No sermão passado vimos que a misericórdia é um teste para quem se afirma cristão. Não podemos ter uma cara para Deus e outra para o necessitado (Is 1.10-17). A prática da misericórdia não é novidade do NT. Gênesis 2.15, por exemplo, reafirma a misericórdia quando fala que devemos "cultivar e guardar" o jardim de Deus: o jardineiro não destrói a natureza nem a deixa como está. Ele a cultiva e a desenvolve, realçando sua beleza, utilidade e fecundidade. O primeiro ato do ministério de misericórdia aconteceu logo após a Queda: Deus cobriu Adão e Eva com peles de animais (Gn 3.21).
Quando Deus entregou a lei a Moisés, ele estava construindo uma comunidade de fé em que a justiça social era tão obrigatória quanto a justiça pessoal e os padrões morais. Os israelitas eram proibidos de colher toda a plantação de seus campos, para que o pobre respigasse de graça (Êx 23.10-11). Deus mandou que eles doassem aos pobres até que estes não tivessem mais necessidade (Dt 15.7-11), especialmente se o pobre fosse um parente ou vizinho (Lv 25.25,35-38). O dízimo entregue a Deus era usado pelos sacerdotes para ajudar os pobres (Dt 14.28-29).
A lei de Deus exigia que o pobre recebesse mais do que uma simples "esmola”. Quando um escravo ficava livre da dívida e da servidão, ele não poderia ser mandado embora de mãos vazias; deveria receber trigo ou um rebanho do antigo senhor para que se tornasse independente financeiramente (Dt 15.12-15).
Nos últimos anos, ouvimos cada vez mais o ensino bíblico de que cada cristão é um ministro de Deus. Apesar de nem todos os cristãos serem pregadores e apologistas sofisticados, todos são chamados a ser testemunhas de Cristo. Apesar de nem todos serem psicólogos e conselheiros habilidosos, todos devem socorrer o próximo. Sermões, seminários e livros têm martelado esses conceitos em nossa cabeça há anos.
No entanto, ao menos em uma área — o ministério de misericórdia — os leigos deixam o trabalho para os "entendidos". Na verdade, a própria igreja transferiu quase por completo essa responsabilidade para organizações seculares e governamentais. Muitos cristãos não conseguem definir claramente essa tarefa, embora possam compreender muito bem os ministérios de evangelização, educação, adoração, ensino e comunhão. A maioria de nós não busca compreender seriamente o ensino bíblico de que todos os cristãos devem ter o próprio ministério de misericórdia. Cada um de nós deve se envolver ativamente nesse ministério.
O caráter da misericórdia
Lc 10.34,35: “E, aproximando-se, fez curativos nos ferimentos dele, aplicando-lhes óleo e vinho. Depois, colocou aquele homem sobre o seu próprio animal, levou-o para uma hospedaria e tratou dele. No dia seguinte, separou dois denários e os entregou ao hospedeiro, dizendo: ‘Cuide deste homem. E, se você gastar algo a mais, farei o reembolso quando eu voltar.’”
O bom samaritano supriu várias necessidades do homem ferido. A primeira ajuda que ofereceu foi sua presença física: "chegou perto dele". As pessoas que passam por situações de impotência se sentem muito encorajadas com a presença de um amigo, de um defensor. A "defesa" é atitude e relacionamento: espelha a obra sacerdotal de Cristo, que se põe diante do Pai como nosso Advogado (1Jo 2.1).
O samaritano também ofereceu outros tipos de ajuda. Providenciou tratamento médico emergencial, transporte até um abrigo e cuidados médicos subsequentes na hospedaria. Mais ainda, ele pagou a hospedagem do ferido até que este se recuperasse totalmente ou até sua volta. Sabendo dos cuidados médicos necessários (o judeu estava "quase morto") e dos meios de transporte da época, o pagamento deve ter sido generoso!
