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Foto do escritorChristian Lo Iacono

Igreja: natureza prpósito e missão | Série - A igreja

1 Por essa razão eu, Paulo, o prisioneiro de Cristo Jesus, por amor de vocês, os gentios —2 se é que vocês ouviram falar a respeito da dispensação da graça de Deus a mim confiada em favor de vocês,3 pois, segundo uma revelação, me foi dado a conhecer o mistério, conforme escrevi há pouco, resumidamente.4 Ao lerem o que escrevi, poderão entender a minha compreensão do mistério de Cristo,5 o qual, em outras gerações, não foi dado a conhecer aos filhos dos homens, como agora foi revelado aos seus santos apóstolos e profetas, pelo Espírito.

6 O mistério é que os gentios são coerdeiros, membros do mesmo corpo e coparticipantes da promessa em Cristo Jesus por meio do evangelho,7 do qual fui constituído ministro conforme o dom da graça de Deus a mim concedida segundo a força operante do seu poder.8 A mim, o menor de todos os santos, foi dada esta graça de pregar aos gentios o evangelho das insondáveis riquezas de Cristo9 e manifestar a todos qual é a dispensação do mistério que, durante tempos passados, esteve oculto em Deus, que criou todas as coisas.10 E isso para que agora, pela igreja, a multiforme sabedoria de Deus se torne conhecida dos principados e das potestades nas regiões celestiais,11 segundo o eterno propósito que Deus estabeleceu em Cristo Jesus, nosso Senhor.12 Em Cristo, temos ousadia e acesso a Deus com confiança, mediante a fé nele.13 Portanto, eu peço que não desanimem por causa das minhas tribulações em favor de vocês, pois isso é motivo de honra para vocês.

14 Por essa razão, eu me ponho de joelhos diante do Pai,15 de quem toda a família, nos céus e na terra, recebe o nome.16 Peço a Deus que, segundo a riqueza da sua glória, conceda a vocês que sejam fortalecidos com poder, mediante o seu Espírito, no íntimo de cada um.17 E assim, pela fé, que Cristo habite no coração de vocês, estando vocês enraizados e alicerçados em amor.18 Isto para que, com todos os santos, vocês possam compreender qual é a largura, o comprimento, a altura e a profundidade19 e conhecer o amor de Cristo, que excede todo entendimento, para que vocês fiquem cheios de toda a plenitude de Deus.

20 Ora, àquele que é poderoso para fazer infinitamente mais do que tudo o que pedimos ou pensamos, conforme o seu poder que opera em nós,21 a ele seja a glória, na igreja e em Cristo Jesus, por todas as gerações, para todo o sempre. Amém!


Efésios 3.1-21


Quando a gente lê o texto de Paulo e pensa ao mesmo tempo na realidade das Igrejas de nosso tempo corremos o risco da decepção. Quatro Amores é um dos livros de C. S. Lewis em que ele nos adverte que há somente dois lugares onde estaremos a salvo das decepções do amor: ou no inferno, em razão da ausência do amor; ou no céu, por sua perfeição. Amar é torna-se vulnerável. O verdadeiro amor sofre. A igreja é uma congregação de pessoas “simultaneamente justas e pecadoras” (Lutero; simul justus et peccator). Todos os discípulos de Jesus são santos e pecadores, formando uma amálgama de virtudes e vícios. Por conta disso, falham uns com os outros e, por vezes, pecam contra quem deveriam cuidar.


Essa via é de mão dupla. Ao mesmo tempo que você sofre pelos erros de alguém, por outro lado alguém já sofreu por seus erros. Amar a igreja não significa ignorar as fraquezas dela. O desafio é manter a nossa comunhão em Cristo, apesar desses desafios, buscando preservar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz. Homens e mulheres santos amam o que Deus ama. Portanto, amar a igreja e trabalhar em favor da edificação mútua é um sinal de maturidade espiritual.


Sabemos que Jesus não veio a este mundo apenas para inaugurar uma nova comunidade, mas um novo tipo de comunidade. Num mundo de prepotência e brutalidade, Jesus deu seu próprio sangue para dar início a uma comunidade diferente, marcada por uma beleza singular. Por exemplo, as tão conhecidas bem-aventuranças, "regras básicas" da comunidade de Cristo, começam assim: "Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus" (Mt 5.3). Na semana passada vimos como Jesus nos convida a aprender dele, de sua mansidão e humildade de coração (Mt 11.28-30).


