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Andrei Michel Schwingel

Imaginação nutrida

Deus nos criou com muitas capacidades. Elas variam e podem ser usadas para diferentes finalidades. Deus planejou nossas capacidades para serem usadas na boa criação, na tarefa de multiplicar e encher a terra, cooperar com Ele na tarefa de cultivar e desfrutar do potencial do mundo que Ele criou.


Porém, como seres inteiramente afetados pelo pecado, podemos distorcer as capacidades e usá-las para fins que Deus não planejou quando nos capacitou.


Por exemplo: somos capazes tanto de trabalhar para o bem comum como de maneira a explorar alguém; de falar coisas boas como ruins; de adquirir conhecimento para algo bom como para planejar crimes.


É preciso que o próprio Deus oriente o uso das nossas capacidades e a Bíblia faz isso em diferentes textos. Hoje vamos refletir sobre a capacidade da imaginação.


Deus nos criou com a capacidade de imaginar


Imaginação é um dos atributos da pessoa criada como imagem de Deus, parte de quem nós somos, do que refletimos de Deus. É uma capacidade boa, mas que pode ser distorcida e usada para fins que não são aqueles para os quais Deus nos deu a capacidade de imaginar.


É certo que Deus quer que nós usemos essa capacidade. Provérbios 19.2 diz: “Não é bom agir sem pensar; quem se precipita acaba pecando”. Aqui temos um bom uso da imaginação e um elogio para que se faça uso dessa capacidade de imaginar possibilidades e consequências.


Fazemos muitas outras coisas com nossa imaginação: fazemos planos de casamento, comemorações, viagens;  tomamos decisões no trânsito, em uma partida de esporte; escritores imaginam suas histórias; arquitetos e paisagistas imaginam ambientes;  empresários imaginam soluções para outras pessoas.


Percebam como nós imaginamos coisas antes de elas se tornarem realidade: essa é a grande força da imaginação.


A força da imaginação


Eu gosto de pensar que nossa imaginação cria mundos. Com a imaginação somos conduzidos para mundos em que alguma coisa é diferente da realidade, ainda não aconteceu, pode ou não acontecer, mas nos impacta agora.


Pense em um jovem apaixonado, se imaginando com a pessoa amada; na motivação de trabalhar para ter algo que não temos; para tirar férias em um lugar que gostaríamos. A imaginação nos anima, fortalece.


Porém nem tudo que imaginamos acontece, nem tudo que planejamos acontece. Essas situações nos causam sofrimentos.


Quando crio uma expectativa e ela não se realiza, fico frustrado. Quando crio uma expectativa e não sei esperar pela concretização, fico ansioso. Quando me imagino de uma determinada maneira e não sei lidar com a diferença entre o que sou e o que quero ser, fico deprimido. Quando imagino uma possibilidade ruim para meu futuro e não consigo lidar com a possibilidade de isso se tornar real, fico neurótico. Quando estou diante de uma situação e não consigo imaginar nenhuma saída, fico paralisado, angustiado.


Também podemos pensar em quando nossa imaginação piora nossa situação já difícil. Por exemplo, quando recebemos um exame médico alterado, quando surge um desafio profissional, quando um acidente nos abala; ficamos pensando nos diversos cenários ruins que podem nos acontecer em breve.


Podemos pensar em situações do cotidiano que nos “tiram desse mundo”: quando acontece uma briga no casamento e ficamos refazendo ela na nossa imaginação, quando ficamos remoendo uma situação que aconteceu com um filho.


Por não achar saída, muitos sucumbem dentro do seu mundo imaginário. Seu corpo está aqui, mas seu coração está lá. Outros gostam tanto do mundo imaginário, que passam o tempo todo falando dele aqui.


Em Provérbios 4.23 a Bíblia nos alerta sobre a força da imaginação “Tenha cuidado com o que você pensa, pois a sua vida é dirigida pelos seus pensamentos” (NTLH).


Por vezes apenas uma intervenção de Deus nos tira da escuridão em que nos colocamos com nossa imaginação.


A imaginação expõe nossa corrupção interior


A Bíblia mostra vários exemplos de como a maneira que usamos nossa imaginação expõe nossa corrupção interior.


