16 Digo, porém, o seguinte: vivam no Espírito e vocês jamais satisfarão os desejos da carne.17 Porque a carne luta contra o Espírito, e o Espírito luta contra a carne, porque são opostos entre si, para que vocês não façam o que querem.18 Mas, se são guiados pelo Espírito, vocês não estão debaixo da lei.
19 Ora, as obras da carne são conhecidas e são: imoralidade sexual, impureza, libertinagem,20 idolatria, feitiçarias, inimizades, rixas, ciúmes, iras, discórdias, divisões, facções,21 invejas, bebedeiras, orgias e coisas semelhantes a estas. Declaro a vocês, como antes já os preveni, que os que praticam tais coisas não herdarão o Reino de Deus.
22 Mas o fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade,23 mansidão, domínio próprio. Contra estas coisas não há lei.24 E os que são de Cristo Jesus crucificaram a carne, com as suas paixões e os seus desejos.
25 Se vivemos no Espírito, andemos também no Espírito.
Galatas 5.16-25
Chegou a hora, em nossa jornada, de examinar com mais detalhes o “fruto do Espírito”. A expressão vem da carta de Paulo aos gálatas. Estas são as suas palavras: “Mas o fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio” (Gl 5.22-23).
Uma simples leitura dessas graças cristãs deveria ser suficiente para encher de água a boca e fazer o coração bater mais forte, porque esse é um retrato de Jesus Cristo. Nenhum homem ou mulher até hoje apresentou essas qualidades com tal equilíbrio ou perfeição como o homem Jesus Cristo. Assim, esse é o tipo de pessoa que todo cristão deveria almejar ser.
Já foram feitas diversas tentativas de classificar essas nove qualidades que Paulo lista. Mas nenhuma classificação é completamente satisfatória. Talvez o mais simples seja subdividi-las em três grupos de três, que retratem respectivamente nosso relacionamento primeiro com Deus, depois com outras pessoas e, por último, conosco mesmos.
Primeiro vem o nosso relacionamento com Deus: "Amor, alegria, paz”. O Espírito Santo coloca o amor de Deus em nosso coração, a alegria dele em nossa alma e a paz divina em nossa mente. Amor, alegria e paz permeiam um cristão cheio do Espírito. Na verdade, podemos dizer que essas são suas características principais e permanentes. Tudo o que o cristão faz é concebido com amor, iniciado com alegria e executado com paz.
Depois vem o nosso relacionamento com as outras pessoas: "Paciência, ternura, bondade" (BLH). Temos aqui a paciência que suporta grosseria e insensibilidade dos outros e se recusa a vingar-se; a gentileza que vai além da tolerância negativa de não desejar o mal para ninguém, passando para a benevolência de desejar o bem a todos; e a bondade que transforma o desejo em atos, e toma a iniciativa de servir as pessoas de maneira concreta e construtiva. Não é difícil ver "paciência, ternura e bondade" como três degraus ascendentes em nossa atitude para com os outros.
Por último, vem o nosso relacionamento conosco mesmo: "Fidelidade, mansidão, domínio próprio". A palavra "fidelidade" é a mesma que é geralmente traduzida por "fé" (pistis). Aqui parece não significar a fé que confia em Cristo ou em outras pessoas, mas a confiabilidade, que convida outras pessoas a confiarem em nós. É a fidelidade provada, a dignidade sólida de alguém que sempre cumpre suas promessas e termina o que começa. Mansidão não é uma qualidade de pessoas meigas e fracas, mas de pessoas fortes e dinâmicas, que mantêm sua força e energia sob controle. Domínio próprio é o senhorio sobre a língua, os pensamentos, os apetites e as paixões.
Esse, então, é o retrato de Cristo, e, da mesma forma – pelo menos em termos ideais – do cristão equilibrado, parecido com Cristo, cheio do Espírito. Não temos liberdade para escolher algumas dessas qualidades, porque é no conjunto (como um cacho de uvas ou um feixe de trigo) que elas nos fazem semelhantes a Cristo. Cultivar algumas, e não outras, coloca-nos em desequilíbrio. O Espírito dá diferentes dons a diferentes cristãos, mas ele atua no sentido de produzir o mesmo fruto em todos.
