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Foto do escritorChristian Lo Iacono

O Bom samaritano - Série: O bom samaritano e a igreja | Parte II

25 E eis que certo homem, intérprete da Lei, se levantou com o objetivo de pôr Jesus à prova e lhe perguntou:

— Mestre, que farei para herdar a vida eterna?

26 Então Jesus lhe perguntou:

— O que está escrito na Lei? Como você a entende?

27 A isto ele respondeu:

— "Ame o Senhor, seu Deus, de todo o seu coração, de toda a sua alma, com todas as suas forças e todo o seu entendimento." E: "Ame o seu próximo como você ama a si mesmo."

28 Então Jesus lhe disse:

— Você respondeu corretamente. Faça isto e você viverá.

29 Mas ele, querendo justificar-se, perguntou a Jesus:

— Quem é o meu próximo?

30 Jesus prosseguiu, dizendo:

— Um homem descia de Jerusalém para Jericó e caiu nas mãos de alguns ladrões. Estes, depois de lhe tirar a roupa e lhe causar muitos ferimentos, retiraram-se, deixando-o semimorto.31 Por casualidade, um sacerdote estava descendo por aquele mesmo caminho e, vendo aquele homem, passou de largo.32 De igual modo, um levita descia por aquele lugar e, vendo-o, passou de largo.33 Certo samaritano, que seguia o seu caminho, passou perto do homem e, vendo-o, compadeceu-se dele.34 E, aproximando-se, fez curativos nos ferimentos dele, aplicando-lhes óleo e vinho. Depois, colocou aquele homem sobre o seu próprio animal, levou-o para uma hospedaria e tratou dele.35 No dia seguinte, separou dois denários e os entregou ao hospedeiro, dizendo: "Cuide deste homem. E, se você gastar algo a mais, farei o reembolso quando eu voltar."

36 Então Jesus perguntou:

— Qual destes três lhe parece ter sido o próximo do homem que caiu nas mãos dos ladrões?

37 O intérprete da Lei respondeu:

— O que usou de misericórdia para com ele.

Então Jesus lhe disse:

— Vá e faça o mesmo.

Lucas 10. 25-37


No sermão anterior vimos como a história do bom samaritano constrange a todos nós, sem exceção! Observamos que o exercício da misericórdia é um dever para o cristão, que deve, assim, superar a mera “discussão teológica” para se engajar de forma prática com a vida dos outros. Parece que Jesus vê o cuidado para com os pobres como parte da essência daquilo que é ser cristão.


Vimos também que o próximo a quem devemos ajudar é todo ser humano em necessidade, até mesmo um inimigo. Ou seja, estamos preparados para não fazer distinção entre o pobre que “merece” ajuda e o que “não merece”? Desejamos levar o evangelho aos novos próximos do nosso tempo e país? Somente o ministério da igreja de Jesus Cristo pode combater as raízes dos problemas sociais.


Isso porque somente a igreja pode ministrar à pessoa integralmente. Somente o evangelho entende que o pecado nos arruinou individual e socialmente. Não podemos ser vistos pela ótica do individualismo (como fazem os capitalistas) nem pela ótica do coletivo (como fazem os comunistas), mas sim como pessoas relacionadas com Deus.


O chamado à misericórdia


A essência do amor


O intérprete da Lei quis "testar" Jesus, pegá-lo em uma armadilha (Lc 10.25). Provavelmente queria levar Jesus a dizer algo negativo a respeito da Lei ou minimizar seu papel na salvação do ser humano. Jesus, por outro lado, também preparou uma armadilha para o homem, mas uma armadilha de amor.


Nosso Senhor pediu ao homem que lhe dissesse o que estava escrito na Lei, e ele respondeu o que muitos escribas e mestres judeus acreditavam, ou seja, que todas as regras da Lei se apoiam em dois princípios. Primeiro, a Lei exige mente e coração inteiramente submissos a Deus e concentrados nele somente (Dt 6.5).


Segundo, a Lei exige que supramos as necessidades das outras pessoas com a mesma presteza, interesse, força e alegria com que suprimos as nossas necessidades: “Não procure vingança, nem guarde ira contra os filhos do seu povo, mas ame o seu próximo como você ama a si mesmo. Eu sou o Senhor” (Lv 19.18). Que princípios impressionantes! Eles refletem a santidade de Deus e nossa dívida fundamental àquele que nos deu tudo. Como nos deu tudo o que possuímos, devemos lhe dar tudo o que somos.