O alcance da misericórdia do samaritano é amplo: as necessidades física, financeira e emocional da vítima foram atendidas. Isso nos leva a definir o ministério de misericórdia de forma mais concreta. A quais necessidades exatamente esse ministério atende? O que essas necessidades têm em comum? Timothy Keller sugere uma definição prática do ministério de misericórdia: “é satisfazer (1) as necessidades que as pessoas ‘sentem’ por meio de (2) atos concretos.”
Necessidades humanas
Um dos puritanos do passado afirmou: "A graça se aplica à questão do mérito humano; mas a misericórdia se aplica à questão da aflição humana". Teólogos definiram a misericórdia de Deus (eleos, em grego) como o aspecto de sua natureza que o leva a amenizar o sofrimento e a aflição! (Herman Bavinck) "Misericórdia" é o impulso que nos torna sensíveis aos sofrimentos e carências das pessoas e nos leva ao desejo de aliviá-los. Chamamos esses "sofrimentos e carências" de necessidades.
O que são necessidades humanas? Necessidades são dependências. Todo ser humano foi criado como ser dependente. Não somos autossuficientes; somente em Deus podemos nos tornar suficientes. E ainda que houvéssemos mantido comunhão perfeita com Deus, teríamos necessidades. No entanto, não conheceríamos o sofrimento, pois todas as nossas necessidades seriam supridas nele de modo imediato e constante. Agora, porém, separados de Deus, estamos sob maldição, e nossas dependências não supridas resultam em vazio, frustração e dor em todas as áreas da vida. Para entender a natureza de nossas necessidades, precisamos analisar mais de perto a queda do ser humano, a raiz de todos os nossos sofrimentos.
A primeira descrição que a Bíblia faz das consequências do pecado se encontra em Gênesis 3.7-19. Esse texto mostra quatro consequências do pecado de Adão, quatro "alienações". Vamos definir alienação como "desvirtuamento resultante do uso de um objeto para um propósito diferente daquele para o qual foi criado". Se eu usar meu relógio de pulso como martelo, por exemplo, ele sofrerá uma alienação! Por quê? Porque o relógio não foi fabricado para esse propósito. Da mesma forma, o ser humano foi criado para conhecer e servir a seu Deus Criador. Quando ele decidiu ser senhor de si mesmo, a consequência imediata foi uma condição multidimensional de alienação.
Podemos pensar nessas quatro alienações em círculos concêntricos. O círculo básico, no centro, representa a "alienação teológica", nossa separação de Deus. A seguir, há a "alienação psicológica", a separação do nosso eu verdadeiro. Depois, a "alienação social", nossa incapacidade de conviver uns com os outros. O último círculo é o da "alienação física", que se refere a nosso conflito com a desordem e a degradação da natureza.
Alienação em relação a Deus
Em primeiro lugar, nos afastamos ou nos alienamos de Deus. "Ao ouvirem a voz do Senhor Deus, que andava no jardim quando soprava o vento suave da tarde, o homem e a sua mulher se esconderam da presença do Senhor Deus, entre as árvores do jardim" (Gn 3.8). Fica evidente que Deus costumava andar pelo jardim no fim do dia, quando a brisa fresca soprava, e era natural o homem caminhar a seu lado. Que cenário da comunhão e da intimidade usufruíamos com Deus! Agora, porém, o homem sentia medo e angústia na presença de Deus. Ele teve de se esconder do Senhor entre as árvores. "Os Escondidos" seria um bom título para designar a espécie humana. Adão, que deveria proteger o jardim para Deus, tinha agora de usar o jardim para se proteger de Deus. Aqui tem início a grande reviravolta.
A Bíblia ensina claramente, tanto no AT quanto no NT, que pecadores não podem conviver com o Deus santo. “O Senhor desceu sobre o monte Sinai, sobre o alto do monte. O Senhor chamou Moisés para o alto do monte e Moisés foi até lá. 21 E o Senhor disse a Moisés: — Desça e avise ao povo que não ultrapasse o limite até o Senhor para vê-lo, para evitar que muitos deles sejam mortos. 22 Também os sacerdotes, que se aproximam do Senhor, devem se consagrar, para que o Senhor não se volte contra eles” (Êx 19.20-22). “Então Moisés disse: — Peço que me mostres a tua glória. [...] Você não poderá ver a minha face, porque ninguém verá a minha face e viverá” (Êx 33.18,20).
