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Foto do escritorChristian Lo Iacono

Lidando com a ansiedade| Parte II

25 — Por isso, digo a vocês: não se preocupem com a sua vida, quanto ao que irão comer ou beber; nem com o corpo, quanto ao que irão vestir. Não é a vida mais do que o alimento, e não é o corpo mais do que as roupas?26 Observem as aves do céu, que não semeiam, não colhem, nem ajuntam em celeiros. No entanto, o Pai de vocês, que está no céu, as sustenta. Será que vocês não valem muito mais do que as aves?27 Quem de vocês, por mais que se preocupe, pode acrescentar um côvado ao curso da sua vida?

28 — E por que se preocupam com o que vão vestir? Observem como crescem os lírios do campo: eles não trabalham, nem fiam.29 Eu, porém, afirmo a vocês que nem Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles.30 Ora, se Deus veste assim a erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada no forno, não fará muito mais por vocês, homens de pequena fé?31 Portanto, não se preocupem, dizendo: "Que comeremos?", "Que beberemos?" ou "Com que nos vestiremos?"32 Porque os gentios é que procuram todas estas coisas. O Pai de vocês, que está no céu, sabe que vocês precisam de todas elas.33 Mas busquem em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas estas coisas lhes serão acrescentadas.

34 — Portanto, não se preocupem com o dia de amanhã, pois o amanhã trará os seus cuidados; basta ao dia o seu próprio mal.

Mateus 6.25-34


25 “— Por isso, digo a vocês: não se preocupem com a sua vida, quanto ao que irão comer ou beber; nem com o corpo, quanto ao que irão vestir. Não é a vida mais do que o alimento, e não é o corpo mais do que as roupas?”


No sermão passado vimos que à luz das alternativas apresentadas, e assumindo que seus discípulos farão as escolhas certas, Jesus continua preocupado em proibir (vv. 19-24). "Não se preocupem" pode ser falsamente absolutizado, fazendo com que sejamos negligentes, descuidados, apáticos, indiferentes, preguiçosos e autoindulgentes – aqueles que buscam desculpar os próprios erros ou que aceitam facilmente os próprios defeitos; autocomplacentes; que expressam complacência, condescendência, ou excesso de tolerância consigo próprios.


O ponto no v. 25 é não se preocupar com as necessidades físicas, muito menos com os luxos implícitos nos versículos anteriores, porque essa preocupação sugere que toda nossa existência foca essas coisas e está limitada a elas. Ou seja, se Deus nos concedeu a vida e o corpo, ambos reconhecidamente mais importantes que alimento e vestimenta, ele não nos daria esses dois últimos? Por isso, se preocupar com essas coisas atrai a perda de fé e a perversão de compromissos mais valiosos:


Lc 10.41,42: “Mas o Senhor respondeu: — Marta! Marta! Você anda inquieta e se preocupa com muitas coisas,42 mas apenas uma é necessária. Maria escolheu a boa parte, e esta não lhe será tirada”;


Hb 13.5,6: “Que a vida de vocês seja isenta de avareza. Contentem-se com as coisas que vocês têm, porque Deus disse: ‘De maneira alguma deixarei você, nunca jamais o abandonarei.’ 6 Assim, afirmemos confiantemente: ‘O Senhor é o meu auxílio, não temerei. O que é que alguém pode me fazer?’".


OS EXEMPLOS (6.26-30)


a) Vida e alimento (6.26,27)


26-27 "Observem as aves do céu, que não semeiam, não colhem, nem ajuntam em celeiros. No entanto, o Pai de vocês, que está no céu, as sustenta. Será que vocês não valem muito mais do que as aves?27 Quem de vocês, por mais que se preocupe, pode acrescentar um côvado ao curso da sua vida?"


26 Preocupar-se com o que comer e beber equivale a não ter aprendido nada com a criação natural. Se a ordem criada testifica "o seu [de Deus] eterno poder e a sua divindade” (Rm 1.20), também testifica sua providência. A palavra providência tem o prefixo pro, que significa “antes” ou “em frente de”. A raiz da palavra providência vem do verbo latino videre, que significa “ver”; é desta palavra que temos a palavra vídeo. Portanto, a palavra providência significa, literalmente, “ver de antemão”. A providência de Deus se refere ao seu “ver algo de antemão”, com respeito ao tempo.


Mas a providência não é a mesma coisa que a presciência ou o conhecimento antecipado de Deus. A presciência é a habilidade de Deus de olhar para os corredores do tempo e saber o resultado de uma atividade antes que ela aconteça. No entanto, é apropriado usarmos a palavra providência com referência ao governo ativo de Deus quanto ao universo, porque ele é, de fato, um Deus que vê. Ele vê tudo que acontece no universo. Jesus disse: “— Não se vendem dois pardais por uma moedinha? Entretanto, nenhum deles cairá no chão sem o consentimento do Pai de vocês” (Mt 10.29).