Em Gênesis 6:5, um pouco antes de enviar o dilúvio, Deus observou: “O Senhor viu que a maldade humana foi ficando cada vez pior, e que a imaginação e os pensamentos dos seres humanos os levavam unicamente para o mal.” (NBV)


Jesus também alertou a mesma coisa em Marcos 7.20-23: “E dizia: — O que sai da pessoa, isso é o que a contamina. Porque de dentro, do coração das pessoas, é que procedem os maus pensamentos, as imoralidades sexuais, os furtos, os homicídios, os adultérios, a avareza, as maldades, o engano, a libertinagem, a inveja, a blasfêmia, o orgulho, a falta de juízo. Todos estes males vêm de dentro e contaminam a pessoa.” (NAA)


Tiago escreveu que a tentação vem da fascinação que o homem tem pelos seus próprios pensamentos: “Mas a tentação vem da fascinação dos próprios pensamentos e desejos maus do homem. Estes maus pensamentos levam ao pecado, e, quando o pecado é consumado, leva à morte.” Tiago 1.14-15 (NBV)


Por fim, Paulo descreve a mente e os pensamentos dos pagãos: “Portanto, em nome do Senhor eu digo e insisto no seguinte: não vivam mais como os pagãos, pois os pensamentos deles não têm valor, e a mente deles está na escuridão. Eles não têm parte na vida que Deus dá porque são completamente ignorantes e teimosos. Eles perderam toda a vergonha e se entregaram totalmente aos vícios; eles não têm nenhum controle e fazem todo tipo de coisas indecentes.” Efésios 4:17-19 (NTLH)


Precisamos de mudança


Fica claro que precisamos de uma mudança! O que a Bíblia nos instrui, é que precisamos substituir a maneira de viver: “Quanto à antiga maneira de viver, dispam‑se do velho homem, que se corrompe por desejos enganosos, para serem renovados no modo de pensar e se vestirem do novo homem, criado para ser semelhante a Deus em justiça e santidade provenientes da verdade.” Efésios 4:22-24 (NVI)


Em Efésios 4.25-32, Paulo dá vários exemplos de como substituir as maneiras antigas por novas:

• “deixando a mentira, que cada um fale a verdade”

• “aquele que roubava não roube mais; pelo contrário, trabalhe, fazendo com as próprias mãos o que é bom, para que tenha o que repartir com o necessitado”

• “não saia da boca de vocês nenhuma palavra suja, mas unicamente a que for boa para edificação, conforme a necessidade, e, assim, transmita graça aos que ouvem.

• “que não haja no meio de vocês qualquer amargura, indignação, ira, gritaria e blasfêmia, bem como qualquer maldade. Pelo contrário, sejam bondosos e compassivos uns para com os outros, perdoando uns aos outros, como também Deus, em Cristo, perdoou vocês.”


Em Filipenses 4.6-7, o mesmo Paulo nos orienta sobre como fazer isso em relação a nossa imaginação: “Não fiquem preocupados com coisa alguma, mas, em tudo, sejam conhecidos diante de Deus os pedidos de vocês, pela oração e pela súplica, com ações de graças. E a paz de Deus, que excede todo entendimento, guardará o coração e a mente de vocês em Cristo Jesus.”


Notem a substituição que ele sugere: ao invés de andarmos preocupados, devemos levar nossos pedidos a Deus em oração e súplica, agradecendo por tudo que Ele já fez por nós.


Nos versículos seguintes, 8 e 9, Ele ainda sugere que temos o poder de governar nossos pensamentos e, se os pensamentos forem bem ordenados, a vida exterior os seguirá: “Finalmente, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é respeitável, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se alguma virtude há e se algum louvor existe, seja isso o que ocupe o pensamento de vocês. O que também aprenderam, receberam e ouviram de mim, e o que viram em mim, isso ponham em prática; e o Deus da paz estará com vocês.”


Ele está orientando a focar intencionalmente e continuamente nossas mentes nessas virtudes, permitindo que elas moldem nossos pensamentos, atitudes e ações, levando a uma vida que honra a Deus e reflete Sua bondade.


Como podemos praticar isso? Eu quero sugerir que nós já temos exercitado essa capacidade, mas com o foco corrompido. Nós temos permitido que os valores do mundo moldem nossa imaginação. Quando usamos nossa imaginação, nosso foco não é virtuoso, é viciado, é corrompido.


A substituição aqui é fazer com que os mundos que criamos na nossa imaginação sejam inspirados por essas características elevadas. Que elas guiem nossos pensamentos e direcionem nossos motivos.


