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Foto do escritorChristian Lo Iacono

O Reinado da Graça de Deus | Parte III

Portanto, não permitam que o pecado reine em seu corpo mortal, fazendo com que vocês obedeçam às suas paixões.

Também não ofereçam os membros do corpo ao pecado, como instrumentos de injustiça, mas, como pessoas que passaram da morte para a vida, ofereçam a si mesmos a Deus e ofereçam os seus membros a Deus, como instrumentos de justiça.

Porque o pecado não terá domínio sobre vocês, pois vocês não estão debaixo da lei, e sim da graça.

E então? Havemos de pecar porque não estamos debaixo da lei, e sim da graça? De modo nenhum!

Será que vocês não sabem que, ao se oferecerem como servos para obediência, vocês são servos daquele a quem obedecem, seja do pecado, que leva à morte, ou da obediência, que conduz à justiça?

Mas graças a Deus que, tendo sido escravos do pecado, vocês vieram a obedecer de coração à forma de doutrina a que foram entregues.

E, uma vez libertados do pecado, foram feitos servos da justiça.

Falo em termos humanos, por causa das limitações de vocês. Assim como ofereceram os seus membros para que fossem escravos da impureza e da maldade que leva à maldade, assim ofereçam agora os seus membros para que sejam servos da justiça para a santificação.

Porque, quando vocês eram escravos do pecado, estavam livres em relação à justiça.

Naquele tempo, que frutos vocês colheram? Somente as coisas de que agora vocês se envergonham. Porque o fim delas é morte.

Agora, porém, libertados do pecado, transformados em servos de Deus, o fruto que vocês colhem é para a santificação. E o fim, neste caso, é a vida eterna.

Porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor.



v. 12

A palavra “portanto” introduz a conclusão da argumentação de Paulo. Já que Cristo morreu para o pecado e vive para Deus, e já que através da união com Cristo nós também estamos “mortos para o pecado e vivos para Deus”, e assim devemos nos considerar, portanto toda a nossa atitude agora para com o pecado e para com Deus deve mudar. “Não ofereçam os membros do corpo ao pecado” (v. 13a), pois vocês já morreram para ele; mas “ofereçam a si mesmos a Deus” (v. 13b), pois vocês ressuscitaram a fim de viver para a sua glória. Essa é a ênfase desses versículos.


A exortação de Paulo tem aspectos positivos e negativos, que se complementam. Parece que todo tipo de exortação negativa em nossos dias não cai muito bem! Soa repressor! “Não permitam que o pecado reine em seu corpo mortal, fazendo com que vocês obedeçam às suas paixões” (v. 12). A forma como Paulo usa o adjetivo “mortal” demonstra que ele está aludindo ao nosso corpo físico. Ora, nem todos os desejos do corpo são maus, como já vimos ao considerar o significado de “o corpo do pecado” (v. 6). No entanto, o pecado pode usar o nosso corpo como uma ponte através da qual ele consegue nos governar. Assim, Paulo nos convoca a nos rebelarmos contra o pecado (ex. homossexualidade). “É exatamente porque nós estamos ‘livres do pecado’ que temos de lutar contra o pecado” (Nygren). Os cristãos romanos “devem rebelar-se em nome de quem é o seu dominador por direito, Deus, contra o domínio usurpador do pecado” (Cranfield).


v. 13

A seguir, vem a segunda exortação negativa: “não ofereçam os membros do corpo ao pecado, como instrumentos de injustiça” (v. 13a). Já que o corpo parece, mais uma vez, ser a nossa estrutura material, suas partes são provavelmente os nossos vários membros ou órgãos (olhos, ouvidos, mãos e pés), sem bem que é provável que isso incluiria as nossas faculdades ou capacidades humanas, que podem ser usadas pelo pecado como instrumentos de injustiça. (Hopla é uma palavra que se refere a qualquer ferramenta, implemento ou instrumento, embora alguns achem que o pecado, aqui, é personificado como um comandante militar a quem seria possível oferecer os nossos órgãos e faculdades como “armas” (Rm 13.12; 2Co 6.7; 10.4)).


Positivamente, Paulo nos aconselha uma alternativa: “ofereçam a si mesmos a Deus” (v. 13b). Apesar de a ordem para não nos oferecermos ao pecado estar no tempo presente, indicando que não devemos continuar a fazê-lo, a exortação a que nos ofereçamos a Deus encontra-se no tempo aoristo, o que é significativo. Embora isso possa não ser um apelo a uma rendição total, uma vez por todas, pelo menos sugere um “compromisso decisivo e deliberado” (Dunn). Tal como com as proibições negativas, também com as ordens positivas, Paulo olha para além de um auto oferecimento generalizado e faz um apelo específico: que apresentemos os membros dos nossos corpos a Deus, desta vez como “instrumentos (ou armas) de justiça” (v. 13c).


