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Foto do escritorChristian Lo Iacono

Lidando com a ansiedade| Parte I

Introdução – alerta de Jonathan Haidt sobre os danos à infância e à adolescência causados pela exposição às novas tecnologias, especialmente o celular


Segundo o professor de psicologia social Jonathan Haidt, na obra A Geração Ansiosa – como a infância hiperconectada está causando uma epidemia de transtornos mentais, best seller nº 1 do The New York Times, na virada do milênio, empresas de tecnologia instaladas na Costa Oeste dos Estados Unidos desenvolveram um conjunto de produtos revolucionários que tiravam partido do rápido crescimento da internet. Diante dessas tecnologias, o clima geral era de otimismo; esses produtos tornavam a vida mais fácil, mais divertida e mais produtiva. Alguns favoreciam a aproximação das pessoas e a comunicação entre elas, sugerindo que seriam uma bênção para o número cada vez maior de democracias emergentes no mundo. Os fundadores dessas empresas eram aclamados como heróis, gênios, benfeitores mundiais.


No entanto, a indústria da tecnologia estava transformando não apenas a vida dos adultos, mas também a dos jovens. É verdade que desde os anos 1950 crianças e adolescentes viam bastante televisão, porém as novas tecnologias eram muito mais portáteis, personalizadas e envolventes que tudo o que havia vindo antes. Os pais descobriram isso cedo, quando, em 2008, um filho de 2 anos já podia aprender a lógica toca e arrasta do iPhone. Muitos pais ficaram aliviados ao perceber que um smartphone ou tablet podia manter a criança entretida, feliz e quietinha ao longo de horas. Era seguro? Ninguém sabia, mas, como todo mundo estava usando, presumia-se que fosse.


As empresas de tecnologia haviam feito poucas pesquisas, quando não nenhuma, acerca dos efeitos de seus produtos sobre a saúde mental de crianças e adolescentes, e não compartilharam informações com pesquisadores que começaram a estudar a questão. Confrontadas com cada vez mais evidências de que seus produtos eram prejudiciais aos jovens, a maioria optou por negar, tergiversar ou apelar para campanhas de relações públicas. As empresas que pretendiam aumentar ao máximo o "engajamento" dos jovens se valendo de estratégias psicológicas se revelaram as maiores transgressoras. Fisgavam as crianças em estágios vulneráveis do desenvolvimento, quando seu cérebro se reconfigurava rapidamente em resposta aos estímulos.


As redes sociais, por exemplo, causavam maior dano em meninas, e empresas de jogos on-line e sites de pornografia afetavam com mais contundência os meninos. Ao desenvolver um fluxo sem filtro e em tempo real de conteúdo viciante que entrava pelos olhos e ouvidos das crianças, e ao substituir o aspecto físico na socialização, essas empresas reconfiguraram a infância e transformaram o desenvolvimento humano em uma escala quase inimaginável. O período mais intenso de mudança foi entre 2010 e 2015.


Que limites legais impusemos a essas empresas de tecnologia, pergunta Haidt? Nos Estados Unidos, que acabaram por estabelecer o padrão para a maioria dos outros países, a principal barreira é a Lei de proteção da privacidade das crianças na internet, ou Coppa, na sigla em inglês, promulgada em 1998: crianças com menos de 13 anos precisam da autorização dos pais para assinar um contrato com uma empresa (os termos de serviço) e assim ceder seus dados e alguns de seus direitos ao abrir uma conta.


Na prática, isso estabelece a "maioridade na internet" aos 13 anos, por motivos que pouco têm a ver com a segurança ou a saúde mental das crianças. Mas a lei não exige que as empresas comprovem a idade; basta a criança clicar na caixinha confirmando que tem a idade permitida (ou use uma data de nascimento falsa) e ela pode acessar praticamente toda a internet sem o conhecimento ou a autorização dos pais. Na verdade, 40% das crianças americanas com menos de 13 anos criaram uma conta no Instagram. Mesmo assim, desde 1998 não houve nenhuma alteração nas leis federais relativas ao tema.


