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Foto do escritorChristian Lo Iacono

OS DONS DO ESPÍRITO | Série: O Espírito Santo na Igreja -Parte VII

Atualizado: 1 de mai.

1 Irmãos, não quero que vocês estejam desinformados a respeito dos dons espirituais.2 Vocês sabem que, quando eram gentios, se deixavam conduzir aos ídolos mudos, conforme vocês eram guiados.3 Por isso, quero que entendam que ninguém que fala pelo Espírito de Deus afirma: "Anátema, Jesus!" Por outro lado, ninguém pode dizer: "Senhor Jesus!", senão pelo Espírito Santo.

4 Ora, os dons são diversos, mas o Espírito é o mesmo.5 E também há diversidade nos serviços, mas o Senhor é o mesmo.6 E há diversidade nas realizações, mas o mesmo Deus é quem opera tudo em todos.7 A manifestação do Espírito é concedida a cada um visando um fim proveitoso.8 Porque a um é dada, mediante o Espírito, a palavra da sabedoria; a outro, segundo o mesmo Espírito, a palavra do conhecimento.9 A um é dada, no mesmo Espírito, a fé; a outro, no mesmo Espírito, dons de curar;10 a outro, operações de milagres; a outro, profecia; a outro, discernimento de espíritos. A um é dada a variedade de línguas e a outro, capacidade para interpretá-las.11 Mas um só e o mesmo Espírito realiza todas essas coisas, distribuindo-as a cada um, individualmente, conforme ele quer.

1Coríntios 12.1-11,

28 A uns Deus estabeleceu na igreja, primeiramente, apóstolos; em segundo lugar, profetas; em terceiro lugar, mestres; depois, operadores de milagres; depois, os que têm dons de curar, ou de ajudar, ou de administrar, ou de falar em variedade de línguas.29 Será que são todos apóstolos? Será que são todos profetas? Será que são todos mestres? São todos operadores de milagres?30 Todos têm dons de curar? Todos falam em línguas? Todos têm o dom de interpretar essas línguas?

1Coríntios 12. 28-30

 

Nos sermões anteriores nos concentramos em sua atuação sobre o crente individual. O cristão recebe primeiro o "dom" ou "batismo" do Espírito, no começo da sua nova vida, e depois procura se apropriar, de maneira contínua e crescente, da plenitude do Espírito, resultando na manifestação e amadurecimento do fruto do Espírito em sua vida.

 

Os dons do Espírito também são concedidos individualmente aos crentes, mas sua finalidade é o crescimento sadio da igreja.

 

Quando os escritores do NT falam sobre a igreja, com frequência eles contrastam unidade com diversidade. As duas características são obra do Espírito Santo. A igreja é uma, porque o Espírito habita em todos os crentes. A igreja é multifacetada, porque o Espírito distribui diferentes dons aos crentes. De forma que o dom do Espírito (que Deus nos dá) cria a unidade da igreja, e os dons do Espírito (que o Espírito dá) diversificam o ministério da igreja. A mesma verdade pode ser expressa em relação à graça de Deus. A igreja deve sua unidade à charis (graça), e sua diversidade aos charismata (dons da graça).

 

Encontramos quatro listas de dons no NT. A mais conhecida está em 1 Coríntios 12. Igualmente importante é a de Romanos 12.3-8. Listas mais curtas estão em Efésios 4.7-12 e 1 Pedro 4.10-11. Precisamos tentar descobrir, a partir desta e outras passagens, a natureza dos dons espirituais, quantos são, qual é sua relação com os talentos naturais, se são todos miraculosos, quais dons são dados hoje, qual é seu alcance (a quem eles são concedidos), sua origem (de onde eles vêm) e seu propósito (para que eles são dados).

 

1. A natureza dos dons espirituais

 

O melhor ponto de partida que podemos escolher é 1 Coríntios 12.4-6, onde Paulo declara: “Ora, os dons são diversos, mas o Espírito é o mesmo. 5 E também há diversidade nos serviços, mas o Senhor é o mesmo. 6 E há diversidade nas realizações, mas o mesmo Deus é quem opera tudo em todos.”