É que nós “passamos da morte para a vida” (v. 13b). A lógica está clara. Uma vez que nós morremos para o pecado, é inconcebível que permitamos que ele reine sobre nós ou que nos ofereçamos a ele. Já que estamos vivos para Deus, o mínimo que se espera é que ofereçamos a ele nossas faculdades e nosso próprio ser. Este tema da morte e da vida perpassa toda a seção. Cristo morreu e ressuscitou. Nós morremos e ressuscitamos com ele. Devemos, portanto, nos considerar mortos para o pecado e vivos para Deus. E, tal como aqueles que foram tirados da morte, nós devemos nos colocar a seu serviço.


v. 14

Agora, Paulo apresenta mais uma razão para que nos ofereçamos, não ao pecado, mas a Deus. É que o “pecado não terá domínio sobre vocês” (v. 14a). Ele está expressando uma garantia, e não uma ordem. Por que o pecado não terá domínio? “Pois vocês não estão debaixo da lei, e sim da graça” (v. 14). Esse é o segredo supremo da libertação do pecado. Lei e graça são princípios opostos que refletem a antiga e a nova ordem de Adão e de Cristo. Estar debaixo da lei é aceitar a obrigação de guardá-la e assim incorrer em sua maldição ou condenação (Gl 3.10). Estar debaixo da graça é reconhecer a nossa dependência da obra de Cristo para a salvação, e assim ser justificados ao invés de condenados. “Pois aqueles que se sabem livres da condenação são livres para resistir com força e ousadia renovadas ao poder usurpador do pecado” (Cranfield).


Assim, a primeira parte de Romanos 6 está encravada entre duas notáveis referências ao pecado e à graça. No v. 1 é indagado se a graça incentiva o pecado; no último, v. 14, vem a resposta: pelo contrário, a graça desencoraja e até marginaliza o pecado. É a lei que provoca e aumenta o pecado (5.20); a graça opõe-se a ele. A graça baseia-se na responsabilidade da santidade. É com esse pensamento que Wiliam Tyndale conclui seu Prólogo ao Livro de Romanos (1526): “Agora, leitor, considera bem... Lembra-te de que Cristo fez a sua expiação, não para que irasses a Deus outra vez; nem morreu ele por teus pecados para que pudesses continuar vivendo neles; nem purificou a ti para que pudesses retornar... ao teu velho lamaçal – mas sim para que pudesses ser uma nova criatura e viver uma nova vida de conformidade com a vontade de Deus e não segundo os desejos da carne”.


v. 15

O v. 15 é um paralelo do v. 1. É verdade que há diferenças entre pecar e persistir no pecado como também entre pecar para que a graça aumente e pecar porque estamos debaixo da graça. Essas diferenças, porém, são mínimas. A questão que está sendo posta em ambos os versos é substancialmente a mesma, qual seja, se a graça sanciona o pecado ou mesmo incentiva a sua prática. E em ambos os casos ela desperta da parte do apóstolo o mesmo protesto de indignação: De modo nenhum! (vv. 2 e 15).


Poderíamos dizer que Paulo rebobinou a fita e agora irá tocá-la novamente – só que com duas mudanças significativas de ênfase. Primeiro, embora ele desenvolva o mesmo argumento de que a liberdade para pecar é fundamentalmente incompatível com a nossa realidade como cristãos, ele descreve isso em termos de nossa união com Cristo nos vv. 13-14 e de estarmos escravizados a Cristo nos vv. 16-23. A única diferença, porém, é a figura de linguagem que ele usa: “mortos para o pecado, mas vivos para Deus” (v. 11) e “libertados do pecado e... escravos de Deus” (v. 22). Outra diferença é a forma como essas mudanças radicais aconteceram. A ênfase, na primeira, encontra-se naquilo que foi feito por nós (fomos unidos a Cristo), enquanto a ênfase da última é naquilo que nós fizemos (nos oferecemos a Deus a fim de obedecer-lhe). A declaração passiva é uma alusão ao nosso batismo (nós fomos batizados), enquanto que a ativa é apropriadamente chamada de conversão (nós abandonamos o pecado e nos voltamos para Deus), se bem que, obviamente, somente a graça é que nos capacitou a fazê-lo.


