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Foto do escritorChristian Lo Iacono

Igreja: natureza prpósito e missão - Parte III | Série - A igreja


[1] Meus irmãos, vocês não podem ter fé em nosso Senhor Jesus Cristo, o Senhor da glória, e ao mesmo tempo tratar as pessoas com parcialidade. [2] Porque, se entrar na sinagoga de vocês um homem com anéis de ouro nos dedos, vestindo roupa luxuosa, e entrar também um pobre muito malvestido, [3] e vocês derem um tratamento especial ao que está vestido com a roupa luxuosa, dizendo: “Você, sente-se aqui no lugar de honra”, e disserem ao pobre: “Você, fique em pé” ou “Sente-se ali, abaixo do estrado dos meus pés”, [4] será que vocês não estarão fazendo distinção entre vocês mesmos e julgando as pessoas com critérios errados? [5] Escutem, meus amados irmãos. Por acaso Deus não escolheu os que para o mundo são pobres para serem ricos em fé e herdeiros do Reino que ele prometeu aos que o amam? [6] No entanto, vocês desprezam os pobres. Por acaso não são os ricos que oprimem vocês e não são eles que os arrastam para os tribunais? [7] Não são eles os que blasfemam o bom nome que foi invocado sobre vocês? [8] Se vocês, de fato, observam a lei do Reino, conforme está na Escritura: “Ame o seu próximo como a si mesmo”, fazem bem. [9] Se, no entanto, vocês tratam as pessoas com parcialidade, cometem pecado, sendo condenados pela lei como transgressores. [10] Pois quem guarda toda a lei, mas tropeça em um só ponto, se torna culpado de todos. [11] Porque, aquele que disse: “Não cometa adultério”, também ordenou: “Não mate.” Ora, se você não comete adultério, porém mata, acaba sendo transgressor da lei. [12] Assim, falem e vivam como pessoas que serão julgadas pela lei da liberdade. [13] Porque o juízo é sem misericórdia sobre quem não usou de misericórdia. A misericórdia triunfa sobre o juízo.


Tiago 2.1-13


ACOLHER – hospitalidade centrada na graça


Considerando o assunto do pecado da parcialidade e do preconceito na igreja, eu faria algumas perguntas à nossa congregação: 1) "Quantos de vocês gostariam, enquanto igreja, de crescer numericamente?"; 2) “E como seria pra você se 75% desse crescimento viesse de pessoas não brancas ou estrangeiras?”; 3) "Como você reagiria, por exemplo, se metade da equipe pastoral/diaconal fosse de negros e estrangeiros?”. Fiz essas perguntas apenas para refletirmos um pouco. Nós queremos crescer como igreja, de fato, ou apenas queremos mais pessoas parecidas conosco, que tenham os mesmos interesses, opiniões e sejam da mesma “casta”? Nós queremos fazer parte, realmente, de uma igreja que seja acolhedora?


Preconceito e discriminação são para a humanidade vícios insistentes, e falar sobre eles pode nos deixar desconfortáveis. Mas a Palavra de Deus aborda esse assunto de diversas maneiras, e em muitos lugares. Portanto, o povo de Deus precisa refletir a respeito. Preconceito e discriminação ocupam grande parte do pano de fundo do livro de Romanos, visto que Paulo estava tentando unir os judeus e os gentios da igreja. Depois de abordar a questão ao longo de sua carta, o apóstolo parte para uma abordagem bastante prática nos capítulos 14 e 15, ao descrever como devem se relacionar o "irmão mais fraco" (os de consciência sensível, que eram predominantemente judeus) e o "irmão mais forte" (aqueles de consciência mais forte, que eram predominantemente gentios). Ele disse:


"Portanto, acolham uns aos outros, como também Cristo acolheu vocês para a glória de Deus" (Rm 15.7). Todo membro de igreja deveria saber esse versículo de cor e salteado. Não é por direito algum que fomos acolhidos na família de Jesus. Por crermos em Cristo é que fomos por ele recebidos. Ele nos recebeu graciosamente, com alegria e por completo. E agora, como igreja, é nosso dever acolher a comunidade de cristãos centrada no evangelho.