Depois que o doutor da Lei apresentou essa síntese do amor e da justiça perfeitos, Jesus respondeu: "... faça isto e você viverá" (Lc 10.28). Qual foi a estratégia de Jesus? Por que ele não disse "Aceite-me como seu Salvador pessoal" ou algo parecido? Ele estava insinuando que as boas obras é que levam à salvação? Não!


Em vez disso, Jesus virou o jogo do doutor da Lei. Quando analisamos individualmente os regulamentos do Antigo Testamento, vemos que muitos podem ser cumpridos. Porém, se analisarmos os princípios que fundamentam os detalhes e o estilo de vida que a Lei realmente busca, descobrimos nossa total incapacidade de cumpri-los. Jesus mostra ao homem a justiça perfeita que a Lei exigia para que, assim, ele entendesse sua incapacidade de cumpri-la.


Jesus queria convencê-lo do pecado. Na verdade, ele disse: “Meu amigo, eu levo, sim, a Lei muito a sério; mais do que você. É verdade que somos aceitos por Deus se obedecermos perfeitamente à Lei, mas estude a Lei! Veja o que ela busca de verdade. Se conseguir cumpri-la, você viverá. Mas, se enxergá-la de forma clara, perceberá que a justiça exigida pela Lei tem de ser alcançada de outra forma.”


Esse também foi o propósito de Jesus em sua conversa com o jovem rico (Mc 10.17-22). Sua intenção foi convencer o jovem do pecado (10.19-22): “Você conhece os mandamentos: ‘Não mate, não cometa adultério, não furte, não dê falso testemunho, não defraude ninguém, honre o seu pai e a sua mãe.’ 20 Então o homem respondeu: — Mestre, tudo isso tenho observado desde a minha juventude. 21 E Jesus, olhando para ele com amor, disse: — Só uma coisa falta a você: vá, venda tudo o que tem, dê o dinheiro aos pobres e você terá um tesouro no céu; depois, venha e siga-me. 22 Ele, porém, contrariado com esta palavra, retirou-se triste, porque era dono de muitas propriedades”.


O jovem rico alegou ter sempre obedecido à Lei, até Jesus lhe dizer que abrisse mão de toda a sua riqueza e o seguisse. Isso nada mais era que uma exposição do primeiro mandamento. Jesus estava perguntando: "Você está disposto a perder tudo, se necessário, para ter comunhão comigo? Você nunca terá ‘outros deuses além de mim' verdadeiramente?". O jovem rico foi embora muito triste. Será que Jesus "pegou pesado", foi exigente demais? Não, de jeito nenhum. O evangelho é o evangelho do reino, e, a menos que entreguemos nosso coração ao rei — a Jesus —, não o teremos entregado de verdade. O ministério de misericórdia tem um custo, e nosso desejo de exercê-lo é um sinal decisivo de nossa submissão ao senhorio de Cristo.


As riquezas e a pobreza de Deus


Em Lucas 10, Jesus também procura levar o doutor da Lei à desesperança de ser salvo pelo esforço próprio. Dessa vez, no entanto, ele volta o foco para o segundo grande mandamento, não o primeiro. Por que Jesus acha necessário fazer isso? Porque, para receber a misericórdia de Deus, devemos desistir dos nossos esforços morais. Nathan Cole, um lavrador que se converteu na década de 1740, descreve claramente o que lhe aconteceu ao ouvir a pregação de George Whitefield: "A pregação dele me feriu o coração. Pela graça de Deus, meu alicerce antigo desmoronou, e percebi que minha própria justiça jamais me salvaria”.


O perito na Lei deveria ter reagido da mesma forma. Se dissesse: "Entendi! Como, então, alguém consegue ser justo diante de Deus?", Jesus responderia: "Somente pela misericórdia de Deus". E a misericórdia divina é bem simples. Devemos entender que somos pobres miseráveis e falidos diante de Deus (Mt 5.3), e mesmo quando nos apresentamos diante dele com nossas melhores obras, somos semelhantes a mendigos vestidos de trapos (Is 64.6): “Todos nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças são como trapo da imundícia. Todos nós murchamos como a folha; e as nossas iniquidades nos arrastam como um vento”.