Uma forma de entendermos nossa alienação de Deus é estudando o sistema solar. Existe harmonia entre os planetas porque todos eles giram em torno do mesmo centro: o Sol. Mas se cada planeta tivesse um centro próprio para sua órbita, as colisões seriam inevitáveis. O "centro" de Deus é sua própria glória; tudo que ele faz é consistente com sua natureza justa, santa e perfeita. Nosso "centro", no entanto, é nosso conforto e felicidade; vivemos para nossa própria glória. Portanto, a colisão entre Deus e o homem é inevitável. O ser humano se sente angustiado pela santa presença de Deus e é hostil a ela. Entretanto, nós fomos criados para a comunhão com Deus. Não conseguimos viver com Deus e não podemos viver sem ele. Essa é a essência da condição humana. Essa é a fonte de todos os nossos problemas, e nenhum deles pode ser entendido à parte disso.
Somente em Cristo somos reconciliados com Deus. Paulo ensina que por meio de Cristo recebemos aquela intimidade segura que foi proibida a Moisés: “E não somos como Moisés, que punha um véu sobre o rosto [...] pois só em Cristo ele é removido. [...] E todos nós, com o rosto descoberto, contemplando a glória do Senhor, somos transformados, de glória em glória, na sua própria imagem, como pelo Senhor, que é o Espírito” (2Co 3.13, 14, 18). “Porque Deus, que disse: ‘Das trevas resplandeça a luz’, ele mesmo resplandeceu em nosso coração, para iluminação do conhecimento da glória de Deus na face de Jesus Cristo” (2Co 4.6).
Alienação em relação a si mesmo
Em segundo lugar, nos afastamos de nós mesmos. "Ele respondeu: — Ouvi a tua voz no jardim, e, porque estava nu, tive medo, e me escondi" (Gn 3.10). No início o ser humano era um todo integrado e harmonioso, mas agora experimenta a desintegração. Onde havia paz agora há vergonha, medo e consciência atormentada ("estava nu"). Infelicidade, culpa, perda de identidade, medo, depressão, ansiedade, vícios, suicídio, problemas sexuais — tudo resulta da perda da comunhão com Deus.
Isso acontece porque todos os seres humanos receberam um coração naturalmente criado para adorar. Fomos feitos para servir a Deus com todas as dimensões do nosso ser. Precisamos servi-lo para ter um sentido ou propósito; precisamos conhecê-lo para ter amor (nossa dimensão "relacional"); precisamos estar bem com ele para ter autoestima (nossa "consciência").
Entretanto, o pecado leva todas as pessoas a rejeitar a Deus como única fonte de significado, segurança e valor. Se o rejeitamos, nosso coração precisa viver fabricando ídolos — pessoas, relacionamentos, objetos e condições que, segundo cremos, nos trarão realização. Acreditamos que essas coisas, essas condições, nos proporcionarão o sentido, a segurança e o valor almejados. A motivação, o impulso em direção a esses falsos objetivos é perigosamente forte. É adoração! Achamos que sem esses ídolos morreremos. A Bíblia chama esses impulsos de "desejos da carne": “Eles trocaram a verdade de Deus pela mentira, adorando e servindo a criatura em lugar do Criador, o qual é bendito para sempre. Amém!” (Rm 1.25). “Portanto, façam morrer tudo o que pertence à natureza terrena: imoralidade sexual, impureza, paixões, maus desejos e a avareza, que é idolatria” (Cl 3.5).
Nenhum ídolo, porém, consegue preencher o vazio do nosso coração. Toda idolatria provoca uma fome profunda na alma, pois nada, a não ser o relacionamento com Deus, consegue nos satisfazer. Algumas pessoas escolhem ídolos que estejam mais ao alcance. A princípio sentem certo alívio, mas logo começam a sentir tédio, vazio e uma sensação de "insuficiência". Mas muitas outras pessoas jamais alcançam seus objetivos idólatras, e sentem uma dor profunda – falta de sentido, insegurança total e deficiência profunda de autoestima. Todas essas coisas são marcas da ira de Deus em nossa vida.