Algumas dessas empresas se comportam como a indústria do tabaco e do vape, que desenvolvem seus produtos para ser altamente viciantes e depois contornam as leis que limitam a propaganda para menores de idade. Também podemos compará-las às petrolíferas que se opuseram à proibição da gasolina com chumbo. Em meados do século XX, acumularam-se evidências de que as centenas de toneladas de chumbo liberadas anualmente para a atmosfera, levando em conta apenas os motoristas nos Estados Unidos, interferiam no desenvolvimento cerebral de dezenas de milhares de crianças, prejudicando seu desenvolvimento cognitivo e agravando o comportamento antissocial. Ainda assim, as petrolíferas continuaram a produzir e a comercializar gasolina com chumbo.


É claro que há uma enorme diferença entre as grandes fabricantes de cigarros de meados do século XX e as empresas de mídias sociais de hoje, que comercializam produtos úteis para adultos, que os ajudam a encontrar informações, trabalho, amigos, amor e sexo, facilitando a vida das mais diversas formas. A maioria de nós ficaria feliz em viver em um mundo sem cigarro; as redes sociais, por outro lado, são muito mais valiosas, úteis e até mesmo queridas pelos adultos. Algumas pessoas se viciam nessas redes ou em outras atividades on-line, porém, assim como no caso do cigarro, do álcool ou dos jogos em geral, elas são livres para tomar as próprias decisões.


O mesmo não acontece com menores de idade. Embora as partes do cérebro que buscam recompensa se consolidem depressa, o córtex pré-frontal – indispensável para o autocontrole, a recompensa diferida e a resistência à tentação – não opera em sua capacidade total até os vinte e poucos anos, e pré-adolescentes estão em um ponto ainda mais vulnerável do desenvolvimento. Com a entrada na puberdade, eles costumam se sentir socialmente inseguros, suscetíveis à pressão dos pares e atraídos com facilidade por qualquer atividade que pareça oferecer validação social. Não permitimos que pré-adolescentes comprem cigarro, álcool ou frequentem cassinos. Os custos de utilizar redes sociais são particularmente altos na adolescência, em comparação com a vida adulta, e os benefícios são mínimos.


Estamos falando da geração nascida depois de 1995, popularmente conhecida como geração Z, aquela que se segue aos millennials (nascidos entre 1981 e 1995). Alguns afirmam que crianças nascidas depois de 2010 já fazem parte da geração alfa, porém Haidt não acredita que possamos estabelecer o fim da geração Z – a geração ansiosa – antes de mudarmos as condições que vêm tornando os jovens ansiosos dessa maneira.


Graças ao trabalho revolucionário da psicóloga social Jean Twenge, sabemos que as diferenças entre as gerações vão além dos eventos que as crianças vivenciam (como guerras e depressões) e incluem mudanças nas tecnologias que elas usam (rádio, depois televisão, depois computadores, depois internet, depois smartphones). As pessoas mais velhas da geração Z entraram na puberdade por volta de 2009, quando várias tendências tecnológicas convergiram: a rápida expansão da banda larga na década de 2000, a chegada do iPhone em 2007 e a nova era de redes sociais hiperviralizadas — iniciada em 2009, com os botões de "curtir" e "compartilhar" (ou "retuitar"), que transformaram a dinâmica social do mundo on-line. Antes de 2009, a principal função das redes era manter contato com amigos – elas tinham menos recursos de feedback instantâneo que geravam repercussões, o que significava que eram muito menos tóxicas do que hoje.


Uma quarta tendência teve início poucos anos atrás, com um impacto muito maior nas meninas do que nos meninos: o aumento no número de publicações de selfies, depois que as câmeras frontais passaram a ser acopladas aos smartphones (2010) e o Facebook comprou o Instagram (2012), o que fez sua popularidade explodir. Ampliou-se o número de adolescentes postando, para seus pares e desconhecidos, imagens e vídeos cuidadosamente elaborados e selecionados de sua vida, não apenas para serem vistos, mas julgados.


