— O Rei, respondendo, lhes dirá: ‘Em verdade lhes digo que, sempre que o fizeram a um destes meus pequeninos irmãos, foi a mim que o fizeram’”;

- 1Tm 6.13-19: “Diante de Deus, que preserva a vida de todas as coisas, e diante de Cristo Jesus, que, na presença de Pôncio Pilatos, fez a boa confissão, eu exorto você 14 a guardar este mandato imaculado, irrepreensível, até a manifestação de nosso Senhor Jesus Cristo, 15 a qual, no tempo certo, há de ser revelada pelo bendito e único Soberano, o Rei dos reis e Senhor dos senhores, 16 o único que possui imortalidade, que habita em luz inacessível, a quem ninguém jamais viu, nem é capaz de ver. A ele honra e poder eterno. Amém! 17 Exorte os ricos deste mundo a que não sejam orgulhosos, nem depositem a sua esperança na instabilidade da riqueza, mas em Deus, que tudo nos proporciona ricamente para o nosso prazer. 18 Que eles façam o bem, sejam ricos em boas obras, generosos em dar e prontos a repartir; 19 ajuntando para si mesmos um tesouro que é sólido fundamento para o futuro, a fim de tomarem posse da verdadeira vida.”


O aforismo final (v. 21) reverte para a segunda pessoa do singular (cf. vv. 2,6,17). O ponto é que as coisas mais altamente entesouradas ocupam o "coração", o centro da personalidade, abraçando mente, emoções e vontade (cf. DNTT 2:180-84); e, assim, o tesouro mais acalentado de forma sutil, mas infalível, controla toda a direção e valores da pessoa. Calvino: "Se a honra é considerada o mais alto bem, então a ambição assume o controle total do homem; se for o dinheiro, então, logo em seguida, a cobiça toma o comando do reino; se for o prazer, então os homens, com certeza, degeneram em alegre satisfação dos desejos".


De modo oposto, os que estabelecem sua mente nas coisas do alto, determinando levar a vida sob as normas do reino, descobrem, por fim, que suas obras os seguem:


- Cl 3.1,2: “Portanto, se vocês foram ressuscitados juntamente com Cristo, busquem as coisas lá do alto, onde Cristo vive, assentado à direita de Deus. 2 Pensem nas coisas lá do alto, e não nas que são aqui da terra”;

- Ap 14.13: “Então ouvi uma voz do céu, dizendo: — Escreva: ‘Bem-aventurados os mortos que, desde agora, morrem no Senhor.’ — Sim — diz o Espírito —, para que descansem das suas fadigas, pois as suas obras os acompanham”.


2) Luz (6.22,23)


22,23 "Os olhos são a lâmpada do corpo" (v. 22) no sentido de que através dos olhos, o corpo encontra seu caminho. O olho deixa entrar a luz, e, assim, o corpo todo é iluminado. Mas olhos maus não deixam entrar a luz, e o corpo fica nas trevas (v. 23). A "luz que existe em você" (v. 23) parece ironia; os que têm olhos maus e que caminham nas trevas pensam que têm luz, mas, na verdade, essa luz é trevas. As trevas são ainda mais terríveis, pois não se reconhecem pelo que são – Jo 9.41: “Jesus respondeu: — Se vocês fossem cegos, não teriam pecado algum. Mas, porque agora dizem: ‘Nós vemos’, o pecado de vocês permanece” (cura do cego nascença).


Essa descrição totalmente honesta tem implicações metafóricas. O "olho" pode equivaler ao "coração". O coração voltado para Deus para guardar seus mandamentos (Sl 119.10) equivale ao olho fixo na lei de Deus (Sl 119.18; cf. 119.36,37). De forma semelhante, Jesus move do "coração" (v. 21) para os "olhos" (vv. 22,23). Além disso, o texto move-se entre a descrição física e a metáfora por meio das palavras escolhidas para "bons" e "maus".


Haplous ("bom"; v. 22) e seus cognatos podem ter o sentido de "único" (vs. diplous, "duplo"; 1Tm 5.17) no sentido de "lealdade única, indivisa" (cf. 1Cr 29.17) ou nas formas cognatas "generoso", "liberal" (cf. Rm 12.8; Tg 1.5). Da mesma forma, ponêros ("mau", v. 23) pode ter o sentido de "maligno" (e.g., Rm 12.9) ou na expressão idiomática judaica "o olho mau" pode ter sentido de avareza e egoísmo (cf. Pv 28.22: “O ganancioso corre atrás das riquezas, mas não sabe que a pobreza há de vir sobre ele”).


Portanto, Jesus está dizendo: (1) ou que o homem que "divide seu interesse e tenta focar tanto Deus como as posses [...] não tem visão clara e viverá sem orientação nem direção claras" (Filson) – interpretação satisfatoriamente compatível com o versículo 24; (2) ou que o homem que é mesquinho e egoísta não pode realmente ver para onde está indo; ele é moral e espiritualmente cego — interpretação compatível com os versículos 19-21. Dos dois jeitos, a primeira interseção da metáfora pode explicar a linguagem difícil do versículo 22.


Na esfera física, "todo o seu corpo" é exatamente isso, um corpo do qual o olho é a parte que provê "luz” (cf. R. Gundry, Soma [Cambridge: University Press, 1976], p. 24-25). Na esfera metafórica, o corpo representa a pessoa inteira que está mergulhada na treva moral. Assim, "a luz que existe em você" é a visão que o olho com lealdades divididas fornece ou a atitude caracterizada pelo egoísmo; nos dois casos, na verdade, são realmente trevas. Essa abordagem que depende do AT e do uso judaico é muito preferida à que vai à literatura helenista e interpreta “a luz que existe em você” no sentido neoplatônico (e.g., H.D. Betz, "Matthew vi.22f and ancient Greek theories of vision" ["Mateus 6.22s. e antigas teorias gregas sobre visão"], em Best e Wisdow, p. 43-56).


3) ESCRAVIDÃO (6.24)


24 "Agora, Jesus explica que por trás da escolha entre dois tesouros (que acumulamos) e duas visões (em que fixamos nossos olhos) está a ainda mais básica escolha entre dois mestres (a quem serviremos)" (Stott, p. 158). "Dinheiro" é a tradução da palavra grega mamona ("Mamom"), ela mesma uma transliteração da palavra aramaica mamôna' (em declaração enfática; "riqueza", "propriedade"). A raiz (’mn), tanto no hebraico quanto no aramaico, indica aquilo em que a pessoa confia; e a conexão com dinheiro e riqueza, bem atestada na literatura judaica (e.g., Peah 1.1; b Berakoth 61b; M Aboth 2.7; nem sempre em um sentido negativo) é dolorosamente óbvia. Aqui, ela está personificada.


Deus e Dinheiro não são retratados como empregadores, mas como senhores de escravos. O homem pode trabalhar para dois empregadores, mas uma vez que "a posse única e o trabalho em tempo integral são a essência da escravidão" (Tasker), ele não pode servir a dois senhores de escravos. Ou Deus é servido com devoção total ou não é servido de maneira alguma. As tentativas de dividir a lealdade denunciam profundo compromisso com a idolatria, e não compromisso parcial com o discipulado (Carson).


Assista o Sermão completo no Youtube:



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