A narrativa bíblica deixa claro por que existe alienação e divisão hoje, mas também nos mostra como Jesus veio para remediá-los. Na criação, Deus nos fez à sua imagem (Gn 1-2). Todos, de todas as raças e contextos, têm o mesmo valor, a mesma dignidade e importância. Mas, então, a Queda ocorreu (Gn 3). O pecado não apenas nos alienou de Deus, mas também nos distanciou das demais pessoas. Há agora divisão e hostilidade entre raças, classes, idades e tribos. Através de Cristo, entretanto, podemos ser reconciliados com Deus e uns com os outros. O poder do evangelho é testificado por meio dessa união. É na igreja local que vemos Jesus destruindo as barreiras:


Portanto, lembrem-se de que no passado vocês eram gentios na carne, chamados incircuncisão por aqueles que se intitulam circuncisão, que é feita na carne por mãos humanas. 12 Naquele tempo vocês estavam sem Cristo, separados da comunidade de Israel e estranhos às alianças da promessa, não tendo esperança e sem Deus no mundo. 13 Mas agora, em Cristo Jesus, vocês, que antes estavam longe, foram aproximados pelo sangue de Cristo. 14 Porque ele é a nossa paz. De dois povos ele fez um só e, na sua carne, derrubou a parede de separação que estava no meio, a inimizade. 15 Cristo aboliu a lei dos mandamentos na forma de ordenanças, para que dos dois criasse em si mesmo uma nova humanidade, fazendo a paz, 16 e reconciliasse ambos em um só corpo com Deus, por meio da cruz, destruindo a inimizade por meio dela. 17 E, quando veio, Cristo evangelizou paz a vocês que estavam longe e paz também aos que estavam perto; 18 porque, por meio dele, ambos temos acesso ao Pai em um só Espírito. 19 Assim, vocês não são mais estrangeiros e peregrinos, mas concidadãos dos santos e membros da família de Deus, 20 edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo ele mesmo, Cristo Jesus, a pedra angular. 21 Nele, todo o edifício, bem-ajustado, cresce para ser um santuário dedicado ao Senhor. 22 Nele também vocês estão sendo edificados, junto com os outros, para serem morada de Deus no Espírito” (Ef 2.11-22).


E um dia, na nova criação, todas as coisas serão renovadas, e experimentaremos uma gloriosa união em meio a uma belíssima diversidade enquanto exaltamos o Salvador: “e cantavam um cântico novo, dizendo: ‘Digno és de pegar o livro e de quebrar os selos, porque foste morto e com o teu sangue compraste para Deus os que procedem de toda tribo, língua, povo e nação 10 e para o nosso Deus os constituíste reino e sacerdotes; e eles reinarão sobre a terra.’” (Ap 5.9-10).


Do que nós mais precisamos, portanto, é aplicar o evangelho a esse problema. Precisamos ser guiados por uma cosmovisão de reino. Temos de nos lembrar da graça de Deus, e não podemos nos esquecer do destino final da história. Parcialidade, preconceito e panelinhas são obras das trevas, mas as boas-novas de Jesus rompem com todo tipo de escuridão.


Seja conhecido por agir em amor, e não com parcialidade


Em poucas palavras, fé em Cristo e favoritismo são totalmente incompatíveis. Esnobismo e fé em Cristo não combinam. É por esse motivo que Tiago alerta em sua carta: "Meus irmãos, vocês não podem ter fé em nosso Senhor Jesus Cristo, o Senhor da glória, e ao mesmo tempo tratar as pessoas com parcialidade" (Tg 2.1). A palavra grega traduzida por "acepção", "parcialidade", "preconceito" ou "discriminação" é uma das mais fascinantes. Seu significado é literalmente este: "não receba a face". Ou seja, não discrimine com base na aparência externa (Douglas Moo; ver NLTH).


O termo também está no plural, o que sugere que o cristão não deve demonstrar nenhum favoritismo em relação à vestimenta, à riqueza, à cor de pele, ao contexto social, nem a qualquer outro aspecto exterior de alguém. Há aqui muitas aplicações. Apenas para destacar algumas específicas, somos tentados a ser parciais baseados na aparência, sotaque, faixa etária, condição financeira, ancestralidade, afinidade e nas conquistas. A tendência do ser humano é ver os outros de maneira parcial, mas não a si mesmo. O fato é que todos temos nossos pontos cegos. Um problema patente nos Estados Unidos é o racismo dentro da igreja. As manhãs de domingo lá já foram apelidadas de "a hora mais segregacionista dos EUA".