A geração Z foi a primeira a passar pela puberdade com um portal no bolso, que os afastava das pessoas próximas e os atraía para um universo alternativo empolgante, viciante, instável e — como é possível mostrar – inadequado a crianças e adolescentes. Ser socialmente bem-sucedido nesse universo exigia que eles dedicassem grande parte de sua consciência – o tempo todo — a gerenciar o que viria a se tornar sua marca na internet. Isso agora era necessário para que fossem aceitos por seus pares, o que é vital na adolescência, e para evitar o linchamento na internet, o maior pesadelo da adolescência.


Os adolescentes da geração Z se viram obrigados a passar muitas horas de seus dias navegando pelas publicações felizes e reluzentes de amigos, conhecidos e desconhecidos. Assistiram a um número cada vez maior de vídeos criados por usuários e empresas de entretenimento transmitidos por streaming, oferecidos a eles por reprodução automática e por algoritmos projetados para mantê-los conectados o máximo possível. Os adolescentes da geração Z passaram muito menos tempo brincando, conversando, tendo contato com seus amigos e parentes, ou até mesmo fazendo contato visual com eles, o que reduziu suas interações sociais corporificadas e essenciais para o bom desenvolvimento humano.


Os membros da geração Z são, portanto, cobaias de uma maneira radicalmente nova de crescer e que é muito distante das interações em comunidades pequenas no mundo real a partir das quais os humanos evoluíram. Podemos chamar esse fenômeno de Grande Reconfiguração da Infância, segundo Haidt. Essa Grande Reconfiguração não envolve apenas mudanças na tecnologia que moldaram os dias e a mente das crianças. Há uma segunda história, que é a da guinada bem-intencionada, porém desastrosa, em direção à superproteção das crianças e à restrição de sua autonomia no mundo real.


Crianças precisam brincar livres para se desenvolver. Isso é evidente em todas as espécies mamíferas. Os pequenos desafios e reveses que surgem nesse universo restrito do brincar são uma vacina que prepara as crianças para encarar desafios maiores depois. No entanto, por diferentes motivos históricos e sociológicos, o brincar livre entrou em declínio nos anos 1980, com uma queda acelerada na década de 1990. Adultos nos Estados Unidos, no Reino Unido e no Canadá começaram a temer cada vez mais que, se deixassem os filhos andar na rua sem supervisão, eles seriam alvo de sequestradores e predadores sexuais. O fim do brincar não supervisionado ao ar livre coincidiu com a ascensão do computador pessoal como um meio mais convidativo para passar o tempo livre.


O fim dos anos 1980 é o começo da transição de uma "infância baseada no brincar" para uma "infância baseada no celular'", uma transição que só terminou em meados da década de 2010, quando adolescentes passaram a ter o próprio smartphone. Haidt uso o termo "celular" em seu sentido mais amplo, incluindo todos os aparelhos eletrônicos pessoais com acesso à internet que vieram a preencher o tempo dos jovens, incluindo laptops, tablets, jogos on-line e, o mais importante, smartphones com milhões de aplicativos.


Quando ele fala em uma "infância" baseada no brincar ou no celular, o termo "infância" é usado de forma ampla, com a intenção de incluir tanto crianças quanto adolescentes. Especialistas na psicologia do desenvolvimento costumam considerar que o início da puberdade é a transição da infância para a adolescência, porém, como a puberdade chega em idades diferentes em crianças diferentes, e como nas décadas recentes ela tem se adiantado, a adolescência hoje não compreende mais os anos que compreendia antes (Steinberg). Jonathan Haidt adota a seguinte classificação: a) Crianças – 0 a 12 anos; b) Adolescentes – 10 a 20 anos.


A sobreposição entre crianças e adolescentes é intencional: quem tem entre 10 e 12 anos está entre a infância e a adolescência, e por isso muitas vezes é chamado de pré-adolescente. Nessa faixa, brinca-se como as crianças mais novas, no entanto as complexidades sociais e psicológicas da adolescência começam a se desenvolver.


Conforme avançou a transição da infância baseada no brincar para a infância baseada no celular, muitas crianças e adolescentes se mostraram perfeitamente felizes em ficar dentro de casa, na internet, mas, no processo, deixaram de se expor aos desafios físicos e de experiência social de que todos os jovens precisam para desenvolver habilidades básicas, superar medos inatos e se preparar para depender menos dos pais. Interações virtuais com pares não compensam totalmente a perda dessas experiências.


