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Foto do escritorChristian Lo Iacono

O Medo da Morte | Parte I


“Visto, pois, que os filhos têm participação comum de carne e sangue, também Jesus, igualmente, participou dessas coisas, para que, por sua morte, destruísse aquele que tem o poder da morte, a saber, o diabo, e livrasse todos os que, pelo pavor da morte, estavam sujeitos à escravidão por toda a vida” (Hb 2.14-15).


A morte é a Grande Interrupção; ela arranca nossos amados de nós, ou vice-versa. A morte é a Grande Divisão; separa a parte material da imaterial e rasga nosso ser, que não foi criado para existir de forma desencarnada nem mesmo por um instante. A morte é o Grande Insulto; lembra-nos, como Shakespeare disse, que somos alimento para os vermes (Hamlet): “[somos] literalmente divididos ao meio: [o ser humano] tem consciência de sua singularidade esplêndida, pois se destaca na natureza com altaneira majestade; e, no entanto, volta ao solo, onde é enterrado para, cego e mudo, apodrecer e desaparecer para sempre”.


A morte é horrenda, assustadora, cruel e incomum. Não corresponde ao que a vida deveria ser, e nossa tristeza diante da morte reconhece esse fato. A morte é nossa Grande Inimiga, mais que qualquer outra coisa. Apropria-se de cada um de nós e nos persegue incansavelmente ao longo de todos os nossos dias. Ninguém pode evitar a morte. Alguém disse que guerras e pragas nunca elevaram o número de mortes; sempre houve uma morte para cada pessoa, sem exceções. E, no entanto, parecemos muito menos preparados para ela que nossos antepassados. Por quê?


Um dos motivos é, paradoxalmente, que a grande bênção da medicina moderna (1) escondeu a morte de nós. Annie Dillard, em sua obra de ficção The living [Os vivos], dedica uma página inteira à espantosa variedade de maneiras que a morte arrebatava os vivos de seu lar e de sua família sem nenhum aviso no século 19: “Mulheres tinham febre e morriam no parto, e bebês morriam de debilidade ou da severidade do ar. Homens morriam por causa de [...] rios e cavalos, touros, serras a vapor, engrenagens de moinhos, rochas de pedreiras, árvores que caíam ou troncos que rolavam [...] Crianças perdiam a vida quando coisas duras as esmagavam, como árvores e o solo ao serem atiradas ou caírem de cavalos; se afogavam em água; ficavam doentes, e dores de ouvido se espalhavam para o cérebro; ardiam em febre de sarampo, ou a pneumonia as levava de um dia para o outro”.


A morte era algo que as pessoas costumavam ver de perto. Um exemplo é o conhecido pastor e teólogo inglês John Owen (1616-1683), que perdeu seus onze filhos, bem como sua primeira esposa. Uma vez que as pessoas faleciam onde viviam, em casa, Owen literalmente viu quase todos que ele amava morrerem diante de seus olhos. No período colonial nos EUA, famílias perdiam, em média, um de cada três filhos antes que chegassem à vida adulta. E, tendo em conta que a expectativa de vida de todos naquela época era cerca de quarenta anos, muitos perdiam os pais na infância. Quase todos cresciam vendo corpos e observando familiares jovens e velhos morrerem (Howard P. Chudacoff). A medicina moderna escondeu a morte de nós. A medicina e a ciência reduziram muitas das causas de morte precoce e, hoje em dia, a grande maioria das pessoas definha e morre em hospitais e clínicas de cuidados paliativos, longe dos olhos dos outros. É normal em nossos dias chegar à vida adulta sem nunca ter visto alguém morrer, ou nem mesmo o corpo de um morto, exceto de relance, em um caixão aberto durante um funeral.