Ou seja, Jesus está parabenizando, cumprimentando, celebrando e acolhendo os pobres de espírito. Ele ignora os poderosos, os prestigiados, os famosos e os descolados. Ele se dirige aos pobres, os que nada têm a oferecer-lhe, que de nada podem se gabar. Ou seja, nada além de necessidades. Esses sãos exatamente aqueles nos quais Jesus se regozija, os quais acolhe e abençoa com seu reino.


Quem ousaria formar uma liga de conselheiros com um bando de desconhecidos? Quem arriscaria começar um empreendimento com falidos? Quem daria início a uma aventura ousada com fracassados? Jesus. Ele inaugurou seu novo tipo de comunidade com pecadores tão fracassados que mal podiam dar a Deus uma razão sequer para que fossem notados. Ele ajunta sob seus braços esses mesmos pecadores e diz: "Parabéns! Vocês herdarão a eternidade e tudo o que nela há!".


Nesse novo tipo de comunidade, não levamos nossos predicados, mas nossas necessidades. Jesus é quem providencia tudo e nos sustenta com sua graça. Não há espaço para nos gabarmos. Tudo que temos agora, tudo de que precisamos, é Jesus e sua misericórdia todo-suficiente. É por meio dessa estratégia surpreendente que a beleza de Cristo invade este mundo dominado pela feiura do pecado.


As afirmações bíblicas acerca da igreja são magníficas. Por exemplo, em uma única, mas maravilhosa, frase, o apóstolo Paulo declara a vitalidade da igreja, a natureza familiar da igreja, e a verdade proclamada pela igreja: nós somos "a igreja do Deus vivo, coluna e baluarte da verdade" (1Tm 3.15). Considere também o que Paulo disse aos pastores/presbíteros de Éfeso: "Atendei por vós e por todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos, para pastoreardes a igreja de Deus, a qual ele comprou com o seu próprio sangue (At 20.28).


Que privilégio pertencer à igreja de Deus, adquirida pela obra redentora do amado Filho de Deus! Leve em conta também o quão profundamente Jesus se identifica com sua igreja: quando Paulo perseguia a igreja, Cristo perguntou: "Por que me persegues?" (At 9.4, 22.7). Neste momento, o terrorista que se tornaria apóstolo percebeu não apenas que Jesus vive e é o Senhor, mas que, ao perseguir a igreja, ele estava perseguindo o próprio Cristo, tal a profundidade do vínculo entre o coração do Noivo e sua noiva, a igreja.


Fazer parte de uma comunidade local de crentes é um privilégio. Mas sei que muitos de nós (ainda que não admitam em voz alta) não acham o fazer parte de uma igreja algo tão encantador. Há uma série de razões pelas quais as pessoas não se envolvem com a família da igreja. Primeiro, alguns foram feridos pelos membros, e outros foram magoados por seus pastores. Devemos lamentar profundamente essa realidade e desejar que essas pessoas recebam cuidado e cura, encontrando uma família e comunhão restaurada em uma igreja fiel.


Há também alguns que são cristãos "pró-igreja na teoria, mas não na prática". Estes veem a igreja como algo legal, desde que não haja mais nada para fazer nela durante a semana, ou como uma experiência bacana para seus filhos pequenos, mas que se torna opcional na vida adulta. Muitos amam o conceito de igreja, mas não têm comunhão real com cristãos em uma congregação local. Alguns se mantêm atualizados com as notícias da igreja pelas redes sociais, e até mesmo oferecem "conselhos" a pastores, mas estão "ausentes do campo de batalha".


Outros estão abertos a aprender sobre a importância da igreja, mas ainda não conhecem o suficiente sobre o assunto. Há ainda aqueles que têm servido e amado sua igreja, mas que agora estão cansados, seja em virtude do contexto em que estão inseridos, seja por problemas internos, seja por qualquer outro motivo. Cristãos exaustos precisam ser lembrados das riquezas inesgotáveis de Cristo e de quão significativo é o trabalho deles na igreja.


Temos, também, os "turistas eclesiásticos". Turistas eclesiásticos são aqueles indivíduos que observo do púlpito durante os cultos e logo penso: "Não conheço essa pessoa", "Não vejo essa pessoa há bastante tempo", ou "Preciso fazer algo para que essa pessoa crie laços com os outros membros". Mas, quando desço do púlpito para vê-los, eles já foram embora! A agilidade desses irmãos é impressionante, embora eu quisesse muito ouvir suas histórias.


Presumo que alguns sejam curiosos investigando as doutrinas cristãs. Outros podem estar relutantes em se envolver com a igreja por causa de experiências negativas do passado. Alguns podem achar que nossa igreja nunca será tão boa quanto sua antiga igreja, e então se mantêm distantes. Pode ser que alguns não tenham gostado do sermão e fugiram assim que possível. Há outras razões, claro.