Ele não se satisfaz se demonstramos amor aos outros, mas não nos controlamos; ou se tivermos alegria e paz em nós, mas não formos gentis para com os outros; ou se tivermos paciência, mas não agirmos com bondade; ou se demonstrarmos humildade e flexibilidade, sem a firmeza da confiabilidade cristã. O cristão que não tem equilíbrio é carnal; mas existe uma perfeição, uma plenitude de caráter cristão que somente cristãos cheios do Espírito possuem.
Porém, como é possível desenvolver essas qualidades? Essa é a pergunta que queremos fazer a Paulo. Sua resposta tem a ver com o fato de que as nove qualidades são reunidas na expressão única "o fruto do Espírito". Desta metáfora emergem verdades importantes. Vejamos.
Origem sobrenatural
A primeira verdade é que o fruto do Espírito é de origem sobrenatural. Isso é evidente, porque as qualidades listadas são o fruto do Espírito. O próprio Espírito Santo é responsável por sua produção. Eles são resultados do que o Espírito planta na vida das pessoas que ele preenche.
No contexto essa verdade fica evidente, pois "o fruto do Espírito" é contrastado intencionalmente com "as obras da carne" (v. 19). "A carne", na linguagem de Paulo, geralmente não se refere à substância que recobre nosso esqueleto, mas representa a nós mesmos, todo nosso ser, aquilo que somos por natureza, decaídos, pecaminosos e egoístas.
"O Espírito", por sua vez, não é uma parte de nós, ou o nosso espírito, mas o Espírito Santo de Deus, que mora nas pessoas cristãs e está empenhado em transformá-las na imagem de Cristo. À luz dessa distinção entre "carne" e "Espírito" podemos dizer que "as obras da carne" são atos que praticamos naturalmente, quando limitados aos nossos recursos, e "o fruto do Espírito" consiste de qualidades que o Espírito faz surgir em nós de maneira sobrenatural (porque elas estão além da nossa capacidade natural), quando, porém, colaboramos com ele.
Quando dependemos de nós mesmos, o que surge naturalmente são pecados como "prostituição, impureza, lascívia [...] bebedices, glutonaria" (v. 19,21), enquanto o fruto sobrenatural do Espírito é exatamente o contrário, virtudes como "confiabilidade, humildade, domínio próprio". Quando agimos por conta própria, nós nos rebelamos contra Deus e caímos em "idolatria e feitiçarias" (v. 20); porém, o Espírito Santo nos conduz ao "amor, alegria e paz". Igualmente, as obras da carne são comportamentos antissociais como "inimizades, porfias, ciúmes, iras, discórdias, dissensões, facções, invejas" (v. 20, 21), enquanto o fruto correspondente do Espírito é "longanimidade, benignidade, bondade".
Portanto, fica claro que, por natureza, todos os nossos relacionamentos são falhos. Nos desviamos de Deus para os ídolos. Nos desentendemos com outras pessoas e vivemos em discórdia. Nos desculpamos em vez de nos controlarmos. Viver em harmonia com Deus e com as pessoas, e manter-se sob controle, são obras sobrenaturais da graça de Deus. É o "fruto do Espírito".
Na verdade, esse fruto, que é a soma de todas essas qualidades cristãs, é a melhor evidência que alguém pode apresentar de ter em si a plenitude do Espírito Santo – por causa da sua solidez e objetividade. A verdadeira prova de uma atuação profunda do Espírito de Deus em algum ser humano não são suas experiências subjetivas e emocionais, nem sinais espetaculares, mas qualidades morais, como Cristo as teve.
Creio que um cristão, que alega ter tido experiências grandiosas, mas não tem amor, alegria, paz, bondade e domínio de si, vai causar em todos nós a impressão de que algo está errado com suas alegações. Um outro cristão que, sejam quais forem suas experiências e dons, traz em seu caráter um aroma suave do Senhor Jesus, certamente será preferido para companhia. Isso porque vemos nele uma marca da graça de Deus e um templo do Espírito Santo.