Somente em Cristo escapamos dessa inevitável desintegração psicológica: “... e se revestiram da nova natureza que se renova para o pleno conhecimento, segundo a imagem daquele que a criou” (Cl 3.10). “E a se revestir da nova natureza, criada segundo Deus, em justiça e retidão procedentes da verdade” (Ef 4.24).
Alienação em relação às pessoas
Em terceiro lugar, nos afastamos das pessoas. "Então os olhos de ambos se abriram; e, percebendo que estavam nus, costuraram folhas de figueira e fizeram cintas para si" (Gn 3.7). A necessidade repentina de Adão e Eva de terem privacidade não era natural. Quem se rebela contra Deus não têm necessidade de se esconder apenas de Deus, mas também dos semelhantes. O primeiro bate-boca matrimonial, com direito a acusações mútuas e calúnias, explode imediatamente (Gn 3.12,13)! Agora, egocêntricos e com suas paixões guerreando entre si, os seres humanos pecadores entram em rota de colisão (Tg 4.1-3).
C. S. Lewis explica muito bem como a desintegração psicológica leva à desintegração social: “A máquina humana se desmantela de duas maneiras. Uma é quando as pessoas se afastam ou então quando entram em rota de colisão e causam danos a outras [...] A segunda maneira é quando surgem problemas no íntimo da pessoa — quando as diferentes partes do indivíduo (suas faculdades e coisas desse tipo) se distanciam ou interferem umas com as outras [...] Na verdade, uma não acontece sem a outra” (Cristianismo Puro e Simples). Em seguida, ele faz uma analogia: “Imagine que somos uma frota de navios navegando em bloco [...] Se os navios ficarem sempre colidindo, terão vida curta no mar. Por outro lado, se os lemes estiverem descontrolados, eles não conseguirão evitar colisões”.
Como vemos, todos os nossos "problemas sociais" brotam do pecado. As pessoas de esquerda jogam a culpa dos problemas na injustiça, na ganância, no racismo, no imperialismo, nas guerras, na opressão. As pessoas de direita culpam a desintegração da família, o crime, a imoralidade pessoal, o egoísmo e a falta de disciplina. Os dois lados estão certos! Nossos problemas sociais são incontáveis: solidão; conflitos interpessoais, conjugais e familiares; pobreza; luta de classes; constantes confronto e ineficiência da ordem política. Tudo isso é consequência do pecado.
Alienação em relação à natureza
Em quarto lugar, Deus anuncia a Adão e Eva que eles se distanciaram da natureza. Antes "amigável", sob nosso domínio, o mundo natural agora nos é hostil: “maldita é a terra por sua causa; em fadigas você obterá dela o sustento [...] até que você volte à terra [...] porque você é pó, e ao pó voltará" (Gn 3.17,19).
Paulo também menciona a condição anormal da natureza: “A ardente expectativa da criação aguarda a revelação dos filhos de Deus. 20 Pois a criação está sujeita à vaidade, não por sua própria vontade, mas por causa daquele que a sujeitou, 21 na esperança de que a própria criação será libertada do cativeiro da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus” (Rm 8.19-21).
Podemos usar produtos químicos, conservantes e refrigeração para esconder o problema temporariamente, mas até mesmo a natureza está sujeita à deterioração e à desintegração. As flores lindas de hoje estarão amanhã na pilha de matéria orgânica em decomposição. Desastres naturais, fome, doenças, deterioração, deficiência mental e física, envelhecimento e morte são consequências. O mundo, com toda a sua beleza, não passa de um vago reflexo do que seria sem o pecado. John Bradford, mártir inglês, orou: "Se aos teus inimigos, que não te amam (como é o caso da maior parte do mundo), se a eles tu deste fartura de riquezas aqui, mal podemos imaginar o que guardaste contigo para os teus amigos!"