É um processo de transformação do pensamento e das ações. Deus opera em nós, capacitando-nos "tanto o querer quanto o realizar, de acordo com a boa vontade dele" (2.13). E nós, percebendo qual é a boa vontade de Deus, vamos optando por pensar e fazer essa vontade.


Nosso pensamento vai sendo moldado por padrões mais elevados, nossas ações vão sendo orientadas pelo ensino dos apóstolos. E o Deus da paz estará conosco nessa jornada.


Colossenses 3.2 diz a mesma coisa: “Pensem nas coisas lá do alto, e não nas que são aqui da terra”. Também Romanos 12.2: “E não vivam conforme os padrões deste mundo, mas deixem que Deus os transforme pela renovação da mente, para que possam experimentar qual é a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.”


Nossa mente precisa ser renovada, precisa perder o padrão do mundo.


O padrão do mundo


A Bíblia descreve padrões do mundo e podemos observá-los de diferentes maneiras na história. Do mundo contemporâneo, quero destacar dois padrões ligados ao tema de hoje.


Independência


Uma característica muito presente nos pensamentos hoje é descrita em Salmos 10.4: “Em sua presunção o ímpio não o busca; não há lugar para Deus em nenhum dos seus planos.” (NVI)


O padrão do mundo contemporâneo é não considerar a existência de Deus.


É a tentação de, em todos meus planos, considerar apenas a mim mesmo e meus valores, me considerar independente de Deus.


“É uma busca por dar valor à minha vida por meio de minhas próprias obras, é como uma salvação por obras.


Quando imaginamos o futuro, planejamos, tomamos decisões, todos estamos querendo contar uma história com a nossa vida. A diferença é de onde vem o nosso enredo, de qual história eu estou fazendo parte. 


Todo mundo recebeu um enredo de algum lugar, isso pode estar claro na nossa cabeça ou não. O que quero ser, o que quero provar, o que quero conquistar, quem eu quero superar.” (Guilherme de Carvalho)


Nossa imaginação não serve apenas para momentos isolados, decisões pontuais. A maneira como usamos nossa imaginação serve a um enredo maior sobre o que pensamos de nós mesmos, de nossa participação no mundo, na vida das outras pessoas.


A maneira como imagino o uso das minhas capacidades, reflete uma história maior que orienta quem eu sou.


Para o cristão, o enredo do qual queremos demonstrar que fazemos parte, é o de Deus redimindo todas as coisas. Assim poderemos substituir essa maneira de pensar do mundo.


Dependência: eu na história da redenção


Sabendo que Deus está redimindo toda criação e entendendo que esta é a minha história, então me engajo nela como participante.


Como um participante dessa história, faz sentido abandonar os padrões do mundo e deixar Deus renovar minha mente. Faz sentido pensar nas coisas do alto e fazer ocupar os meus pensamentos com tudo que é verdadeiro, respeitável, justo, puro, amável, de boa fama, virtuoso e louvável.


Faz sentido desenvolver disciplinas espirituais para forjar minha fé. Abrir a Bíblia e procurar entender o que é felicidade? Por que estou aqui? Por que eu trabalho? Como eu gasto meu dinheiro? Por que eu me relaciono? O que é a família? Qual a minha vocação? Qual meu papel na sociedade?


Me expor a Deus em oração para que Ele atue em mim, me fazendo mais semelhante a Jesus, desenvolvendo aquilo que Ele me convida a desenvolver. Encontrar e participar de uma comunidade de pessoas que estão fazendo o mesmo. Aprender a ouvir a voz de Deus para fazer escolhas, me tornar sábio, discernir o bem e o mal.


Ansiedade e pressa


O segundo padrão que observamos na mente moldada pelo mundo é a ansiedade e a pressa. Falei anteriormente sobre a força da imaginação e como nós distorcemos essa capacidade que Deus nos deu. Ansiedade e pressa são exemplos práticos disso, como usar a força da imaginação de maneira distorcida afeta nossa maneira de viver.


Ouça essas duas definições.


Primeira definição: “a ansiedade é uma perversão da ordem natural do tempo, seja para o bem, seja para o mal” (Bíblia Fé e Trabalho, SBB). 


Nosso mundo é apressado e nos molda dessa forma. Não devemos nos deixar ser moldados.

A pressa não forja uma fé madura, mas sim cristãos ansiosos, manipuladores e inseguros.