 

O objetivo do apóstolo é enfatizar que, mesmo os dons sendo diversos, há um só doador. Ele afirma essa verdade três vezes, cada vez relacionando os dons a uma Pessoa da Trindade ("o Espírito é o mesmo", "o Senhor é o mesmo", "o mesmo Deus"). Ele também usa três palavras diferentes para os dons. Primeiro (v. 4), eles são charismata, dons da graça de Deus. Depois (v. 5), eles são diakoniai, maneiras de servir. Em terceiro lugar (v. 6), eles são energemata, energias, atividades ou poderes, que o mesmo Deus "energiza" ou "inspira" (energon) em todos. E há "diversidade" ou "porções" (diaireseis) em cada grupo.

 

Juntando essas três palavras, talvez possamos definir dons espirituais como "certas capacidades, concedidas pela graça e poder de Deus, que habilitam pessoas para serviços específicos e correspondentes". Um dom espiritual é, portanto, não a capacidade em si, nem um ministério ou função propriamente dito, mas a capacidade que qualifica uma pessoa para um ministério. Em termos simples, ele tanto pode ser considerado o dom e o respectivo trabalho em que é exercido, quanto o trabalho e o respectivo dom com que é exercido.

 

Agora temos condições de fazer algumas perguntas em relação a esses dons, que aumentarão nosso conhecimento da sua natureza.

 

2. Quantos dons existem?

 

O interesse de alguns cristãos parece estar limitado principalmente a três dons, que são "línguas, profecia e curas". Entretanto, é óbvio que há mais dons do que esse trio empolgante. É louvável que a motivação de alguns em limitar os dons a nove seja traçar um paralelo com o fruto do Espírito, que tem nove partes, mas é um erro querer restringir o número dessa maneira. É verdade que na primeira lista, registrada no começo de 1 Coríntios, aparecem nove dons. Também é verdade que a segunda lista, no fim do mesmo capítulo (vv. 28-30), também abrange nove, mas somente cinco desses coincidem com a primeira lista. De forma que, mesmo em 1 Coríntios, são pelo menos 13 dons ao todo.

 

Depois há uma lista de sete dons em Romanos 12 (dos quais cinco não ocorrem em nenhuma lista de 1Coríntios 12) e outra lista, de cinco dons, em Efésios 4 (dos quais dois são novos), além de outros dois dons citados em 1 Pedro 4, um dos quais ("se alguém fala") ainda não recebera menção específica antes. Ao compararmos as listas, nem sempre fica claro quais dons são idênticos, mas é quase certo que, no conjunto, o NT faça referência a vinte ou mais dons diferentes.

 

Além disso, não temos motivos para crer que essas cinco listas somadas formam uma lista completa de todos os dons espirituais. Nenhum dom aparece em todas as cinco listas, e treze dons estão em apenas uma das cinco listas cada um. A menção dos dons parece obedecer somente ao acaso, como que para enfatizar que cada lista é uma seleção limitada de um total muito maior.

 

Também é verdade que sabemos, pela história e pela experiência, de dons que o Espírito Santo concedeu a algumas pessoas que não constam de nenhuma lista bíblica. Será que a capacidade de Charles Wesley de escrever hinos não era tanto um carisma quanto o dom de evangelista de seu irmão, John Wesley? E o que dizer de cantores evangélicos, poetas cristãos, e homens e mulheres com dons espirituais destacados na literatura cristã, na composição musical, no rádio e nas mídias sociais?

 

Somente uma das cinco listas inclui "evangelistas" (Ef 4.11). Será que esse dom é abrangente, concedido a todos que labutam em algum tipo de evangelização? Ou será que nosso conhecimento da variedade de dons evangelísticos de Deus não sugere que pode haver o dom da evangelização de massas, o da evangelização nos lares, o da evangelização por amizade, o da evangelização pelo ensino, o da evangelização pela literatura, o da evangelização de crianças, e muitos outros?