Deus sabe cada vez que um pequeno pássaro cai no chão. Deus não ignora nem mesmo os menores detalhes no universo. Pelo contrário, ele governa o universo com total conhecimento de tudo o que está acontecendo nele. Sim, este tipo de conhecimento íntimo pode ser amedrontador. Mas, porque sabemos que Deus é benevolente e cuidadoso, seu conhecimento abrangente é um consolo. Deus sabe o que precisamos, antes que lhe peçamos. E, quando as nossas necessidades surgem, ele tanto pode como está disposto a nos ajudar. Para mim, não há nada mais reconfortante do que saber que há um Deus de providência, que está ciente não apenas de cada uma de minhas transgressões, mas também de cada uma de minhas dores e de cada um de meus temores.


O ponto de Jesus aqui no Sermão do Monte não é que os discípulos não precisam trabalhar — as aves não esperam apenas que Deus jogue alimento em seus bicos —, mas que eles não precisam se preocupar. Os discípulos podem fortalecer ainda mais sua fé quando lembram que Deus, em um sentido especial, é Pai deles (não o Pai das aves), e que “eles” valem muito mais que as aves (o "vocês" é enfático). Aqui, o argumento é do menor para o maior – das aves para o ser humano.


Esse argumento pressupõe uma cosmologia – estudo do Universo, de sua origem e de sua organização – que seja bíblica, sem a qual a fé não faz sentido. Deus tem tanta soberania sobre o universo que até mesmo a alimentação de um rouxinol está no âmbito de suas preocupações. Como ele normalmente faz coisas de forma regular, há "leis científicas" a serem descobertas, mas o cristão com olhos para ver descobre simultaneamente coisas sobre Deus e sua atividade (Carson, Sermão do Monte, p. 87-90). Sempre precisamos ter cuidado com o ateísmo prático!


27 A palavra hêlikia ("vida") também pode ser traduzida por "estatura" (cf. Lc 19.3); e pêchys ("hora") tem o sentido de "cúbito" (cerca de cinquenta centímetros) ou "idade" (Hb 11.11). Nenhuma combinação se encaixa com facilidade; ninguém poderia ficar tentado a achar que a preocupação acrescentaria cinquenta centímetros a sua estatura (KJV) nem que uma medida linear (cinquenta centímetros) se encaixa facilmente com "vida". Essa disparidade explica a diversidade de traduções. O mais provável é que a medida linear esteja sendo usada no sentido metafórico (cf. "pode acrescentar um côvado ao curso da sua vida?" [ARA]), semelhante a "atravessar um marco" no aniversário. É mais provável que a preocupação abrevie a vida do que a prolongue. “A ansiedade no coração pode abater alguém, mas uma boa palavra traz alegria” (Pv 12.25). Ou seja, esses assuntos estão nas mãos de Deus. Basta confiar nele:


Lc 12.13-21: “— Tenham cuidado e não se deixem dominar por qualquer tipo de avareza, porque a vida de uma pessoa não consiste na abundância dos bens que ela tem.16 E Jesus lhes contou ainda uma parábola, dizendo: — O campo de um homem rico produziu com abundância.17 Então ele começou a pensar: "Que farei, pois não tenho onde armazenar a minha colheita?"18 Até que disse: "Já sei! Destruirei os meus celeiros, construirei outros maiores e aí armazenarei todo o meu produto e todos os meus bens.19 Então direi à minha alma: ‘Você tem em depósito muitos bens para muitos anos; descanse, coma, beba e aproveite a vida.’"20 Mas Deus lhe disse: "Louco! Esta noite lhe pedirão a sua alma; e o que você tem preparado, para quem será?" 21 — Assim é o que ajunta tesouros para si mesmo, mas não é rico para com Deus.”


b) Corpo e vestimenta (6.28-30)


28-30 "— E por que se preocupam com o que vão vestir? Observem como crescem os lírios do campo: eles não trabalham, nem fiam.29 Eu, porém, afirmo a vocês que nem Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles.30 Ora, se Deus veste assim a erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada no forno, não fará muito mais por vocês, homens de pequena fé?"


28 "Lírios do campo" (v. 28) podem ser qualquer uma das abundantes flores silvestres da Galileia, e essas "flores do campo" têm uma correspondência com as "aves do ar". O ponto é um pouco distinto da primeira ilustração em que as aves trabalham, mas não se preocupam. As flores não trabalham nem tecem. Ou seja, a questão não é que os discípulos de Jesus podem optar pelo ócio, mas que a providência e o cuidado de Deus são tão ricos que vestem os gramados com flores silvestres que não são produtivas nem duráveis (v. 30). Nem mesmo Salomão, o mais rico e extravagante dos monarcas de Israel, "em todo o seu esplendor" (v. 29), se adornava como uma dessas flores do campo.


Não é de admirar que Jesus criticasse gentilmente seus discípulos como oligopistoi (“homens de pequena fé”, v. 30); cf. 8.24-26 (barco em tempestade); 14.30-31 (Pedro sobre as águas); 16.8-11 (multiplicação dos pães e a doutrina dos fariseus); e o substantivo abstrato em 17.16-20 (menino endemoniado). Pois a origem da ansiedade é a descrença.