Crescimento natural
A segunda verdade que devemos observar é que essas qualidades são chamadas de fruto do Espírito. Em condições normais, qualquer fruto cresce naturalmente. É verdade que é possível acelerar o crescimento de plantas, colocando-as em uma estufa, sob certas temperaturas. O que estamos fazendo, nesse caso, é provar artificialmente as condições em que a planta cresceria de modo natural. Porque o processo de crescimento em si (mesmo em uma estufa) não é artificial; ele ainda é natural.
Ao chamar o caráter cristão de "fruto do Espírito", o apóstolo Paulo estava ensinando que sua origem é sobrenatural (já que é o fruto do Espírito), e que seu crescimento é natural (pois é o fruto do Espírito). É importante manter um equilíbrio entre essas duas verdades, no mínimo por uma razão: o fato de que uma vida santa é produto do Espírito Santo pode facilmente levar algumas pessoas a pensarem que não há nada que possam fazer no processo. Porém, o fato de que o Espírito produz essa vida santa como seu "fruto" indica ao mesmo tempo que há certas condições das quais o crescimento depende, e pelas quais nós somos responsáveis. Isso porque o que é natural sempre é condicionado; o processo só é natural quando as condições estão de acordo.
Essa lição que extraímos da horticultura também se aplica ao crescimento em maturidade cristã. O próprio Paulo faz a aplicação, embora não em Gálatas 5, mas em Gálatas 6. Esse é outro bom exemplo da necessidade de se estudar cada texto em um contexto mais amplo e de se passar por cima das divisões arbitrárias dos capítulos em nossa Bíblia.
No capítulo 5 Paulo fala do "fruto", e no capítulo 6 ele aborda a questão de "semear", da qual, no fundo, depende qualquer colheita. Estas são suas palavras: “Não se enganem: de Deus não se zomba. Pois aquilo que a pessoa semear, isso também colherá. Quem semeia para a sua própria carne, da carne colherá corrupção; mas quem semeia para o Espírito, do Espírito colherá vida eterna (v. 7, 8)”.
O princípio fundamental está registrado no título: "Aquilo que a pessoa semear, isso também colherá". Esse é um princípio inflexível de todos os procedimentos de Deus, uma lei de consistência própria, tanto na área física como na moral, tanto na estrutura da natureza como no caráter humano. Sempre, invariavelmente, colhemos o que plantamos. Por isso, devido à confiabilidade de Deus, podemos determinar com antecedência o que colheremos, decidindo o que iremos plantar.
Se eu fosse um agricultor que quisesse colher feijão, eu teria de semear feijão. Seria ridículo plantar milho ou trigo e querer colher feijão. O mesmo princípio se aplica ao comportamento humano. Se quisermos que o Espírito Santo produza um fruto bom em nossa vida, precisamos semear sementes boas. O antigo provérbio expressa isso muito bem:
“Semeie um pensamento, e você colherá uma ação;
Semeie uma ação, e você colherá um hábito;
Semeie um hábito, e você colherá um caráter;
Semeie um caráter, e você colherá um destino.”
Não podemos alterar isso. Como Paulo disse, "de Deus não se zomba". O verbo grego que ele escolheu é muito ilustrativo. Significa literalmente "levantar o nariz para alguém". Ele quis dizer que não podemos tratar Deus com desprezo, nem passar por cima das leis que ele instituiu. Alguns cristãos se surpreendem por não estar colhendo o fruto do Espírito, mas passam uma grande parte de seu tempo semeando para a carne. Será que achamos que podemos enganar a Deus e fazê-lo de bobo, e torcer suas leis, segundo nossa conveniência?
Olhe com mais atenção para o que o apóstolo disse. Ele compara nossa personalidade com um campo onde estamos semeando todos os dias. O campo está dividido. Uma parte ele chama de "carne" (nós mesmos, ou o que somos por natureza), a outra de "Espírito" (o Espírito Santo, ou o que somos pela graça). É possível semear nos dois lados do campo. Um cristão "semeia para a sua própria carne", outro "semeia para o Espírito". Em consequência, cada um terá uma colheita diferente. O que é essa semeadura? E o que é essa colheita?