Além de estar se degenerando, a natureza não está mais "sujeita a nós" como estava antes da Queda. O cerne da maldição é que o "pó", a terra, irá nos prover algumas de suas riquezas somente com muita relutância. Somente à custa de grande esforço o ser humano aprende a sobreviver no mundo físico. E embora consigamos manter nossa subsistência, a terra acabará vencendo, pois para ela retornaremos. Lutaremos contra ela a vida inteira, mas terminaremos nossos dias sob sete palmos dela. O notável pregador George Whitefield, querendo enfatizar seu ensino, perguntou ao auditório: "Sabes por que os animais selvagens temem e rosnam e guincham em tua presença? Porque sabem que nos desentendemos com o Mestre deles!"
As mãos curadoras do Rei
Em Cristo, todavia, até mesmo a ordem natural será restaurada. Em Salmos 96.11-13 lemos o que acontecerá quando Jesus voltar para "julgar" governar a terra: “Alegrem-se os céus, e a terra exulte; ruja o mar e a sua plenitude. 12 Alegre-se o campo e tudo o que nele há; cantem de alegria todas as árvores do bosque,13 na presença do Senhor, porque vem, vem julgar a terra; julgará o mundo com justiça e os povos, de acordo com a sua fidelidade.”
É disso que Paulo está falando quando escreve: " ... na esperança de que também a própria criação seja libertada do cativeiro da degeneração, para a liberdade da glória dos filhos de Deus" (Rm 8.21). Paulo está se referindo ao último dia, quando finalmente nos veremos diante de nosso Senhor Jesus e conheceremos a liberdade de estar totalmente submissos a seu reinado. Naquele momento desabrochará nosso eu verdadeiro.
C. S. Lewis: “Ele transformará o mais fraco e imundo de nós em [...] uma criatura maravilhosa, radiante e imortal, que pulsa com tal energia e felicidade e sabedoria e amor que jamais conseguiríamos imaginar. Um espelho brilhante e imaculado que reflete de volta para Deus com perfeição (embora, claro, em menor escala) seu próprio poder, alegria e bondade sem fim”.
Mas não seremos os únicos a ser glorificados. O reinado de cura de Cristo será estendido a tudo o que existe na vida e na natureza. A bem-aventurança do reino é radical e abrangente (Mt 5.3-10). Todas as separações causadas pelo pecado são curadas. O reino de Cristo é a completa reversão de toda maldição de Deus sobre o pecado, pronunciada em Gênesis 3. O reino de Deus é o instrumento de renovação do mundo inteiro e da vida em todas as suas dimensões. Do trono de Jesus Cristo fluem vida nova e poderes tais que nenhuma doença, deterioração, pobreza, desonra e dor conseguem lhe resistir.
A igreja e o reino
Se o ministério do reino é restaurar todas as consequências do pecado em todas as áreas da vida, então a igreja deve usar intencionalmente seus recursos para ministrar em cada uma dessas áreas ou "círculos". Não devemos somente evangelizar; devemos ser um corpo que oferece "serviço completo". Isso fica claro por meio de uma rápida consideração do relacionamento da igreja com o reino de Deus. Vejamos o que aprendemos até agora sobre o reino.
1. Deus criou o mundo para estar debaixo de seu governo e autoridade.Todas as coisas foram criadas para serem governadas por Deus, e elas somente cumprem seu papel quando estão sob o domínio dele.
2. O pecado desvirtuou o governo de Deus, e o universo caiu vítima de ruína e morte em todas as dimensões: pessoal, psicológica, social, física.
3. Cristo veio para trazer de volta o reino de Deus à terra. O reino é o poder do rei. O reino de Deus, então, é a renovação do mundo inteiro por meio de forças sobrenaturais. Quando as coisas são devolvidas ao governo e à autoridade de Cristo, elas se tornam novamente saudáveis, belas e livres.
