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O testemunho cristão | Parte II

13 Ora, quem há de maltratá-los, se vocês forem zelosos na prática do bem?14 Mas, mesmo que venham a sofrer por causa da justiça, vocês são bem-aventurados. Não tenham medo das ameaças, nem fiquem angustiados;15 pelo contrário, santifiquem a Cristo, como Senhor, no seu coração, estando sempre preparados para responder a todo aquele que pedir razão da esperança que vocês têm.16 Mas façam isso com mansidão e temor, com boa consciência, de modo que, naquilo em que falam mal de vocês, fiquem envergonhados esses que difamam a boa conduta que vocês têm em Cristo.17 Porque, se for da vontade de Deus, é melhor que vocês sofram por praticarem o bem do que praticando o mal.

 

No sermão passado, começamos a falar sobre o testemunho cristão. Vimos que aquelas pessoas que nos visitam domingo na igreja geralmente foram trazidas por algum membro. Muitos pensam em aceitar o convite porque basicamente há algo diferente na maneira como quem convida vive e fala sobre sua fé. Evangelização, assim, não se limita a pastores, diáconos ou missionários: é responsabilidade de todos os que fazem parte do povo de Deus.

 

Vimos também que evangelizar não é lidar prioritariamente com algum método, mas diz respeito ao coração. A verdade é que proclamamos aquilo que transborda em nosso coração. Culpa não é capaz de motivar, mas a beleza, sim; a esperança, sim; o amor, sim; o deslumbramento, sim. Nós falamos daquilo que amamos, valorizamos, reverenciamos e ansiamos.

 

Conforme Pedro ensina, quando Cristo se tornar santificado para seu coração, seus interesses e os assuntos mudarão. O apóstolo, assim, destaca três prioridades atemporais do testemunho fiel: bondade prática; reverência centrada em Cristo; e predisposição constante. Eis uma fórmula de Pedro: abençoe e faça o bem aos outros. Viva uma vida cativante sob o senhorio de Cristo que provoque perguntas.

 

Além disso, viver o evangelho intencionalmente significa não viver com espírito de medo, mas confiando humildemente na presença do Senhor e reverenciando humildemente a santidade de Deus. É com essa disposição de coração que apresentaremos o evangelho a nossos amigos e familiares descrentes. Por fim, tenha um coração que sempre lhe diga para estar preparado para o testemunho cristão: esteja alerta e pronto para compartilhar a razão da sua esperança. Esse tipo de esperança é tão raro de encontrar que algumas pessoas perguntarão a você sobre ela, principalmente quando estiverem passando por algum sofrimento ou quando o virem esperançoso em meio à aflição. Não cristãos podem não compreender sua teologia, mas são capazes de perceber sua esperança, amor, alegria e paz.

 

Vejamos o que Jesus disse aos seus discípulos em Mateus 10.16-20, texto previsto para a leitura ontem em nosso Plano de Leitura Anual da Bíblia: — Eis que eu os envio como ovelhas para o meio de lobos. Portanto, sejam prudentes como as serpentes e simples como as pombas.17 Tenham cuidado com os homens, porque eles os entregarão aos tribunais e os açoitarão nas suas sinagogas.18 Por minha causa vocês serão levados à presença de governadores e de reis, para lhes servir de testemunho, a eles e aos gentios.19 E, quando entregarem vocês, não se preocupem quanto a como ou o que irão falar, porque, naquela hora, lhes será concedido o que vocês dirão.20 Afinal, não são vocês que estão falando, mas o Espírito do Pai de vocês é quem fala por meio de vocês.”

 

Evangelismo de rede

 

Quando as pessoas ouvem a palavra "evangelismo" hoje, elas quase sempre pensam em grandes eventos/cruzadas ou em crentes batendo de porta em porta a partir da iniciativa do departamento de evangelismo da Igreja. Ainda que o Senhor tenha utilizado ambas as abordagens, e mesmo que ainda possam ser efetivas hoje, esses métodos são cada vez menos frutíferos em contextos pós-cristãos. Uma terceira abordagem, que tem legitimidade histórica e que é tanto culturalmente apropriada como eficaz na prática é a do evangelismo de rede.

 

Evangelismo de rede não consiste em eventos ou programações: é um estilo de vida; trata-se do dia a dia com intencionalidade evangélica, praticado entre as pessoas que fazem parte da nossa rede de relacionamentos.