Por fim, alguns de fato amam sua igreja, mas não sabem muito bem como amá-la. Eles ficam se perguntando: "Se não faço parte da liderança, ou do grupo de louvor, ou de qualquer outro tipo de ministério, qual é então a minha função?”. Se você é um deles, então espero que você possa vislumbrar o impacto que pode causar ao realizar simples, mas importantes, atos de discipulado em sua igreja e para ela. Independentemente do quadro no qual você se encaixe, todos nós nos beneficiaremos ao recuperar a visão neotestamentária da igreja de Cristo. Todos somos capazes de aprender a amar nossa Igreja conforme o chamado de Cristo.


Pertencer: uma família centrada no evangelho


Como imagem e semelhança de Deus, as pessoas foram criadas para viver em comunidade. O Deus Triúno é um Deus relacional, e ele nos criou para nos relacionarmos. A popularidades das redes sociais ilustra nosso anseio por comunidade. Pessoas querem ser conhecidas, querem conhecer outras pessoas, e precisam de amigos. Muitos já relataram ter encontrado um forte senso de comunidade nas academias de musculação, por exemplo; elas se tornaram mais do que um lugar para exercitar-se. Essa necessidade por comunidade é o motivo pelo qual nossos filhos também perguntam "Será que vou fazer novos amigos?" todo início de ano letivo.


Deus nos deu esse anseio por comunidade, e nos deu também o lugar onde esse anseio pode ser satisfeito: a igreja. O pecado rompe a comunhão com Deus e com os outros, mas somos reconciliados com Deus e uns com os outros através do evangelho. Deus firma essa unidade em Cristo, mas é nosso dever preservá-la (Ef 4.2). Ele nos providencia o lugar, porém cabe a nós nos comprometermos com o pertencimento. Para experimentar a bênção da comunidade é necessário evitar se distanciar dos irmãos e irmãs da igreja, e não negligenciar as oportunidades de passar tempo com eles (em pequenos grupos, no culto, e em comunicação constante). Esse é o motivo pelo qual a experiência da pandemia de COVID-19 foi tão desafiadora, e é também a razão pela qual as igrejas tiveram de ser criativas e de se desdobrar para ajudar a manter os cristãos conectados.


A igreja sob o ponto de vista de Cristo


Muitos ministérios cristãos que operam fora dos templos pensam que podem fazer mais sem uma igreja local. Eles podem até achar que a igreja iria atrapalhá-los. Às vezes nos focamos mais em "movimentos" e "eventos", e não na igreja local. Muitos têm conhecimento dos problemas que ocorrem nas igrejas e não querem ter nada a ver com isso. Eles se interessam, por exemplo, por ministrar aos de idade semelhante, como ocorre nos ministérios evangelísticos voltados a universitários, e não a um grupo multigeracional. A subcultura cristã pode ser o foco deles, e não a “fé tediosa” do contexto eclesiástico.


Muito desse pensamento surge em razão do limitado conhecimento da igreja, fruto de pouco estudo cuidadoso das Escrituras. Não conseguimos ver a igreja sob o ponto de vista de Jesus; não entendemos a descrição que a Bíblia faz da igreja. Acredito que muitos estejam nessa situação hoje. Não se pode permitir que a experiência e as preferências pessoais moldem nossa visão da igreja. É necessário vê-la através das lentes da Bíblia. E isso significa ver a igreja com alegria.


Pertencer a uma igreja significa dedicar sua vida a uma comunidade centrada no evangelho, onde um serve ao outro com alegria, e a missão de Cristo é levada adiante por todos. Várias décadas atrás, Martyn Lloyd-Jones destacou o quão necessário é uma igreja alegre: “A maior necessidade do momento é uma igreja jubilosa e alegre [...]. Cristãos infelizes são uma péssima propaganda para a fé [...]. A alegria exuberante dos primeiros cristãos foi um dos fatores mais poderosos na disseminação do cristianismo.” (Depressão espiritual). Atos registra que a igreja “contava com a simpatia de todo o povo” (2.47).


O evangelho deve naturalmente causar em nós uma "alegria exuberante" quando consideramos o que Deus fez por nós em Cristo. E é no contexto da igreja que essa alegria é obtida, experimentada e ampliada. Esse regozijo centrado em Cristo e experimentado mesmo em meio ao sofrimento é único, poderoso, arrebatador e atraente. Isso não significa, entretanto, que a igreja seja imune ao sofrimento; significa que, mesmo em meio ao sofrimento, há uma fonte de alegria da qual beber: a cisterna da nossa salvação. Em tempos difíceis, podemos estar "entristecidos, mas sempre alegres" (2Co 6.10).