Atual Gawande e outros destacaram que o fato de a morte ocorrer de forma oculta na sociedade moderna significa que nós, dentre todas as outras culturas, vivemos em negação do caráter inexorável, inflexível, de nossa morte que, cedo ou tarde, virá. Em Salmos 90.12, o salmista pede a Deus que nos ensine “a contar os nossos dias, para que alcancemos coração sábio”. Ou seja, sempre houve o risco de os seres humanos viverem em negação de sua mortalidade. Claro que sabemos intelectual e racionalmente que vamos morrer, mas, lá no fundo, reprimimos esse fato e agimos como se fôssemos viver para sempre. De acordo com o salmista, agir desse modo não é sábio. A morte é a única inevitabilidade absoluta; e, no entanto, hoje em dia não fazemos planos em relação a ela e não vivemos como se ela fosse acontecer. Evitamos médicos por medo, ou vamos demais a eles na ilusão de que superaremos qualquer doença. Negamos a mortalidade de nosso corpo e supomos que ele continuará a funcionar para sempre. Ainda assim, diante da morte iminente exigimos procedimentos médicos extremos e irrealistas. Consideramos até que conversas sobre morte são “de mau gosto” ou coisa pior. O antropólogo Geoffrey Gorer propõe em seu ensaio “A pornografia da morte” que a cultura contemporânea da morte é o novo tabu, no lugar do sexo.


Se três mil anos atrás a negação da morte era uma questão problemática, como o Salmo 90 mostra, hoje é infinitamente pior. O progresso médico sustenta a ilusão de que a morte pode ser adiada por tempo indefinido. É mais raro que nunca ver pessoas que, como os antigos, estão em paz com sua mortalidade. E existem até mesmo pensadores que acreditam seriamente que a morte pode ser solucionada como qualquer “questão de desempenho” tecnológica (David Bosworth). Muitos no Vale do Silício têm obsessão por vencer a mortalidade e viver para sempre. Tudo isso significa que, hoje em dia, as pessoas são mais irrealistas e despreparadas para a morte que em qualquer outro período da história. Por isso, Eclesiastes 7 nos diz: “Melhor é ir à casa onde há luto do que ir à casa onde há banquete, pois naquela se vê o fim de todas as pessoas; e que os vivos o tomem em consideração” (v. 2).


Outro motivo pelo qual temos tanta dificuldade com a morte nos dias de hoje é a exigência da era secular de (2) felicidade e realização neste mundo. O antropólogo Richard Shweder fez um levantamento das maneiras que culturas não ocidentais e culturas mais antigas ajudam seus membros a enfrentar sofrimento. Todas o fazem ao ensinar seus membros sobre o sentido da vida, o motivo principal pelo qual cada um deve viver. Em muitas sociedades, acredita-se que seu povo e sua família (filhos e netos) são os motivos mais importantes para se viver, pois neles a vida de cada indivíduo continua depois que ele morre. O budismo e várias outras culturas orientais antigas ensinam que o significado da vida se encontra na natureza ilusória deste mundo e, portanto, em transcendê-lo por meio da serenidade interior e da separação da alma. Outras culturas acreditam em reencarnação, ou em um céu ou nirvana depois da morte e, portanto, o propósito central de cada indivíduo é viver e crer a fim de que a alma realize a jornada para o céu.


Embora essas crenças sejam bastante diferentes umas das outras, Shweder propõe que elas têm um elemento em comum. Em todos os casos, o motivo para viver é algo exterior a este mundo e esta vida materiais, um objeto que sofrimento e morte não tocam. Pode ser o céu ao morrer, ou a possibilidade de sair do ciclo da reencarnação e entrar no êxtase eterno, ou a perda da ilusão do mundo e a volta à Alma Única do Universo, ou ter uma vida honrada e, depois da morte, ser recebido por seus ancestrais. Em cada caso, tragédia e morte não são capazes de destruir o significado da vida e, aliás, apressam a jornada rumo a seu objetivo, quer seja por meio do crescimento espiritual, pelo desenvolvimento de honra e virtude, ou pelo ingresso na eternidade de alegria.