 

Penso que com os dons espirituais ocorre o mesmo que acontece com as experiências mais profundas: nosso Deus é um Deus de uma diversidade rica e colorida. Nossa tendência humana é de tentar limitá-lo às fronteiras arbitrárias que inventamos, para

"captá-lo" e criar estereótipos inflexíveis de experiência e ministério. Todavia, o Deus da criação fez uma variedade praticamente infindável de criaturas fascinantes, e mesmo entre os seres humanos há um quadro complexo de características e temperamentos. A Escritura deixa claro que o Deus da redenção é o mesmo.

 

Em um caso sua sabedoria salvadora é chamada de "multiforme" (Ef 3.10 – polupoikilos). A mesma palavra – sem o prefixo – é usada para sua graça na distribuição dos dons espirituais. Somos incentivados a exercer os dons que recebemos, "como encarregados de administrar bem a multiforme graça de Deus" (1Pe 4.10; poikilos é "multiforme" ou "mesclada"; a NTLH traz: "Sejam bons administradores dos diferentes dons que receberam de Deus"). A palavra era usada para se referir a mármore, tecidos bordados e tapetes orientais. A graça de Deus é como uma tapeçaria detalhada, e a rica diversidade dos dons espirituais é como os diversos fios de muitas cores que são entrelaçados para formar a beleza do conjunto.

 

Quantos dons diferentes existem? O NT especifica pelo menos vinte, e o Deus vivo que ama a diversidade e é um doador generoso pode muito bem conceder muito mais do que isso. Paulo afirma essa verdade, repetindo com ênfase, ao falar do assunto, que, em contraste com o único Espírito, há "dons diversos" (1Co 12.4), "diversidade nos serviços" (v. 5) e "diversidade nas realizações" (v. 6).

 

3. A relação entre dons espirituais e talentos naturais

 

Que relação há entre dons espirituais e talentos naturais? Algumas pessoas responderão imediatamente: "Nenhuma". Outras têm falado e escrito como se não houvesse diferença digna de nota. Parece-me que essas duas posições são extremadas. Deve haver alguma diferença, na verdade uma diferença clara, porque o Deus da criação, por um lado, em sua providência dá talentos a todos os homens e mulheres (tanto que falamos que algumas pessoas têm um "dom" artístico ou um "dom" para música, ou têm uma personalidade muito "dotada"). Por outro lado, o Deus da nova criação, a igreja, confere "dons espirituais" somente às pessoas redimidas. São os dons espirituais que diferenciam os membros do corpo de Cristo, pois cada membro do corpo tem um dom ou função. Mesmo assim, devemos ter cautela em deduzir disso que não há nenhum vínculo entre dons e talentos, pelas seguintes razões:

 

A primeira é que o mesmo Deus é o Deus da criação e da nova criação, e ele opera sua vontade perfeita através das duas. Essa vontade divina é eterna. Deus disse a Jeremias, por ocasião do seu chamado ao ofício profético: ""Antes de formá-lo no ventre materno, eu já o conhecia; e, antes de você nascer, eu o consagrei e constituí profeta às nações."" (Jr 1.5). Paulo tinha a mesma convicção a respeito de si e de seu chamado para ser apóstolo. O Deus que lhe revelou seu Filho foi o mesmo que "me separou antes de eu nascer e me chamou pela sua graça" (Gl 1.15). Observe que os dois versículos contêm mais que uma referência ao tempo, isto é, antes do nascimento de Jeremias e Paulo, Deus já sabia o que lhes aconteceria. Antes de eles nascerem, Deus já os tinha consagrado ou separado para o ministério especial para o qual ele haveria de chamá-los depois.