 

O evangelismo de rede é a maneira principal pela qual cada membro pode evangelizar. Também devemos encorajar equipes a irem a certas áreas evangelizar de porta em porta, mas o evangelismo de rede deveria ser nosso foco principal, e tem se provado muito frutífero. Tim Keller, em seu livro Church Planting Manual [Manual de Plantação de Igreja], diz que: "Deve haver uma atmosfera de expectativa de que cada membro sempre terá de duas a quatro pessoas na 'incubadora', um campo de força com pessoas pelas quais devemos orar, a quem devemos dar livros, convidar para a igreja e outros eventos." Devemos buscar crescer nessa área.

 

O evangelismo de rede tem muitas vantagens. Uma delas é que essa abordagem reconhece a soberania de Deus. Ela estimula cada um a acreditar que toda pessoa em nossa vida importa, e nos ajuda a lembrar de que Deus nos inseriu nessa época e contexto histórico, cercados por pessoas feitas à sua imagem e semelhança, pessoas que sua soberania colocou em nosso caminho (At 16.26-27, o carcereiro).

 

Além disso, evangelismo de rede tem precedentes históricos. O sociólogo Rodney Stark, em seu livro Cities of God [Cidades de Deus], descreve como o cristianismo se tornou um movimento urbano e conquistou Roma: “Interações sociais são o mecanismo principal pelo qual a conversão acontecia [...]. A maioria das conversões não ocorriam pela atuação de missionários profissionais transmitindo uma nova mensagem, mas pelos membros do "chão de fábrica" que compartilhavam sua fé com seus amigos e familiares [...]. Ainda que as primeiríssimas conversões no Ocidente tenham ocorrido pela ação de missionários de tempo integral, logo o processo de conversão se tornou autossuficiente à medida que os novos convertidos aceitavam o dever de compartilhar sua fé, e assim o fizeram ao evangelizar aqueles que faziam parte de seu círculo mais íntimo.”

 

Não ignore isso! A propagação do cristianismo no primeiro século foi surpreendente, e o movimento avançou porque cristãos reconheceram a responsabilidade de compartilhar o evangelho com aqueles do seu círculo íntimo. Nós também podemos fazer isso em nossos dias.

 

Eis aqui outro benefício: o evangelismo de rede promove fidelidade e paciência no evangelismo. Quase sempre os métodos evangelísticos envolvem apenas apresentações in loco, que podem ser impessoais, focadas em números em vez de valorizar as pessoas. Esses métodos podem simplesmente fazer parte de uma checklist, para sentirmos o peso da consciência ir embora e seguirmos em frente. Mas quando você quer alcançar as pessoas que fazem parte da sua vida, isso requer fidelidade e perseverança; é preciso fazer uma espécie de pré-evangelismo, fazer perguntas, observar as defesas caírem lenta e gradualmente, e, assim espero, pela graça de Deus, ver seu amigo, familiar, colega de trabalho, ou vizinho declarar que "Jesus é o Senhor".

 

Abordando as pessoas de nossa rede

 

Vale a pena pensar sobre sua rede de relacionamentos nas seguintes cinco categorias:

1.                   Familiar: membros de sua família.

2.                   Geográfica: vizinhos.

3.                   Vocacional: colegas de trabalho.

4.                   Recreacional: amigos ou pessoas com quem você costuma sair.

5.                   Comercial: pessoas que você vê nas lojas que frequenta.

 

Tente identificar ao menos cinco pessoas em cada uma dessas categorias, e então, para cada uma delas, se proponha a fazer ao menos uma das cinco tarefas que vou mencionar abaixo. Com a graça de Deus, você conseguirá realizar mais de uma tarefa. Você pode orar por eles ou convidá-los para alguma coisa. Ou, você pode orar por eles e lhes pregar o evangelho. No mínimo, você pode começar a orar por aqueles que fazem parte de sua rede de relacionamentos. Mas o objetivo é orar, continuar orando, e, passado certo tempo, dar alguns passos a mais.

 

Algumas sugestões:

 

1. Ore. C.S. Lewis disse: "Eu tenho dois conjuntos de nomes em minhas orações: aqueles pelos quais eu peço a Deus que abençoe nossas conversas, e aqueles pelos quais eu dou graças pelas conversas que temos. Mesmo a menor transferência do conjunto A para o conjunto B me traz bastante alegria" (Phil Ryken). Que o Senhor nos abençoe com algumas dessas pequenas transferências!

 

2. Convide. Chame essas pessoas para jantar, praticar algum esporte, ir ao cinema, ou ir a um evento de sua igreja.

 

3. Sirva. Identifique maneiras de abençoar aqueles à sua volta. Ofereça-se para cuidar das crianças, fazer compras, ou ajudar em alguma necessidade.

 

4. Providencie recursos. Peça que leiam um livro ou artigo com você, ou que escutem um sermão ou podcast. Essa pode ser uma ótima maneira de iniciar uma conversa acerca do evangelho.