A cultura moderna, porém, é fundamentalmente secular. Na opinião de muitos, uma vez que não há Deus, alma ou espírito, e que a realidade não tem nenhuma dimensão transcendental ou sobrenatural, o presente mundo material é só o que existe. Portanto, aquilo que dá significado e propósito a sua vida tem de estar no âmbito do tempo presente aqui na terra. Deveríamos, por assim dizer, repousar nosso coração em algo dentro dos horizontes limitados de tempo e espaço. Aquilo que você escolher para dar sentido a sua vida terá de ser alguma forma de felicidade, consolo ou realização deste mundo. Ou, na melhor das hipóteses, poderá ser um relacionamento de amor (ex. casamento ontem).


É evidente, porém, que a morte destrói todas essas coisas. Logo, enquanto outras culturas e cosmovisões consideram o sofrimento e a morte capítulos de enorme importância (e não finais) na história coerente da vida, a perspectiva secular é completamente diferente. O sofrimento é uma interrupção, e a morte é o final absoluto. A cultura moderna é, portanto, a que se sai pior em toda a história na tarefa de preparar seus membros para a única coisa inevitável: a morte. Daí a razão de tantos adoecimentos em nosso tempo. Quando esse horizonte limitado de significado se une ao avanço da medicina, deixa muitos paralisados de ansiedade e medo quando confrontados com alguém que esteja morrendo. Em vez de aceitarmos a morte e nos prepararmos para ela, a evitamos e negamos, infelizmente.


O terceiro motivo pelo qual a cultura secular atual tem tanta dificuldade com a morte é o fato de que, (3) ao redefinir morte como não existência, criou uma profunda sensação de insignificância. Ernest Becker, autor de “A negação da morte”, afirma que os seres humanos não conseguem aceitar que tudo o que somos – nosso ser consciente, nossos amores, nossos anseios profundos por beleza, bondade e verdade – deixarão de existir para sempre, literalmente num piscar de olhos. Se a morte é verdadeiramente o fim, se todos nós morremos e, cedo ou tarde, até mesmo a civilização humana “morrerá” com a morte do Sol, nada do que fazemos tem relevância final. Se viemos do nada e vamos para o nada, como evitar, mesmo agora, a sensação de vazio?


O medo da insignificância diante da não existência precisa ser tratado de alguma forma. Becker cita antropólogos que dizem que os antigos tinham muito menos temor da morte e que a morte era “acompanhada de regozijo e festividades”. Como Becker acrescenta corretamente, embora o medo da morte seja um elemento universal da humanidade, os antigos lidavam com ela por meio da crença em vida e significado depois dela. A creditavam na eternidade e, portanto, a morte era a “promoção máxima”. Nosso problema hoje é que “a maioria dos ocidentais tem dificuldade em acreditar nisso, motivo pelo qual o medo da morte é parte tão proeminente de nossa constituição psicológica”.


O restante do livro de Becker baseia-se nessa tese, a saber, que a cultura moderna e secular tem uma dificuldade com a morte que nenhuma outra sociedade enfrentou. Ele argumenta que a importância exagerada conferida a tantas coisas na cultura moderna – sexo, romance, dinheiro e carreira, política e causas sociais – exemplifica as maneiras usadas pelas pessoas para buscar a sensação de relevância diante da morte sem ter de recorrer a Deus e à religião. Como Becker, pensadores não cristãos do século 20 tinham consciência de que, à medida que à religião e a fé em Deus desaparecessem, a morte se tornaria um problema. Existencialistas, como Albert Camus em “O mito de Sísifo”, afirmavam que o caráter definitivo da morte tornava a vida absurda e que era errado tentar negar esse fato ao perder-se em prazeres e realizações. Imagine um bandido entrando em sua casa, amarrando você e anunciando que vai matá-lo. Mas, antes de fazer isso, por alegar ser “generoso”, esse bandido permite que você faça aquilo de que mais gosta (ex. jogar xadrez). Ora, a morte iminente removeria toda a satisfação proporcionada pelo jogo. A morte subtrai a importância e a alegria das coisas.