O que Paulo faz na segunda parte de Romanos 6 é delinear a lógica da nossa conversão, assim como na primeira parte ele esboçou a lógica do nosso batismo. Em ambos os casos o seu argumento começa com a mesma indagação de espanto: “será que vocês ignoram (ou não sabem)?” (vv. 3 e 16), e em seguida faz uma sondagem quanto à compreensão que temos dos nossos princípios cristãos. Já que através do batismo nós fomos unidos a Cristo, e em consequência disso morremos para o pecado e vivemos para Deus, como podemos viver no pecado? Se através da nossa conversão nós nos oferecemos a Deus para ser seus escravos, e consequentemente nos comprometemos a obedecer, como podemos dizer que estamos livres para pecar?


v. 16

“Será que vocês não sabem que, ao se oferecerem como servos para obediência, vocês são servos daquele a quem obedecem?” Esse conceito pode nos surpreender, porque nossa tendência é pensar no escravo romano como quem foi capturado na guerra ou então foi exposto no mercado de escravos, e não como alguém que se ofereceu para servir. No entanto, havia uma modalidade de escravidão que era voluntária. “Pessoas em extrema pobreza podiam oferecer-se como escravos a alguém simplesmente em troca de casa e comida” (Ziesler). O que Paulo quer dizer é que aqueles que assim se ofereciam eram invariavelmente aceitos. Eles não podiam esperar que, ao se entregarem a um senhor de escravos, poderiam ao mesmo tempo conservar a sua liberdade. O mesmo acontece em se tratando de escravidão espiritual. A auto rendição conduz inevitavelmente à escravidão, seja como escravos “do pecado, que leva à morte, ou da obediência, que conduz à justiça” (v. 16b). A ideia de escravidão ao pecado é prontamente compreensível (até porque o próprio Jesus falou nisso em Jo 8.34), assim como o fato de que ela leva à morte (separação de Deus), já que no final do capítulo Paulo irá se referir à morte como o “salário” que se recebe pelo pecado (v. 23).


Menos fácil, porém, é compreender os seus paralelos aparentemente inexatos. Como alternativa para o conceito de “escravos do pecado, o que se poderia esperar seria “escravos de Cristo” e não “escravos da obediência”, e como alternativa para “morte” o esperado seria “vida” e não “justiça”. Mas a ideia de ser “obediente à obediência” é uma forma dramática de enfatizar que a essência da escravidão é justamente a obediência, e que “justiça”, no sentido de justificação, é quase um sinônimo de vida (5.18). Pelo menos o significado mais amplo de Paulo está além de qualquer dúvida. A conversão é um ato de auto rendição; auto rendição conduz inevitavelmente a escravidão; e escravidão demanda obediência total, radical e exclusiva. Afinal, ninguém pode ser escravo de dois senhores, como disse Jesus (Mt 6.24). Portanto, uma vez que nos ofereçamos a ele como escravos seus, estamos permanente e incondicionalmente ao seu dispor. Não há a mínima possibilidade de voltar atrás. Depois de escolher o nosso mestre, não nos resta outra escolha a não ser de obedecer-lhe.


vv. 17-18

Paulo aplica o princípio aos leitores romanos, fazendo-os lembrar que a sua conversão implicou em uma troca de escravidão. Tão completa é a mudança que se deu em suas vidas que ele irrompe em uma doxologia espontânea: Graças a Deus! E então resume a experiência deles em quatro estágios, que têm a ver com o que eles eram (escravos do pecado), o que eles fizeram (passaram a obedecer de coração), o que lhes aconteceu (foram libertados do pecado) e em que eles se transformaram (escravos da justiça).


Primeiro, eles eram escravos do pecado (v. 17a). Paulo não mede as palavras. Todos os seres humanos são escravos, e só existem dois tipos de escravidão: ao pecado e a Deus. A conversão é uma transferência de um para outro. Em segundo lugar, eles passaram a obedecer “de coração à forma de doutrina a que foram entregues” (v. 17b). Essa é uma forma incomum de descrever uma conversão. Que eles tenham “obedecido”, isso dá para entender, já que o que se espera é que o anúncio do evangelho resulte em “obediência por fé” (Rm 1.5). Mas aqui não é a Deus nem a Cristo que se diz que eles obedeceram, mas a uma certa forma de ensino. Deve ser uma alusão a um “modelo de são doutrina” (2Tm 1.13), ou estrutura de instrução apostólica, que provavelmente incluía tanto a doutrina básica do evangelho (1Co 15.3ss.) como a ética pessoal elementar (1Ts 4.1ss.). É evidente que para Paulo a conversão não se limita a confiar em Cristo, mas implica em crer e reconhecer a verdade (2Ts 2.12ss.; 1Tm 4.3; Jo 8.32; 1Tm 2.4; 2Tm 2.25; Tt 1.11; Rm 2.8; Gl 5.7; 1Pe 1.22).