Mais que isso: aqueles cujo tempo livre e cuja vida social migraram para a internet se viram navegando cada vez mais em espaços adultos, consumindo conteúdos adultos e interagindo com adultos de maneiras muitas vezes prejudiciais a menores. Assim, mesmo com os pais se esforçando para limitar os riscos e a liberdade no mundo real, de modo geral, e muitas vezes sem consciência, eles concederam independência total no mundo virtual, em parte porque a maioria tinha dificuldade de compreender o que se passava ali, e mais ainda de saber o que restringir e de como fazê-lo.


A afirmação central de Jonathan Haidt é que essas duas tendências – superproteção no mundo real e subproteção no mundo virtual – são as principais responsáveis por tornar as crianças nascidas depois de 1995 a geração ansiosa.


Quando Haidt fala "mundo real", está se referindo a relacionamentos e interações sociais caracterizados por quatro traços característicos há milhões de anos:


1. São corporificados, ou seja, usamos nosso corpo para nos comunicar, temos consciência do corpo dos outros e respondemos ao corpo dos outros de modo tanto consciente quanto inconsciente;


2. São síncronos, ou seja, acontecem ao mesmo tempo, com sutilezas relacionadas a timing e revezamento;


3. Envolvem primariamente comunicação um para um ou um para alguns, com apenas uma interação acontecendo em determinado momento;


4. Ocorrem dentro de comunidades com custo de entrada e saída, de modo que as pessoas se sentem fortemente motivadas a investir em relacionamentos e a se reconciliarem umas com as outras em caso de rachas.


Por outro lado, quando ele fala de "mundo virtual", está se referindo a relacionamentos e interações sociais representados por quatro traços característicos há apenas algumas décadas:


1. São descorporificados, ou seja, nenhum corpo é necessário, basta a linguagem. A outra parte pode ser (e já é) uma inteligência artificial (IA);


2. São altamente assíncronos, ou seja, acontecem através de publicações baseadas em textos e comentários; (já uma ligação por vídeo é síncrona)


3. Envolvem um número substancial de comunicações um para muitos, transmitindo para um público potencialmente vasto. Múltiplas interações podem ocorrer em paralelo;


4. Ocorrem dentro de comunidades sem custo de entrada e saída, de modo que as pessoas podem simplesmente bloquear outras ou sair quando não estão satisfeitas. Em geral, as comunidades têm vida curta e os relacionamentos muitas vezes são descartáveis.


Na prática, os limites se confundem. O fator-chave é o comprometimento exigido para fazer o relacionamento funcionar. Quando as pessoas são criadas em comunidades das quais não podem escapar com facilidade, fazem aquilo que nossos ancestrais fizeram ao longo de milhões de anos: aprendem a gerenciar relacionamentos e a gerenciar a si mesmas e a suas emoções com o intuito de preservar esses relacionamentos tão preciosos. Com certeza há muitas comunidades na internet que encontraram maneiras de criar compromissos interpessoais e uma sensação de pertencimento fortes, porém, no geral, quando crianças são criadas em múltiplas redes mutantes, em que não há necessidade de usar o nome verdadeiro e das quais é possível sair apertando um simples botão, elas ficam menos propensas a desenvolver tais habilidades.


Haidt expõe os fatos relacionados ao declínio da saúde mental e do bem-estar dos adolescentes no século XXI, mostrando o impacto devastador da mudança acelerada para a infância baseada no celular. O declínio da saúde mental é indicado por um aumento acentuado nos índices de ansiedade, depressão e automutilação desde o começo da década de 2010, com maior impacto nas meninas. Nos meninos, foi um pouco diferente. A piora em geral foi menor (a não ser nos números de suicídios), e às vezes começa um pouco mais cedo.


As origens da crise de saúde mental da década de 2010 remontam à ascensão do medo e da superproteção nos anos 1990. Haidt mostra como os smartphones e a superproteção agiram como "inibidores de experiência", que dificultaram que crianças e adolescentes tivessem o tipo de experiência social corporificada de que mais precisavam, de brincadeiras mais arriscadas a aprendizado cultural, ritos de passagem etc.