31 "Portanto, não se preocupem, dizendo: ‘Que comeremos?’, ‘Que beberemos?’ ou ‘Com que nos vestiremos?’32 Porque os gentios é que procuram todas estas coisas. O Pai de vocês, que está no céu, sabe que vocês precisam de todas elas."


31,32 À luz do abundante cuidado de Deus ("portanto"), as perguntas apresentadas no versículo 31 (v. 25) não têm resposta; e as atitudes subjacentes são impensadas e uma afronta a Deus, que conhece as necessidades de seu povo (cf. v. 8). Pior, elas são essencialmente pagãs (v. 32), pois os pagãos "correm atrás" (epizêtousin, forma intensificada de "buscar") dessas coisas, não do reino e da justiça de Deus (v. 33). Os discípulos de Jesus devem levar uma vida qualitativamente distinta da vida das pessoas que não confiam no cuidado paternal de Deus e que não têm objetivos fundamentais além das coisas materiais.


33 "Mas busquem em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas estas coisas lhes serão acrescentadas."


33 Em vista dos versículos 31 e 32, esse versículo deixa claro que os discípulos de Jesus não têm simplesmente de se abster de buscar as coisas temporais como seu primeiro objetivo a fim de se diferençarem dos pagãos. Ao contrário, eles têm de substituir essa busca por objetivos muito mais relevantes. Buscar primeiro o reino ("de Deus", em alguns MSS) é desejar acima de tudo entrar nele, submeter-se a ele e participar da tarefa de anunciar as boas-novas do reino salvador de Deus, o reinado messiânico já inaugurado por Jesus, e viver de forma a acumular tesouros no céu com vistas à consumação do reino. É perseguir as coisas pelas quais já se orou nas três primeiras petições do Pai Nosso: “santificado seja o teu nome; 10 venha o teu Reino; seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu” (6.9,10).


Nesse contexto, buscar a justiça de Deus não é buscar justificação (contra Filson, McNeile). "Justiça" deve ser interpretada como em Mt 5.6,10,20; 6.1. É buscar a vida justa em total submissão à vontade de Deus, conforme prescrito por Jesus em todo o Sermão (cf. Przybylski, p. 89-91). Essa justiça leva à perseguição por parte de alguns (5.10), mas outros se tornarão eles mesmos discípulos e louvarão o Pai no céu (5.16). Só esses objetivos já são dignos da submissão sincera de alguém. Pois alguma outra preocupação que domine a mente do indivíduo é a inclinação para inquietação pagã.


"No fim, da mesma maneira que há apenas dois tipos de piedade, a centrada em si mesmo e a centrada em Deus, também há apenas dois tipos de ambição: para si mesmo ou para Deus. Não há uma terceira alternativa" (Stott, p. 172). Nessa estrutura de compromisso, os discípulos de Jesus estão seguros de que todas as coisas necessárias lhes serão concedidas pelo Pai celestial, que demonstra sua fidelidade por meio de seu cuidado até pelas aves e sua preocupação até mesmo com os gramados.


34 “— Portanto, não se preocupem com o dia de amanhã, pois o amanhã trará os seus cuidados; basta ao dia o seu próprio mal."


34 "Portanto", em vista da promessa de Deus de satisfazer as necessidades das pessoas comprometidas com seu reino e sua justiça (v. 33), não se preocupem com o amanhã. Hoje já tem suficiente kakia ("mal"; o que é mal do ponto de vista do homem; uma vez aplicado à colheita, o dano causado pelo granizo [MM]; e frequentemente traduz a palavra hebraica rã'ah ["mal", "azar", "problema"] na LXX: Ec 7.14; 12.1; Am 3.6). Não faz sentido se preocupar com o infortúnio de amanhã, porque o dia de hoje já tem bastante coisa para ocupar nossa atenção e porque o temido infortúnio de amanhã pode jamais vir a acontecer (cf. b Sanhedrin 100b; b Berakoth 9a).


É quase como se Jesus, ciente de que seus discípulos ainda estão inseguros e imaturos, terminasse seu argumento deixando de lado os mais altos ideais e motivos por um momento e, em uma investida extravagante, apelasse para o senso comum. Ao mesmo tempo, ele está ensinando implicitamente que mesmo para seus discípulos a graça de hoje é suficiente só para hoje e não deve ser desperdiçada com o amanhã. Se o amanhã trouxer novo infortúnio, haverá neste dia nova graça para supri-lo:


Lamentações 3.18-25: “Então eu disse: ‘Não tenho mais forças. A minha esperança no Senhor acabou.’ 19 Lembra-te da minha aflição e do meu andar errante, do absinto e da amargura. 20 Minha alma continuamente se lembra disso e se abate dentro de mim. 21 Quero trazer à memória o que pode me dar esperança. 22 As misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos, porque as suas misericórdias não têm fim; 23 renovam-se cada manhã. Grande é a tua fidelidade. 24 A minha porção é o Senhor, diz a minha alma; portanto, esperarei nele. 25 O Senhor é bom para os que esperam nele, para aqueles que o buscam.”


Assista o sermão completo no Youtube:





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