Por "semear" parece que o apóstolo está entendendo todo o padrão dos nossos pensamentos e hábitos, nosso estilo de vida, a direção e a disciplina da nossa vida. Isso inclui as companhias que temos, as amizades que cultivamos, a literatura que lemos, os filmes que assistimos no cinema ou na televisão, o tipo de lazer com que preenchemos nosso tempo livre, e tudo o que ocupa nosso interesse, absorve nossa energia e domina nossa mente. Em relação a todas essas coisas precisamos tomar sábias decisões, tendo em vista tanto a tendência geral de nossa vida quanto a grande variedade de escolhas menores que se nos apresentam todos os dias.
Porque, afinal, é nessas coisas que estamos semeando, e o tempo todo; e haveremos de colher de acordo com o que e onde semeamos. Paulo sempre volta a esses assuntos em suas cartas, ilustrando-os com metáforas abundantes. Às vezes são roupas (aquilo que vestimos); outras vezes são competições atléticas (fugir de algumas coisas e correr atrás de outras). Às vezes a questão é de vida ou morte (matar de verdade, até por crucificação, nossos desejos e paixões pecaminosos e, em lugar deles, viver de modo sensível às sugestões do Espírito).
Ainda outras vezes a questão é pagar dívidas (porque somos devedores ao Espírito, e não à carne). De todas essas figuras, no entanto, nenhuma enfatiza melhor a naturalidade da santificação do cristão, desde que haja as condições corretas, do que a necessidade de semear a semente certa no campo certo, se quisermos contar com a
colheita certa.
Que colheita é essa? Paulo diz que semear para a carne produz uma colheita de "corrupção". Esta é uma palavra repugnante, que desperta imagens horríveis de decadência, decomposição, morte e podridão. Provavelmente ela simboliza uma deterioração constante do caráter nesta vida e também a ruína na próxima.
Semear para o Espírito, por sua vez, produz uma colheita de "vida eterna", que é uma comunhão cada vez mais íntima, já agora com o Deus vivo (vida eterna é conhecê-lo: Jo 17.3), além daquela comunhão plena com ele que desafia a imaginação e espera por nós no último dia. Portanto, não só o nosso caráter moral neste mundo, mas também nosso destino definitivo no próximo dependem da semente que estamos lançando agora, e de onde a estamos semeando.
Maturidade gradual
Temos também a aprender uma terceira lição do uso que o apóstolo faz dessa metáfora do "fruto". Um conhecimento de botânica, mesmo que elementar, é suficiente para que constatemos que os procedimentos de Deus amadurecem com lentidão. Jesus o diz em uma de suas parábolas sobre o trigo: "primeiro aparece a planta, depois, a espiga, e, por fim, o grão cheio na espiga" (Mc 4.28). Também podemos usar a ilustração de uma fruta: Primeiro o renovo, depois o broto da flor, depois a flor aberta; depois a fruta fertilizada, como um tipo de embrião, porém, ainda dura, verde e não comestível; depois ela cresce, vai ficando macia e adquire as primeiras cores; finalmente temos a fruta madura e saborosa.
É um processo natural, condicional e gradual. O que vale para uma fruta do pomar vale também para o fruto do Espírito. O Espírito Santo implanta vida na alma instantaneamente, no momento do novo nascimento (apesar de vários meses de preparo poder tê-lo precedido); mas ele leva tempo, muito tempo, para produzir um caráter cristão maduro.
Essa ênfase na santificação gradual não tem a intenção de desculpar nossa pecaminosidade contínua, nem de incentivar nossa preguiça, nem de afrouxar nossa expectativa, mas de nos advertir contra jardineiros charlatães que nos oferecem frutos maduros na hora. Nossa época é mais voltada para a indústria que para a agricultura.
Seu símbolo é mais o robô que a enxada. A automação tem a ver com rapidez. O computador nos dá respostas em instantes. Mas o Espírito Santo não tem essa pressa. O caráter é produto de uma vida inteira.
Se compreendermos como essa atuação de Deus é gradual, seremos mais ativos em colaborar com o Espírito (o jardineiro celestial), que cuida do fruto; prestaremos mais atenção no que semeamos se quisermos ter uma boa colheita; e disciplinaremos melhor nossos hábitos de devoção pública e particular, de maneira que cresçamos através desses meios de graça que Deus nos concedeu, de modo que o fruto do Espírito se desenvolva e amadureça em nós.