É um privilégio fazer parte do povo da nova aliança de Deus, fazer parte daqueles que foram salvos mediante o arrependimento e a fé em Cristo Jesus, daqueles que contam com a presença viva do Espírito Santo, que se reúnem em ajuntamentos locais, que se ajuntam para ouvir a pregação da Palavra, que se envolvem no culto e na adoração comunitária, que são liderados por pastores/presbíteros qualificados, que desfrutam das maravilhas do batismo e da Ceia do Senhor. É maravilhoso fazer parte daqueles que se comprometem a pôr em prática o "uns aos outros" da Escritura e que vão até os confins da terra para cumprir o maior mandamento (amar o próximo) e a Grande Comissão (fazer discípulos de todas as nações).


Tanto a igreja universal (todos os cristãos de todas as épocas e de todos os lugares) quanto a igreja local são essenciais, e não raro há sobreposição entre ambas. Entretanto, o nosso foco nessa série de sermões que tem início hoje repousará sobre a igreja local. Como o professor Gregg Allison observou, a igreja local é "de longe a mais referida nas exposições do Novo Testamento sobre a igreja" (Eclesiologia).


Embora a palavra "igreja" (ekklesia) signifique basicamente "ajuntamento" ou "assembleia", ela é mais do que uma simples reunião. A igreja é uma comunidade local de cristãos que se reúnem para cultuar a Deus e testemunhar aos de fora; é a união de pessoas que compartilham vidas centradas em Cristo pelo bem uns dos outros e para abençoar o mundo. Essa ideia de comunidade está espalhada por todo o Novo Testamento: a Bíblia desconhece o cristianismo de "lobos solitários". Tito fala, a propósito, que Jesus "a si mesmo se deu por nós, a fim de remir-nos de toda iniquidade e purificar, para si mesmo, um povo exclusivamente seu, zeloso de boas obras" (Tt 2.14). Ele entregou a si mesmo não apenas por mim individualmente, mas por nós, coletivamente, a fim de purificar um povo para si mesmo.


A carta de 1Pedro também tem um tom coletivo, e usa várias ilustrações para lembrar aos cristãos sua identidade comunitária; por exemplo: "vós, sim, que, antes, não éreis povo, mas, agora, sois povo de Deus" (1Pe 2.10). O Novo Testamento rejeita a noção popular de "eu sou membro da igreja universal, não preciso fazer parte da igreja local, da igreja visível". Nós provamos que fazemos parte da igreja universal quando nos identificamos com uma comunidade real e local. É como nossa união com Cristo. Vivemos nossa união espiritual com Cristo visivelmente, e vivemos nossa união com os outros cristãos visivelmente também.


Ainda que alguns olhem torto para o conceito de membresia, é importante reconhecer as várias verdades bíblicas sobre esse assunto. Eis aqui algumas a serem consideradas: a disciplina eclesiástica presume que as pessoas na igreja sejam identificáveis (Mt 18.15-17). Quando Paulo diz "expulsai, pois, de entre vós o malfeitor", ele está presumindo que algumas pessoas estão dentro e outras estão fora (1Co 5.9-13). O Novo Testamento também contém uma “lista” de membros de uma igreja local, o que mostra que as pessoas eram identificáveis (1Tm 5, v. 9). Em Atos, vemos pessoas sendo contadas regularmente (por exemplo, At 2.41, 4.4). Em Hebreus 13.17, vemos que os presbíteros prestariam contas das pessoas que lideravam, o que pressupõe que eles deviam conhecer aqueles que estavam sob sua supervisão. Sem falar que as metáforas usadas para descrever a igreja (pedras do templo, membros de uma família, cidadãos de um reino, e membros de um corpo) expressam a ideia de membresia e pertencimento.


Há certa flexibilidade em relação à maneira como as igrejas locais podem implementar um sistema saudável de membresia, mas a ênfase no pertencimento a uma comunidade local é muito clara no Novo Testamento. Algumas igrejas têm um sistema de membresia com estruturas bem definidas, outras optam por uma abordagem menos formal. Qualquer que seja o caso, todo cristão deve se comprometer genuinamente a pertencer a uma igreja local. Pertencimento ativo é o primeiro privilégio-responsabilidade de todo cristão, e a porta de entrada para os de fora.


Assista o Sermão completo no Youtube:



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