Falei de substituição antes. Hoje poderíamos parafrasear Paulo destas maneiras: ‘aquele que vivia verificando seu celular, que aprenda a esperar”, “aquele que sempre quer respostas imediatas de Deus, que aprenda a esperar”, “aquele que não consegue ouvir alguém falar devagar, que aprenda a ouvir”.


Segunda definição: “A ansiedade é a antecipação indevida de uma expectativa. Quando sabemos de algo que “poderá” acontecer amanhã ou depois, nossas emoções reagem a isso nos “empurrando” para o futuro desejado ou nos apavorando com um acontecimento que não desejamos.” (Bíblia Fé e Trabalho, SBB)


Deus trabalha em nós pela espera, mas nós torcemos o ritmo natural com antecipação. Antecipar o que Deus não revelou, o que está fora do controle, traz ansiedade. Antecipar o que Deus já revelou, traz esperança (Lamentações 3.1-24).


A ansiedade e a pressa em nossa mente devem ser substituídas pela certeza do cuidado de Deus e pelo relacionamento com Ele enquanto esperamos.


Em Mateus 6.25-34, Jesus diz que “o Pai de vocês, que está no céu, sabe que vocês precisam”. Ao invés de andar preocupados, Ele convida: “busquem em primeiro lugar o Reino”.


Em 2Pedro 1.3-15, lemos que “pelo poder de Deus nos foram concedidas todas as coisas que conduzem à vida e à piedade”. Assim como Paulo, Pedro também lista várias virtudes elevadas que devem fazer parte da nossa vida. E alerta: “aquele que não tem estas coisas é cego, vendo só o que está perto”. A falta de motivações elevadas nos faz ver somente o que está perto! Só a situação que eu sou capaz de observar. Deus é quem amplia nossa imaginação para coisas maiores.


Pedro insiste que nos empenhemos por obter essas qualidades, para não sermos infrutíferos e não tropeçarmos. Isso é tão importante que ele menciona várias vezes dos versículos 12 a 15 que ele quer “lembrar” seus leitores de fazer isso.


Conclusão


“A Bíblia nesse tem o poder de fazer com que o cristão, e aquele que está acolhendo as escrituras pregadas como palavra de Deus, reimaginar a realidade à luz dessa palavra. Não é incomum que cristãos, ao irem à igreja, ouvirem o anúncio e a pregação da palavra de Deus, calibrem suas afeições, seu coração, suas expectativas, sua espiritualidade e as impulsionem em direção a quem Deus é.” (Guilherme de Carvalho)


Comentando sobre 2Coríntios 4:18, “Porque nós não prestamos atenção nas coisas que se veem, mas nas que não se veem. Pois o que pode ser visto dura apenas um pouco, mas o que não pode ser visto dura para sempre.” (NTLH), Rick Warren escreve: “A Bíblia diz que precisamos nos concentrar nas coisas duradouras – nas coisas que não podemos ver com nossos olhos. Para fazer isso temos que imaginá-las. A imaginação molda nossa vida e é essencial para viver pela fé.”


1Pedro 1.3-9 nos dá um belo exemplo disso ao dizer que mesmo não vendo Deus, crendo na viva esperança para a qual Ele nos salvou, isso nos alegra de maneira indescritível: “Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que, segundo a sua grande misericórdia, nos regenerou para uma viva esperança, mediante a ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos, para uma herança que não pode ser destruída, que não fica manchada, que não murcha e que está reservada nos céus para vocês, que são guardados pelo poder de Deus, mediante a fé, para a salvação preparada para ser revelada no último tempo. Nisso vocês exultam, embora, no presente, por breve tempo, se necessário, sejam contristados por várias provações, para que, uma vez confirmado o valor da fé que vocês têm, muito mais preciosa do que o ouro perecível, mesmo apurado pelo fogo, resulte em louvor, glória e honra na revelação de Jesus Cristo. Mesmo sem tê-lo visto vocês o amam. Mesmo não o vendo agora, mas crendo nele, exultam com uma alegria indescritível e cheia de glória, obtendo o alvo dessa fé: a salvação da alma.”


“A vida cristã é uma relação com o futuro, mas essa relação não é apenas imaginativa, ela é antecipatória.” (Guilherme de Carvalho)


"Em nossos pensamentos e vidas agora devemos viver como tendo já morrido, visitado o céu, e retornado novamente ressuscitados." (Francis Schaeffer)


Que o Espírito de Deus e a Palavra de Deus alimentem sua imaginação.


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