Isso é trágico. Não raro os ricos recebem mais poder na igreja, ou têm mais voz do que os outros. Às vezes, as pessoas demonstram certa predisposição por causa da afinidade, e se recusam a participar de um pequeno grupo simplesmente porque os participantes não compartilham dos mesmos interesses que elas. Todas essas distinções são importantes porque fazem parte de nossa personalidade, mas não são o mais importante, pois Deus vê o nosso coração (1Sm 16.7).


A mensagem do evangelho destrói pretensões mundanas e qualquer sentimento de superioridade de um grupo social em particular. Gl 3.28: “Assim sendo, não pode haver judeu nem grego; nem escravo nem liberto; nem homem nem mulher; porque todos vocês são um em Cristo Jesus”. At 10.34-35: “Então Pedro começou a falar. Ele disse: — Reconheço por verdade que Deus não trata as pessoas com parcialidade; 35 pelo contrário, em qualquer nação, aquele que o teme e faz o que é justo lhe é aceitável.


Como podemos conter nossa tendência natural à parcialidade? Temos de fixar nossos olhos em Jesus, a quem Tiago chama de "o Senhor da glória". Somente Cristo tem toda a glória. Não idolatre o rico, nem o atraente, tampouco o bem-sucedido: adore a Cristo. Fique maravilhado ao olhar para Cristo, aquele que é cheio de glória. Busque a glória genuína, que não está nos ricos, nem nos poderosos, muito menos nos famosos, mas no Senhor. Se é a glória de Jesus que cativa seu coração, então você não mais bajulará os outros (“Porque amaram mais a glória dos homens do que a glória de Deus”, Jo 12.43).


O teste do "sente-se ao meu lado"


Tiago nos traz uma ilustração singular de como a parcialidade pode ocorrer na igreja: um culto de adoração nada acolhedor que esnoba os pobres e favorece os ricos na assembleia. Trata-se de uma discriminação de classe — um grande problema presente no mundo inteiro. Os diáconos colocam o homem com anéis de ouro num bom lugar, enquanto põem o pobre no chão:


Porque, se entrar na sinagoga de vocês um homem com anéis de ouro nos dedos, vestindo roupa luxuosa, e entrar também um pobre muito malvestido, 3 e vocês derem um tratamento especial ao que está vestido com a roupa luxuosa, dizendo: "Você, sente-se aqui no lugar de honra", e disserem ao pobre: "Você, fique em pé" ou "Sente-se ali, abaixo do estrado dos meus pés", 4 será que vocês não estarão fazendo distinção entre vocês mesmos e julgando as pessoas com critérios errados?” (Tg 2.2-4).


O fato de terem de dizer ao pobre onde se sentar pode indicar que aquelas pessoas eram "visitantes". Outra possibilidade é que fossem novos convertidos. De qualquer forma, essas atitudes inóspitas violam o ensino de Cristo de sermos hospitaleiros para com os pobres e necessitados:


Depois Jesus disse ao que o havia convidado: — Quando você der um jantar ou uma ceia, não convide os seus amigos, nem os seus irmãos, nem os seus parentes, nem os vizinhos ricos; para não acontecer que eles retribuam o convite e você seja recompensado.13 Pelo contrário, ao dar um banquete, convide os pobres, os aleijados, os coxos e os cegos,14 e você será bem-aventurado, pelo fato de não terem eles com que recompensá-lo. A sua recompensa você receberá na ressurreição dos justos” (Lc 14.12-14). 