Haidt também apresenta pesquisas que mostram que uma infância baseada no celular prejudica o desenvolvimento infantil de muitas formas, com quatro prejuízos fundamentais: privação de sono, privação social, fragmentação da atenção e vício. Ao se concentrar nas meninas, ele mostra que o uso das redes sociais não apenas está correlacionado a transtornos mentais, mas é sua causa, expondo evidências empíricas das inúmeras maneiras como isso acontece. Ele também explica como a saúde mental dos meninos se deteriora seguindo uma lógica um pouco diferente. Ele mostra como a Grande Reconfiguração contribuiu para uma incidência maior do que se convenciona chamar em inglês de failure to launch – também conhecida como síndrome de Peter Pan –, a dificuldade de fazer a transição da adolescência para a vida adulta e as responsabilidades associadas a ela.


Em 2017, Haidt relata que ficou evidente que o aumento dos índices de depressão e ansiedade ocorria em muitos países, entre adolescentes de nível de escolaridade, classe social e raça diferentes. Na média, pessoas nascidas após 1996 eram psicologicamente diferentes daquelas nascidas mesmo que poucos anos antes. Quando escreveu A Geração Ansiosa, em 2023, havia muito mais pesquisas disponíveis — tanto experimentais quanto correlacionais — que comprovam os danos que as redes sociais provocam em adolescentes, em especial meninas na puberdade.


Segundo ele, “temos mais de um século de experiência em tornar o mundo real seguro para as crianças. Os automóveis se popularizaram no início do século XX, e dezenas de milhares de crianças morreram até que os Estados Unidos instituíram a obrigatoriedade do cinto de segurança (nos anos 1960) e do uso da cadeirinha (nos anos 1980). Quando eu estava no ensino médio, no fim dos anos 1970, muitos colegas fumavam, e cigarros podiam ser comprados facilmente em máquinas automáticas. Elas acabaram sendo proibidas, e fumantes passaram a ter que comprar cigarros de atendentes que poderiam comprovar sua idade.


Ao longo de muitas décadas, encontramos maneiras de proteger as crianças, enquanto aos adultos era permitido fazer o que bem entendessem. Então criamos um mundo virtual que satisfizesse os caprichos momentâneos dos adultos e deixamos as crianças praticamente indefesas. Agora, somam-se indícios de que a infância baseada no celular está corroendo a saúde mental de nossas crianças e culminando em isolamento social e uma infelicidade profunda. Vamos deixar que isso aconteça? Ou, como ocorreu no século XX, vamos encarar que às vezes precisamos proteger as crianças mesmo que isso represente incômodos para os adultos?”


Para uma infância mais saudável na era digital, Haidt sugere:

1. Nada de smartphone antes do nono ano escolar. Os pais devem adiar o acesso à internet 24 horas por dia, dando aos filhos apenas celulares básicos (com aplicativos limitados e sem navegador de internet) antes do nono ano escolar (por volta dos 14 anos);

2. Nada de redes sociais antes dos dezesseis. As crianças devem passar pelo período mais vulnerável do desenvolvimento cerebral sem ter acesso a um fluxo sem filtro de comparações sociais e influenciadores escolhidos por algoritmos;

3. Nada de celular na escola. Durante todo o período de aula, em todas as escolas, desde o ensino fundamental até o médio, os alunos devem deixar trancados celulares, smartwatches e quaisquer outros dispositivos pessoais que possam enviar ou receber mensagens. Só assim sua atenção estará disponível para se concentrar nos colegas e professores;

4. Muito mais brincar não supervisionado e independência na infância. É assim que as crianças desenvolvem naturalmente habilidades sociais, superam a ansiedade e se tornam jovens adultos autônomos.


“Considerando que a inteligência artificial (IA) e a computação espacial (como os óculos de realidade virtual Vision Pro da Apple) estão prestes a tornar o mundo virtual muito mais imersivo e viciante, acho melhor começarmos alguma mudança hoje” (Haidt). Segundo o autor, adultos da geração X e gerações anteriores não apresentam um aumento nos índices de depressão clínica ou transtorno de ansiedade desde 2010, porém as novas tecnologias e suas incessantes interrupções e distrações deixam muitos de nós irritados, dispersos e exaustos. “Com a IA generativa permitindo a fabricação de fotos, vídeos e notícias super-realistas, a vida na internet provavelmente vai se tornar muito mais confusa. Mas não precisa ser assim: podemos recuperar o controle de nossa mente.”