“É aterrador encontrar-se nesse dilema e ter de viver com ele. Os animais inferiores são, evidentemente, poupados dessa contradição aflitiva, pois faltam-lhes identidade simbólica e a respectiva consciência própria [...] O conhecimento da morte é reflexivo e conceitual, e animais são poupados dele. [Eles experimentam a morte] com alguns minutos de medo, alguns segundos de angústia, e depois acaba. Mas passar a vida inteira sendo assombrado pela morte em nossos sonhos e até nos dias mais ensolarados é outra história” (Becker). Pensadores não cristãos mais recentes não se expressam de modo tão sombrio. Muitos hoje se valem dos filósofos antigos Epicuro e Lucrécio, e afirmam que “não há motivo para ter medo da morte”, e há uma série de artigos com essa mensagem, como é o caso do ensaio de Jessica Brown (The Guardian), “Tememos a morte, mas e se morrer não é tão ruim quanto imaginamos?” Segundo ela, quando morremos não sabemos nada e não sentimos nada. Não há dor nem aflição. Por que temer a morte? Mas os esforços para dizer que as pessoas não precisam se preocupar com a morte não dão resultados para a maioria. O filósofo Luc Ferry afirma que é “brutal” e desonesto dizer às pessoas diante da morte e, portanto, diante da perda de todos os relacionamentos de amor, que não devem temer a morte. Becker tem razão. A raça humana como um todo não consegue não temer e odiar a morte. É um problema singular e profundo. A religião nos dava ferramentas que ajudavam a enfrentar nosso inimigo mais temível, e o secularismo não propôs nada que compense por sua perda.


O quarto motivo pelo qual temos dificuldade com a morte hoje em dia é a (4) perda das categorias de pecado, culpa e perdão na cultura moderna. Friedrich Nietzsche declarou que a ideia e o sentimento de “dívida” ou culpa nasceram nos seres humanos junto com a crença em um Deus (ou deuses) transcendente ao qual devemos obediência. Nietzsche dizia com satisfação que, à medida que a religião desaparecesse e cada vez mais pessoas deixassem de crer em um Deus de julgamento, ocorreria um declínio em nossa sensação de culpa. O ateísmo poderia até significar “uma segunda inocência”.


Wilfred M. McClay argumenta em “A estranha persistência da culpa” que a predição de Nietzsche não se cumpriu. De acordo com Wilfred, Freud foi o melhor profeta quando disse que a culpa é uma característica insubstituível de qualquer civilização. É o preço que temos de pagar para refrear o tipo de comportamento egoísta que enfraquece sociedades. Isso significa que, mesmo que tentemos acabar com nossa sensação de pecaminosidade e culpa, ela persistirá e assumirá outras formas. “A culpa é astuciosa, enganadora, um camaleão capaz de se disfarçar, se esconder, mudar de tamanho e aparência [...] ao mesmo tempo que consegue persistir e se aprofundar” (W. McClay). Freud chamou a culpa unbehagen. Significa “mal-estar”, uma forte sensação de desconforto a respeito de si mesmo e da vida em si que provoca uma série recorrente de perguntas: “Por que a vida não é melhor? Por que não me enturmo? Por que sinto necessidade de me esforçar tanto para provar meu valor? Será que alguém me amará de verdade?”