O que Paulo escreve não é que esse ensino foi confiado a eles, mas que eles foram confiados ao ensino referido: “...vocês vieram a obedecer de coração à forma de doutrina a que foram entregues” (v. 17b). O verbo que ele usa é paradidomi, que é a palavra normalmente usada para “passar adiante uma tradição”. “O que se espera é que a doutrina seja entregue aos ouvintes”, escreve Barret, “não os ouvintes entregues à doutrina. Os cristãos, porém, não são (como os rabinos). mestres de uma tradição; eles são, eles mesmos, criados pela palavra de Deus, e permanecem em sujeição a ela” (Barret).


Terceiro, os romanos foram libertados do pecado (v. 18a), emancipados de sua escravidão. Não que eles já sejam perfeitos, pois ainda podem pecar (vv. 12-13); o que acontece é que eles foram definitivamente resgatados do senhorio do pecado para o senhorio de Deus, arrancados do domínio da escuridão e levados para o reino de Cristo (Cl 1.13). Em consequência disso, quarto, tornaram-se escravos da justiça (v. 18b). Tão decisiva é essa transferência que se dá, pela graça e poder de Deus, da escravidão do pecado para a escravidão da justiça, que Paulo não pode deixar de dar graças a Deus (v. 17).


v. 19

O v. 19 começa com uma espécie de apologia para os termos humanos nos quais Paulo vem descrevendo a conversão. Afinal, “escravidão” não é uma metáfora totalmente acurada ou apropriada para vida cristã. Apesar de refletir bem a exclusividade de nossa lealdade ao Senhor Jesus Cristo, não expressa, contudo, nem a leveza do seu jugo, nem a suavidade da mão que o coloca sobre nós (Mt 11.29), e muito menos a natureza libertadora de se estar a seu serviço. Mas então, por que o apóstolo usa essa imagem? Ele tem suas razões: “por causa das limitações de vocês”. Isso deve ser uma alusão à sua natureza caída e que se manifesta, quer em suas mentes, deixando-os insensíveis, ou em fraqueza de caráter, tornando-os vulneráveis à tentação e fazendo-os esquecer que se comprometeram com a obediência.


Paulo continua comparando e contrastando os dois tipos de escravidão. Desta vez, porém, ele faz uma analogia entre os dois na forma como se desenvolvem. Nenhuma das duas escravidões é estática. Ambas são dinâmicas: uma leva decididamente à degeneração e a outra vai melhorando a passos firmes. “Assim como ofereceram os seus membros para que fossem escravos da impureza e da maldade que leva à maldade, assim ofereçam (façam aquilo que já fizeram, mas que seria prudente fazer de novo) agora os seus membros para que sejam servos da justiça para a santificação” (v. 19b). Assim, apesar da antítese entre os dois tipos de escravidão, traça-se também uma analogia entre o vergonhoso processo de degeneração moral e o glorioso processo de transformação moral.


vv. 20-22

O apóstolo salienta que cada um dos tipos de escravidão é também uma espécie de libertação, embora uma seja autêntica e a outra espúria. Semelhantemente, cada liberdade é um tipo de escravidão, embora uma seja degradante e a outra enobrecedora. Por um lado, escreve “quando vocês eram escravos do pecado, estavam livres em relação à justiça” (v. 20) – se bem que liberdade assim seria melhor chamá-la de licenciosidade. Por outro lado, ele diz: “Agora, porém, libertados do pecado, transformados em servos de Deus” (v. 22a) – este tipo de escravidão seria melhor chamado de libertação. E como saber o que requer de nós cada uma das escravidões? A melhor maneira é avaliando os seus “frutos” (v. 21). As consequências negativas de se ser escravo do pecado e livre da justiça são remorso no presente (um sentimento de culpa pelas coisas das quais agora vocês se envergonham) e, no final, a morte (v. 21), que aqui certamente significa a morte eterna, a separação de Deus no inferno, que nos capítulos finais de Apocalipse é chamada de a “segunda morte” (20.14; 21.8). Mas agora, continua Paulo, os benefícios positivos de ser livre do pecado e escravo de Deus são santidade no presente e vida eterna no final (v. 22b), o que certamente significa, aqui, comunhão com Deus no céu. Portanto, existe uma liberdade que se manifesta em morte e uma escravidão que se expressa em vida.