Essa atitude é incompatível com a natureza de Deus, que é imparcial e hospitaleiro: 


Dt 10.17-19: “Pois o Senhor, o Deus de vocês, é o Deus dos deuses e o Senhor dos senhores, o Deus grande, poderoso e temível, que não trata as pessoas com parcialidade, nem aceita suborno. 18 Ele faz justiça aos órfãos e às viúvas e ama os estrangeiros, dando-lhes comida e roupa. 19 Portanto, amem os estrangeiros, porque vocês foram estrangeiros na terra do Egito”;


Lv 19.15-18, 33-34: “— Não seja injusto ao julgar uma causa, nem favorecendo o pobre, nem agradando o rico; julgue o seu próximo com justiça. 16 — Não ande como mexeriqueiro no meio do seu povo, nem atente contra a vida do seu próximo. Eu sou o Senhor. 17 — Não guarde ódio no coração contra o seu próximo, mas repreenda-o e não incorra em pecado por causa dele. 18 — Não procure vingança, nem guarde ira contra os filhos do seu povo, mas ame o seu próximo como você ama a si mesmo. Eu sou o Senhor... 33 — Não oprimam o estrangeiro que peregrinar na terra de vocês. 34 Tratem o estrangeiro que peregrina entre vocês como tratam quem é natural da terra; amem o estrangeiro como amam a vocês mesmos, pois vocês foram estrangeiros na terra do Egito. Eu sou o Senhor, o Deus de vocês”.


Tiago diz que tal postura hostil não é apenas um erro ou uma debilidade: é "perversa" (Tg 2.4b). Precisamos nos perguntar que tipo de atitude temos tido com os que provêm de contextos distintos. Seu primeiro impulso é dizer "sente-se ao meu lado", ou "vá sentar em outro lugar”, ou pensar "espero que sentem longe de mim" ou "vou me sentar em outro lugar"? Você, com alegria, se aproxima daqueles que são diferentes de você, ou é daqueles que saem de fininho?


Por que favoritismo é coisa séria


Muitos livros sobre a igreja negligenciam o problema da parcialidade e do preconceito. Como bom Pai, Deus nos dá razões nas Escrituras, não apenas ordens. Ele nos instrui para o nosso bem. Na carta de Tiago, Deus delineia quatro razões pelas quais não podemos discriminar na assembleia. Ou, em palavras mais agradáveis: quatro motivos para ser um membro acolhedor.


Em primeiro lugar, a parcialidade não reflete a graça de Deus (Tg 2.5a). Tiago afirma que Deus escolheu muitos dentre os pobres para serem "ricos em fé". 1Co 1.26-31: “Irmãos, considerem a vocação de vocês. Não foram chamados muitos sábios segundo a carne, nem muitos poderosos, nem muitos de nobre nascimento. 27 Pelo contrário, Deus escolheu as coisas loucas do mundo para envergonhar os sábios e escolheu as coisas fracas do mundo para envergonhar as fortes. 28 E Deus escolheu as coisas humildes do mundo, e as desprezadas, e aquelas que não são, para reduzir a nada as que são, 29 a fim de que ninguém se glorie na presença de Deus”.


Sem dúvida, esse movimento era real na igreja primitiva, pois nas grandes cidades o evangelho se popularizou muito entre as camadas marginais da sociedade. Por volta de 178 d.C., o filósofo grego Celso criticou o cristianismo por seu apelo às classes populares. Em tom zombeteiro, ele escreveu o seguinte acerca dos cristãos:


“Não deixem se aproximar os cultos, os sábios e os sensíveis, pois consideramos estes como maus. Mas se há alguém entre vocês que seja ignorante, desprovido de bom senso e cultura, que se achegue sem temor [...]. Vemo-los em suas próprias casas, tecelões, sapateiros e tapeceiros, os seres mais vulgares e sem instrução [...].

[Cristãos são] como um enxame de morcegos, ou como formigas transbordando do formigueiro, ou como sapos se reunindo em volta de um brejo, ou, ainda, como minhocas se revirando na lama.”


Posso imaginar um pastor reagindo à crítica de Celso na próxima reunião de domingo: "Irmãos e irmãs, sejam bem-vindos à convenção das minhocas". Isso não quer dizer que os ricos devam ficar de fora. Há ricos que creem na Palavra de Deus! Mas você não se achega a Cristo "rico de espírito" ou "classe-média de espírito", mas "pobre de espírito" (Mt 5.3). Nunca se esqueça de que Deus o aceitou quando você estava falido, sem nada para oferecer. Cristo o limpou e o vestiu com as belíssimas vestes de sua graça. Essa realidade deveria transformar sua forma de interagir com os outros.


Assista o Sermão completo no Youtube:


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