Mas, em Cristo, Deus nos proveu a justiça (Rm 3.21, 22): “Porque ninguém será justificado diante de Deus por obras da lei, pois pela lei vem o pleno conhecimento do pecado. A justificação pela fé em Jesus Cristo 21 Mas, agora, sem lei, a justiça de Deus se manifestou, sendo testemunhada pela Lei e pelos Profetas. 22 É a justiça de Deus mediante a fé em Jesus Cristo, para todos e sobre todos os que creem”. Ele nos proveu riqueza vinda diretamente da conta de seu Filho, que se tornou pobre por meio do sofrimento e da morte para que recebêssemos essa riqueza (2Co 8.9): “Pois vocês conhecem a graça do nosso Senhor Jesus Cristo, que, sendo rico, se fez pobre por amor de vocês, para que, por meio da pobreza dele, vocês se tornassem ricos”.


Ninguém entendeu isso com mais clareza do que John Bunyan, cuja conversão ele descreveu nestes termos: “Certo dia [...] essa verdade alcançou minha alma: ‘Tua justiça está no céu’; e pensei: com os olhos da alma vi Jesus Cristo à direita de Deus; bem ali, digo, como minha justiça. Assim, não importava onde eu estivesse ou o que fizesse, Deus não poderia dizer que ‘exigia justiça de mim’, pois ela estava bem diante dele. Mais ainda, também entendi que não era o bom estado do meu coração que aprimorava a minha justiça nem era o seu mau estado que a piorava, pois minha justiça era o próprio Jesus Cristo, ‘o mesmo ontem, hoje e para sempre’. Então se romperam os grilhões de minhas pernas [...] Ah, pensei, Cristo! Cristo! Não havia nada a não ser Cristo diante de meus olhos [...] Agora eu podia olhar de mim para ele e concluir que todas as misericórdias de Deus, que vicejavam em minha vida, eram como os trocados e centavos que os homens ricos carregavam na carteira, enquanto deixavam seu ouro guardado em casa, no cofre. Ah! Eu sabia que meu ouro estava em casa, no meu cofre! Em Cristo, o meu Senhor e Salvador. Ora, Cristo é tudo: toda a minha justiça, toda a minha santificação e toda a minha redenção” (Graça obediente ao principal dos pecadores).


No entanto, o doutor da Lei se opunha a Jesus. Não queria reconhecer que era pobre e espiritualmente falido. É evidente que o homem sentiu a pressão do argumento do Senhor, pois, "querendo justificar-se, perguntou a Jesus: E quem é o meu próximo?" (Lc 10.29). O que ele estava tentando fazer? Ele queria que Jesus definisse o segundo mandamento de tal forma que suas exigências se tornassem passíveis de serem alcançadas. Jesus responde com uma parábola que explica o segundo grande mandamento. Ele nos mostra a extensão e a essência do amor que Deus exige.


Não podemos nos esquecer do contexto da Parábola do Bom Samaritano ou cairemos facilmente na armadilha do moralismo. Jesus não está dizendo que seremos salvos se imitarmos o bom samaritano, embora esteja claramente nos mandando seguir seu exemplo. Ao contrário, Jesus procura nos tornar humildes quando mostra o amor que Deus requer, de modo que fiquemos desejosos de receber o amor que Deus oferece.


A misericórdia não é opcional


A parábola conta a história de um samaritano que encontrou um judeu que fora agredido e roubado. O samaritano ofereceu proteção física (contra outro ataque), cuidados médicos, transporte e ajuda financeira. Em resumo, supriu todas as necessidades físicas e financeiras do judeu ferido. O doutor da Lei chamou a tudo isso de "misericórdia" (v. 37). A história só alcança impacto total se nos lembrarmos de seu propósito. Essa parábola de Jesus foi registrada para descrever o amor cristão por nossos semelhantes. A resposta de Jesus mostra um homem realizando o que muitos chamam hoje de "trabalho social".


As igrejas evangélicas atuais não se negam, de forma nenhuma, a socorrer os necessitados e feridos. Mas, geralmente, "o trabalho de assistência social" é visto como uma responsabilidade secundária. É uma tarefa que realizamos se houver tempo e dinheiro no orçamento, e somente depois de nos darmos por satisfeitos com nossos ministérios educacional e evangelístico. A parábola, no entanto, desmonta esse esquema de prioridades. Jesus usa a obra de misericórdia para mostrar a essência da justiça que Deus exige em nossos relacionamentos. Esse não é, em hipótese alguma, um exemplo isolado. Em Tiago 2.15,16 e em 1João 3.17,18 os cristãos são exortados a atender às necessidades físicas e econômicas dos irmãos. Não é opcional. Se alguém que se diz cristão não fizer isso, "como o amor de Deus pode permanecer nele?" (1Jo 3.17). A verdade impactante é que a obra de misericórdia é fundamental para sermos cristãos.


Assista o Sermão completo no Youtube:



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