v. 23

Aqueles que estão em Adão servem ao pecado, enquanto os que estão em Cristo servem a Deus. Paulo adverte mais uma vez que essas duas modalidades de escravidão são tão diametralmente opostas entre si quanto o destino final para onde conduz cada uma delas: ou a morte, ou a vida eterna. O que vemos de novo, aqui, é o terceiro contraste, que tem a ver com os termos de serviço nos quais opera cada um dos senhores de escravos. “Porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor (v. 23). Assim, o pecado paga um salário (recebe-se o que se merece), mas Deus dá um dom gratuito (recebe-se o que não se merece). Opsonia normalmente se refere a “parcela” [em dinheiro] paga a um soldado”; mas nesse contexto talvez se refira a “mesada paga aos escravos” (Ziesler). Charisma, por sua vez, é uma dádiva da graça de Deus. Portanto, se estamos prontos a receber aquilo que merecemos, só pode ser a morte; já a vida eterna é uma dádiva de Deus, inteiramente gratuita e absolutamente imerecida. Ela se alicerça unicamente na morte expiatória de Cristo, e a única condição para recebê-la é que nós estejamos em Cristo Jesus, nosso Senhor, isto é, unidos pessoalmente a ele pela fé.


Eis aqui duas vidas que são totalmente opostas uma a outra. Jesus as retratou como o caminho largo que conduz à perdição e o caminho estreito que conduz à vida (Mt 7.13). Paulo as chama de “escravidão”. Nós, por nascimento, estamos em Adão, somos escravos do pecado; pela graça e pela fé estamos em Cristo, escravos de Deus. O que se ganha com a sujeição ao pecado é só vergonha e desenfreada degeneração moral, que culminará com a morte que esse tipo de vida merece. Mas a sujeição a Deus traz como resultado o precioso fruto de uma santidade cada vez maior, que há de culminar com o dom gratuito da vida.


Por fim...

Tal como no Éden o diabo indagou Eva: “É assim que Deus disse: Não comereis...?” (Gn 3.1), ele continua insinuando em nossas mentes: “Por que você não continua pecando? Vá em frente! Sinta-se à vontade! Você está debaixo da graça... Deus o perdoará!” Nossa pronta resposta deve ser um firme não: “Deus me livre! De modo nenhum!” Mas não podemos parar por aí: temos que apresentar uma razão para tal negativa. Afinal, existe uma razão sólida com a qual é possível refutar os argumentos ardilosos do diabo e com a qual Paulo traduz a sua elevada teologia na linguagem comum da experiência prática do dia a dia. É a necessidade de lembrar quem nós somos, em virtude de nossa conversão e batismo. Além de sermos um com Cristo (vv. 1-4), nós somos escravos de Deus (vv. 15-23). Fomos unidos a Cristo pelo batismo e nos tornamos escravos de Deus ao nos rendermos a ele na nossa conversão. Mas, quer enfatizemos o batismo ou a fé, a questão é a mesma. Unidos que fomos com Cristo, agora estamos “mortos para o pecado e vivos para Deus” (v. 11); e, sendo escravos de Deus, estamos por isso mesmo comprometidos com a obediência (v. 16), o que exige de nós “o total pertencimento, a total obrigação, o total compromisso e a total responsabilidade que caracterizam a vida debaixo da graça” (Cranfield).


Não devemos, jamais, persistir no pecado contando presunçosamente com a graça de Deus. A simples ideia de fazê-lo seria uma verdadeira contradição. Por isso, precisamos lembrar quem nós somos. Temos de aprender a dialogar com nós mesmos, indagando sempre: “Você não sabe? Não sabe o que significou sua conversão e seu batismo? Não sabe que foi unido a Cristo em sua morte e ressurreição? Não sabe que se tornou escravo de Deus e que se comprometeu a obedecer-lhe? Por acaso ignora essas coisas? Não sabe quem você é? Temos de insistir perguntando, até que cheguemos ao ponto de replicar: “Sim, é claro que eu sei quem eu sou! Sou uma nova pessoa em Cristo e, pela graça de Deus, hei de viver de conformidade com essa verdade”.



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