 

5. Compartilhe o evangelho. Busque se antenar em temas nos quais é possível se aprofundar em sua fé. Lembre-se de que você não é o único que está recomendando algo, ou alguém, aos outros: todo mundo hoje está fazendo isso. Todos pregam um tipo de evangelho: exaltam as maravilhas do estoicismo, dos sucos detox, da bebida do momento, dos procedimentos estéticos, daquela última série, do crossfit, daquele romancista, daquele jogador, entre outras coisas. O evangelho é bom demais e importante demais para deixarmos de compartilhá-lo!

 

Você pode pedir ajuda

 

Tendemos a achar que o evangelismo é uma prática individual, mas, na verdade, você pode ter a ajuda de outros, especialmente quando a tarefa em questão é compartilhar o evangelho e responder a perguntas. Evangelize acompanhado de outros membros de sua igreja. Alguns são bons em desenvolver relacionamentos; outros são hospitaleiros; e outros são melhores em responder a questionamentos.

 

Muitas vezes o evangelismo é um trabalho em equipe. Você pode orar por alguém que está pregando o evangelho para um colega de trabalho. Você pode oferecer sua casa para a realização de um evento, mas deixar que outro seja o organizador e que outra pessoa seja quem vai iniciar a conversa. Quando lhe perguntarem algo difícil de responder, talvez você não seja capaz de fazê-lo, mas há a possibilidade de apresentar o não cristão a alguém que possa sanar suas dúvidas, ou você mesmo ir até essa pessoa e descobrir como ela responderia à pergunta X ou Y, e então voltar e recomeçar a conversa com seu amigo.

 

Reflita sobre seus próprios dons espirituais e pense em como você pode contribuir com o evangelismo ao lado de outros membros de sua igreja. Isso não significa que há uma desculpa para nunca proclamar com ousadia o evangelho simplesmente por não se sentir confortável, ou porque alguém é melhor do que você nisso. O que tudo isso quer dizer, na verdade, é que não é preciso enxergar o evangelismo como uma tarefa exclusivamente individual.

 

Todos os membros de igreja foram chamados para testemunhar sua fé. É parte essencial de uma conduta fiel. Num contexto pós-cristão, essa dinâmica é também necessária para que possamos dar fruto. Não podemos ficar presumindo que os outros farão o evangelismo por nós. Ele é motivo de grande alegria, pois temos de ser testemunhas fiéis, antes e acima de tudo, para a glória de Deus.

 

Independentemente do resultado de nossos esforços, Deus se agrada em nossa fidelidade e é glorificado quando a verdade acerca de seu Filho é proclamada ao mundo. Este é, então, nosso chamado: viver uma vida correta e fiel mesmo em meio ao sofrimento (1Pe 3.17); responder perguntas da maneira correta e com o tom correto; e sempre estar na "posição de preparado" para compartilhar a nossa esperança. Alguns podem, como resultado, crer no evangelho, enquanto outros não o farão. Alguns podem se opor a você. Sua missão, entretanto, é ser fiel: deixe os resultados para Deus.

 

3 Passos de ação:

 

1. Nunca deixe de orar. Dentre todas as coisas que você pode fazer para as pessoas de seus círculos sociais, esta é uma das mais fáceis e mais benéficas: ore por elas. Identifique as pessoas que fazem parte da sua rede de relacionamentos e comece a orar diariamente por elas. Ore em silêncio quando as vir. É incrível o que pode acontecer se simplesmente começarmos a pedir a Deus que traga essas pessoas à fé em Cristo.

 

2. Exercite sua fé com sabedoria. Como você pode "viver sabiamente entre os de fora?". Seja um bom funcionário, viva com integridade, e esteja atento às oportunidades que surgem enquanto caminha pelo bairro, enquanto está no mercado, enquanto está no parque. Considere dar um livro a alguém ou convidá-lo para jantar ou ir a um culto. Considere surpreendê-lo com um ato de serviço. Reflita sobre seu contexto. O que pode provocar questionamentos nos de fora? Pense em começar um clube do livro, organizar uma noite de jogos, ou se envolver nas atividades da cidade.

 

3. Transmita o evangelho com graça e beleza. Compartilhe o evangelho de uma maneira natural, gentil e atraente. Considere cada pessoa individualmente. Pense em perguntas provocativas que possam ser feitas, ou responda às suas questões com humildade e atenção. Se discordarem de você, eles ainda conseguirão desfrutar de sua companhia? Considere com prudência como Jesus, o amigo dos pecadores, abordaria os de fora com o evangelho, e ore para que você tenha a mesma atitude com os que estão distantes de Deus.


Assista o Sermão completo no Youtube:




 
 
 

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