Charles Simeon, um erudito clérigo de Cambridge do início do século passado, cuja profunda influência sob a mão de Deus ainda é hoje sentida, era por natureza e disposição um homem "esquentado", orgulhoso e impetuoso. Quando ele fez sua primeira visita ao seu colega evangelista Henry Venn, em Yelling, a filha mais velha deste descreveu muito bem a ocasião: "É impossível imaginar algo mais ridículo do que sua aparência e sua maneira de ser. Suas caretas estão além do que alguém pode conceber. Assim que ele se foi, reunimo-nos na biblioteca e rimos às gargalhadas" (Michael Hennell).
Mas seu pai chamou todos ao jardim e pediu que lhe apanhassem um pêssego, apesar de o verão estar apenas começando e as frutas ainda estarem verdes. Quando eles se mostraram surpresos, o pai disse: 'Está certo, meus caros, o pêssego ainda está verde, e precisamos esperar; entretanto, com um pouco mais de sol e algumas poucas chuvas, ele estará maduro e doce. O mesmo acontece com o sr. Simeon"'. E assim se deu, porque ele foi colhendo o que ia semeando e, sob a influência graciosa do Espírito Santo, tornou-se uma pessoa gentil, humilde, amorosa e semelhante a Cristo.
Aplicação
Eu comecei por listar e classificar as nove qualidades cristãs que, em conjunto, perfazem o "fruto do Espírito", e mencionei que a simples relação dessas qualidades é suficiente para despertar o apetite espiritual dos cristãos. Afinal, todos temos certa "fome e sede de justiça" (Mt 5.6, 6.33), não? Vimos também três razões pelas quais essas qualidades são chamadas de fruto do Espírito. Para concluir, devemos tirar uma lição de cada uma.
Em primeiro lugar, já que a semelhança a Cristo é de origem sobrenatural, precisamos ter humildade e fé – a humildade para reconhecer que nós não podemos produzir essa colheita por nós mesmos, e fé para crer que Deus pode fazê-la amadurecer em nós como fruto do Espírito. Por isso Jesus ensinou: "Permaneçam em mim, e eu permanecerei em vocês. Como não pode o ramo produzir fruto de si mesmo, se não permanecer na videira; assim nem vocês o podem dar, se não permanecerem em mim" (Jo 15.4). A santidade começa com a auto desilusão, porque a fé também nasce somente com auto desilusão. Não confiar na carne, porque estamos convictos de que nela "não habita bem nenhum" (Rm 7.18), é uma pré-condição essencial para confiar plenamente no Espírito.
Em segundo lugar, já que a semelhança a Cristo tem um crescimento natural, desde que disponha das condições adequadas, precisamos ter certa disciplina para garantir que as condições estarão disponíveis. Só se pode colher o que foi semeado. Precisamos semear com dedicação, o que significa cultivar hábitos disciplinados tanto na área do pensamento (concentrando nossa mente no que é bom), quanto na área da vivência (sobretudo através da meditação diária na Palavra de Deus e da oração). Crescimento natural é crescimento condicionado. Se tivermos consciência em fornecer as condições, o crescimento haverá de ser abundante. Se cuidarmos das sementes, o Espírito Santo cuidará do fruto.
Por último, já que ser semelhante a Cristo vem de um amadurecimento gradual, precisamos ter paciência para esperar. Podemos até chamá-la de "paciência impaciente", porque por paciência não se deve entender resignação. Todo jardineiro, todo agricultor, cada pessoa que vive em contato com o solo sabe que é preciso ter paciência. Não há sentido em querer mudar a ordem das estações ou as leis de crescimento que Deus estabeleceu. Como Tiago escreveu em um contexto diferente: "o lavrador aguarda com paciência o precioso fruto da terra, até receber as primeiras e as últimas chuvas" (5.7). Tiago estava recomendando uma espera paciente da vinda do Senhor, mas ele, da mesma forma, poderia ter aplicado a mesma metáfora para uma espera paciente pelo fruto do Espírito. Como vimos, precisamos preencher as condições, mas depois devemos "esperar a vinda do Senhor" e buscar nele com expectativa o amadurecimento do fruto, até que, afinal, venha o dia da colheita de um caráter cristão maduro nesta vida e semelhança completa com Cristo na próxima.
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