No momento, nossa cultura secular acredita em Nietzsche, e não em Freud, e fez todo o possível para libertar indivíduos a fim de que se entreguem ao prazer em total liberdade de autoexpressão. Isso significa remover as palavras “pecado” e “culpa” do discurso público para que todos se sintam à vontade para criar e conscientizar a identidade que escolherem. No entanto, essa ideia nos colocou em uma situação estranha. Como diz um estudioso, vemos o mal e o pecado ao nosso redor, coisas “que nossa cultura não nos dá mais o vocabulário para expressar” e, portanto, “um abismo se abriu em nossa cultura entre a visibilidade do mal e os recursos intelectuais disponíveis para lidar com ele” (Andrew Delbanco). Muitos chamam a atenção para o fato de que nossa sociedade atual continua a ser moralista e julgadora. Vivemos em uma “cultura de confrontação”, em que as pessoas são categorizadas de forma reducionista e consideradas boas ou más e, depois, publicamente humilhadas até que percam seu emprego e sua comunidade (David Brooks). Pessoas são acusadas de coisas que costumavam ser denominadas pecados e são castigadas e banidas de maneiras extremamente parecidas com ritos de purificação cerimonial religiosa (Tim Keller).


Como McClay destaca, os seres humanos não conseguem abandonar seus reflexos morais – uma crença em absolutos morais, em pecado e julgamento e na imposição de culpa e vergonha. No entanto, deixamos para trás as antigas crenças subjacentes em Deus, no céu e no inferno e, portanto, perdemos os antigos recursos para arrependimento, demonstração de graça e concessão de perdão (McClay). Tudo isso desencadeia uma crise para nossos contemporâneos diante da morte. Por trás e debaixo de todas as outras emoções se encontra o medo de julgamento. Em 1Co 15, a extensa abordagem de Paulo sobre a morte, ele afirma que “o aguilhão da morte é o pecado” (v. 56). Como ele ensinou em Romanos 1.20-22, todos nós sabemos, em nosso coração, por mais oculto que esteja esse conhecimento, que Deus é nosso Criador e que ele merece nossa adoração e obediência. No entanto, “suprimimos” (v. 18) esse conhecimento a fim de declarar soberania sobre as nossas próprias vidas.


No entanto, a morte torna a nossa insatisfação conosco mesmos muito mais consciente. É impossível calar nossa consciência como fazíamos antes. O personagem Hamlet, de Shakespeare, pensa em suicídio, mas decide não cometê-lo. Tem medo de algo depois da morte, medo “da terra incógnita de cujas fronteiras nenhum viajante retorna”, o que nos leva a temer o julgamento. Portanto, “suportamos os males que temos, [em vez de] fugir para outros que desconhecemos”, pois a consciência transforma todos nós em covardes” (Hamlet). Apesar de todos os esforços, a culpa persiste e, mais do que nunca, quando enfrentamos a morte. A cultura moderna nos dá pouquíssima ajuda para lidar com ela, mas a fé cristã nos oferece alguns recursos extraordinários.


Solução


Em vez de viver com medo da morte, devemos considerá-la uma sacudida espiritual para nos despertar da falsa convicção de que viveremos para sempre. Em um funeral, especialmente de um amigo ou de um ente querido, ouça Deus falar com você, dizer-lhe que tudo na vida é temporário, exceto o amor dele. Essa é a realidade. Tudo nesta vida será tomado de nós, exceto uma coisa: o amor de Deus, que pode nos acompanhar na morte, nos fazer atravessá-la e nos levar para os braços dele. Essa é a única coisa impossível de perder. Sem o amor de Deus para nos acolher, sempre nos sentiremos radicalmente inseguros, e devemos nos sentir dessa forma. É extremamente desagradável sermos sacudidos, mas funciona. Ao despertar de suas ilusões, porém, fique em paz, pois se, pela fé, temos Jesus Cristo como Salvador, eis o que ele nos oferece: “Porque convinha que Deus, por causa de quem e por meio de quem todas as coisas existem, conduzindo muitos filhos à glória, aperfeiçoasse, por meio de sofrimentos, o Autor da salvação deles. Visto, pois, que os filhos têm participação comum de carne e sangue, também Jesus, igualmente, participou dessas coisas, para que, por sua morte, destruísse aquele que tem o poder da morte, a saber, o diabo, e livrasse todos os que, pelo pavor da morte, estavam sujeitos à escravidão por toda a vida” (Hb 2.10, 14-15).