No sermão passado, vimos que o amor pela riqueza é um grande mal: alguns “se desviaram da fé” e tiveram “muitas dores” (1Tm 6.10). É insensato considerar alguém previdente se essa pessoa age e pensa como um ganancioso, que só pensa em acumular tesouros sobre a terra (Mt 6.19). "Tesouros no céu" se refere a tudo que é bom e de relevância eterna que vem do que é feito na terra: “Vendam os seus bens e deem esmola; façam para vocês mesmos bolsas que não desgastem, tesouro inesgotável nos céus, onde o ladrão não chega, nem a traça corrói” (Lc 12.33). As coisas mais altamente entesouradas ocupam o "coração", o centro da personalidade, abraçando mente, emoções e vontade.


Jesus, quando falou dos olhos como “a lâmpada do corpo” (Mt 6. 22), está dizendo: (1) ou que o discípulo que "divide seu interesse e tenta focar tanto Deus como as posses [...] não tem visão clara e viverá sem orientação nem direção claras" (Filson); (2) ou que o ser humano que é mesquinho e egoísta não pode realmente ver para onde está indo. Segundo Jesus, ou Deus é servido com devoção total, ou não é servido de maneira alguma.


As tentativas de dividir a lealdade denunciam profundo compromisso com a idolatria, e não compromisso parcial com o discipulado (Carson). Quando o jovem rico, diante do convite de Jesus para vender seus bens e ter um tesouro no céu, se retira triste porque “tinha muito”, ele é um exemplo para nós de que se não for a graça de Deus estaremos perdidos: “— Para os seres humanos isto é impossível, mas para Deus tudo é possível” (Mt 19.26).


Confiança inabalável (6.25-34)


1) O PRINCÍPIO (6.25)


25 "— Por isso, digo a vocês: não se preocupem com a sua vida, quanto ao que irão comer ou beber; nem com o corpo, quanto ao que irão vestir. Não é a vida mais do que o alimento, e não é o corpo mais do que as roupas?"


25 "Por isso", à luz das alternativas demonstradas (vv. 19-24), e assumindo que seus discípulos farão as escolhas certas, Jesus continua preocupado em proibir (ex. vv. 19 e 24). A expressão "Não andeis cuidadosos" (TB), ou mesmo "não se preocupem", pode ser enganosa na linguagem moderna, pois Jesus mesmo exige que pensemos até mesmo sobre aves e flores (vv. 26-30). "Não se preocupem" pode ser falsamente absolutizado, fazendo com que negligenciemos as limitações impostas pelo contexto e as maldições lançadas sobre o descuido, a apatia, a indiferença, a preguiça e a autoindulgência expressas em outras passagens, como no Sermão do Monte.


O ponto aqui é não se preocupar com as necessidades físicas, muito menos com os luxos implícitos nos versículos precedentes, porque essa preocupação sugere que toda nossa existência foca essas coisas e está limitada a elas. Ou seja, se Deus concedeu-nos a vida e o corpo, ambos reconhecidamente mais importantes que alimento e vestimenta, ele também não nos daria esses dois últimos? Por isso, preocupar-se com essas coisas atrai a perda de fé e a perversão de compromissos mais valiosos:


Lc 10.41,42: “Mas o Senhor respondeu: — Marta! Marta! Você anda inquieta e se preocupa com muitas coisas,42 mas apenas uma é necessária. Maria escolheu a boa parte, e esta não lhe será tirada”;


Hb 13.5,6: “Que a vida de vocês seja isenta de avareza. Contentem-se com as coisas que vocês têm, porque Deus disse: ‘De maneira alguma deixarei você, nunca jamais o abandonarei.’ 6 Assim, afirmemos confiantemente: ‘O Senhor é o meu auxílio, não temerei. O que é que alguém pode me fazer?’".


Assista o sermão completo no Youtube:



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