O reino de Deus vem em duas etapas. Ele se estabelecerá total e completamente na segunda vinda de Cristo, porém já chegou parcialmente na primeira vinda de Jesus: “Indagado pelos fariseus sobre quando viria o Reino de Deus, Jesus lhes respondeu: — O Reino de Deus não vem com visível aparência.21 Nem dirão: "Ele está aqui!" Ou: "Lá está ele!" Porque o Reino de Deus está entre vocês” (Lc 17.20,21).
Entramos no reino de Deus agora por meio de arrependimento e fé, o novo nascimento. Ele está presente onde o Espírito Santo está presente em poder: “Jesus respondeu: — Em verdade, em verdade lhe digo: quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no Reino de Deus” (Jo 3.5). “Porque o Reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, paz e alegria no Espírito Santo” (Rm 14.17).
O reino de Deus é poder, poder régio de Deus que cura toda a maldição do pecado. É poder que satisfaz as necessidades psicológicas, sociais, físicas do povo de Deus, levando a bênção real do Senhor aonde a maldição se encontra: “Se, porém, eu expulso os demônios pelo Espírito de Deus, certamente é chegado o Reino de Deus sobre vocês” (Mt 12.28). “— Não tenha medo, ó pequenino rebanho; porque o Pai de vocês se agradou em dar-lhes o seu Reino.33 Vendam os seus bens e deem esmola; façam para vocês mesmos bolsas que não desgastem, tesouro inesgotável nos céus, onde o ladrão não chega, nem a traça corrói” (Lc 12.32,33).
Francis Schaeffer explica que, como o reino está presente em parte, embora não totalmente, devemos esperar cura "substancial", mas não cura "completa" em todas as áreas da vida (Verdadeira Espiritualidade). Onde Deus governa por meio de sua Palavra e do Espírito, os efeitos do pecado são curados. Portanto, o reino é parecido com um grande banquete (Mt 22.2) e é um estado de satisfação plena, ou "bem-aventurança" (Mt 5.3,10). A cura é sempre parcial, porque o reino só veio parcialmente, mas ela é substancial, porque o reino já está presente.
Edmund Clowney afirma que o evangelismo "do reino" deve ter foco holístico: “Em última análise, a renovação trazida pela salvação em Cristo abrange um universo renovado [...] nenhum aspecto de nossa existência escapa de sua bênção. Os milagres de Cristo foram milagres do reino, feitos como sinais do que o reino significa [...] Sua bênção foi derramada sobre os pobres, os aflitos, os desanimados e os sobrecarregados que foram a ele e nele creram [...] O modelo do reino revelado por esses milagres deve continuar na igreja [...] Portanto, o evangelismo do reino é holístico, uma vez que anuncia por palavras e obras a promessa de Cristo para o corpo e a alma, e também o que ele exige do corpo e da alma.”
Que relação tem a igreja com o reino? Por um lado, a igreja é uma "planta piloto" do reino de Deus. Ela é mais do que um ajuntamento de indivíduos perdoados. É "nação santa" (1Pe 2.9), ou seja, uma contracultura. A igreja deve ser uma nova sociedade que mostra ao mundo como a dinâmica da família, a ética do trabalho, os relacionamentos raciais e tudo o mais na vida podem estar sob o reinado de Jesus Cristo. Deus deseja curar todos os efeitos do pecado: psicológicos, sociais e físicos.
Por outro lado, a igreja deve ser um agente do reino. Ela não deve simplesmente exemplificar a cura trazida pelo governo de Deus, mas deve levá-la ao mundo. "Vocês, porém, são geração eleita, sacerdócio real, nação santa [...] a fim de proclamar as virtudes daquele que os chamou das trevas para a sua maravilhosa luz" (1Pe 2.9). Os cristãos vão pelo mundo como testemunhas do reino (At 1.6-8). Anunciar o reino de Deus é mais do que ganhar almas para Cristo. Envolve também trabalhar para a cura de pessoas, famílias, relacionamentos e nações; implica realizar obras de misericórdia e buscar a justiça. Significa edificar vidas, relacionamentos, instituições e comunidades de acordo com a autoridade de Deus e, assim, promover a bem-aventurança do reino.
Assista o Sermão completo no Youtube:
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