Para que Jesus nos salvasse, ele se tornou “Autor” ou “pioneiro” de nossa salvação por meio do sofrimento e da morte. O termo usado aqui é archegos. O estudioso William Lane (Comentário Bíblico) diz que esse termo deveria ser traduzido por “nosso campeão”. O campeão era o soldado que participava de um combate representativo, como ocorreu com Davi e Golias. Quando o campeão vencia, todo o seu exército era vitorioso. Foi o que Jesus fez. Ele enfrentou nossos maiores inimigos, o pecado e a morte. Ao contrário de Davi, ele não apenas arriscou a vida, mas entregou a vida; ao fazê-lo, porém, derrotou esses adversários. O castigo que merecíamos por nossos pecados ele tomou sobre si em nosso lugar, como nosso substituto. Mas, uma vez que ele próprio era um ser humano de perfeito e impecável amor por Deus e pelo próximo, a morte não pode detê-lo (At 2.24). Ele ressuscitou dos mortos.


Por isso, em Hb 2.14, o autor diz que ele derrotou a morte, pois morreu por nós, removeu nosso castigo e garantiu a ressurreição futura de todos os que se unem a ele pela fé. Jesus Cristo, nosso grande capitão e campeão, matou a morte. Todas as religiões falam de morte e de vida depois da morte, mas, em geral, proclamam que temos de viver de forma correta e afim de estar preparados para a eternidade. E, no entanto, à medida que a morte se aproxima, todos nós sabemos que não chegamos nem perto de fazer o melhor que podíamos; não vivemos como deveríamos ter vivido. Consequentemente, por bons motivos, permanecemos até o fim escravizados pelo medo da morte.


A fé cristã é diferente. Não nos deixa sozinhos diante da morte, exibindo nosso histórico de vida e torcendo para que seja suficiente. Em vez disso, Deus nos dá um campeão que derrotou a morte, que nos perdoa e nos cobre com seu amor. Enfrentamos a morte “nele” e com o histórico perfeito dele (Fp 3.9). À medida que sabemos dessa verdade, cremos nela e a aceitamos, somos libertos do poder da morte. Hamlet estava errado. Alguém voltou dos mortos. Jesus Cristo destruiu o poder da morte e “uma fenda se abriu” para nós “nas paredes impiedosas do mundo” (C. S. Lewis). Quando entendemos essa verdade pela fé, não precisamos mais temer a escuridão. “‘Onde está, ó morte, a sua vitória? Onde está, ó morte, o seu aguilhão?’" (1Co 15.55).


Paulo não enfrenta a morte de forma estoica. Ele zomba dela. Como é possível alguém em sã consciência olhar para o inimigo mais poderoso da humanidade e zombar dele? Logo em seguida, Paulo dá a resposta: “O aguilhão da morte é o pecado, e o poder do pecado é a lei. Mas graças a Deus! Ele nos dá a vitória por meio de nosso Senhor Jesus Cristo” (1Co 15.56-57). De acordo com Paulo, o “aguilhão” da morte (como Hamlet diz) é nossa consciência, nossa percepção do pecado e julgamento diante da lei moral. Mas Cristo removeu o pecado e o julgamento ou, mais precisamente, tomou-o sobre si para todos que creem. O aguilhão da morte é o pecado, e o veneno foi para Jesus. Portanto, qualquer indivíduo cristão tem poder para triunfar sobre a morte dessa maneira. Não importa o que aconteça, o crente sempre vence a morte, quer faleça, quer não. Jesus Cristo derrotou a morte, e agora a única coisa que ela pode fazer é nos tornar mais felizes e amados que nunca. Se Jesus morreu por você e ressuscitou para ser seu vivo Salvador, o que a morte pode lhe fazer?

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