 

É certo, então, que não podemos dizer que não havia uma ligação entre as duas partes da sua vida. Será que não combina melhor com o Deus da Bíblia concluir que ele os capacitou antes de chamá-los (um condicionamento genético, diríamos modernamente), o que se manifestou e pôde ser usado somente depois? Deus esteve ativo nas duas partes da sua vida, e combinou ambas de maneira perfeita. De modo semelhante todos os escritores bíblicos foram antes preparados pela providência de Deus em termos de temperamento, educação e experiência, para depois serem inspirados pelo Espírito Santo para comunicar uma mensagem totalmente adequada ao tipo de pessoa que eram.

 

Se alguém objetar que o que valeu para profetas e apóstolos não vale necessariamente para os cristãos comuns de hoje, eu responderia que a Bíblia sugere o oposto. O plano gracioso de Deus para cada um de nós é eterno. Ele foi imaginado e até "dado em Cristo Jesus, antes dos tempos eternos" (2Tm 1.9); Deus nos escolheu para que fossemos santos e nos destinou para que fôssemos seus filhos através de Jesus Cristo "antes da fundação do mundo" (Ef 1.45); e as boas obras para as quais fomos recriados em Cristo são exatamente aquelas que "Deus de antemão preparou" (Ef 2.10). Essa verdade fundamental, de que Deus planejou o fim desde o começo, deve nos advertir contra concluir com muita rapidez em favor de uma descontinuidade entre natureza e graça, entre nossa vida antes e depois da conversão.

 

Há uma outra razão para crermos em um vínculo entre dons naturais e espirituais. Diversos “dons” (charismata), além de não serem milagrosos, são claramente “ordinários”. São dons espirituais de natureza material. Talvez os exemplos mais claros sejam os três últimos da lista de Paulo em Romanos 12: “...o que contribui, com generosidade; o que preside, com zelo; quem exerce misericórdia, com alegria(12.8).

 

Não pode haver dúvida de que esses três fazem parte da lista de charismata. A própria palavra consta do início do v. 6 de Romanos 12. A lista toda faz parte da metáfora "um corpo — muitos membros" (v. 4-5), como em 1 Coríntios 12. Todos os sete dons da lista de Romanos 12 são apresentados de uma maneira quase idêntica. Então, do que falam esses três dons? O intermediário dos três é ambíguo no grego, podendo significar tanto "aquele que ajuda" como "que tem autoridade" (NTLH), ou "quem lidera"; nesse sentido é usado para os líderes da igreja e presbíteros em 1 Tessalonicences 5.12 e 1 Timóteo 5.17. Quanto aos outros dois dons não há dúvidas. Um ("o que contribui") se refere a dar dinheiro, e é usado especificamente em Efésios 4.28 para expressar a doação "ao necessitado"; o outro é "quem exerce misericórdia".

 

Acontece que descrentes podem, igualmente, dar dinheiro a pessoas necessitadas e exercer misericórdia, e na verdade o fazem. Então, em que sentido as duas atitudes podem ser consideradas "dons espirituais" concedidos por Deus exclusivamente aos seus filhos? É, no mínimo, improvável que o primeiro desses dons seja uma chuva de dinheiro repentina, depois da conversão. Pelo contrário, creio que devemos concordar que os recursos (o dinheiro para ser doado, a força para servir) já estavam nessas pessoas antes de sua conversão.

 

O que é novo, e que transforma sua capacidade natural em um dom espiritual, deve estar na área do seu objetivo (as causas a que eles servem e para que dão) e da sua motivação (os incentivos que os orientam). Pelo menos é nisso que Paulo põe a ênfase. Ele diz que não deve haver uma atitude indisposta e relutante. Quem dá dinheiro deve exercer seu dom "com liberalidade" ("generosidade", NAA/NTLH), e quem exerce misericórdia, "com alegria".

 

Um vínculo semelhante entre talentos naturais existentes antes da conversão e dons espirituais presentes após a conversão pode existir também em dois dos charismata anteriores, que Paulo menciona em Romanos 12, que são "o que ensina" (v. 7) e "o que exorta" (v. 8). É óbvio o que significa "ensinar". O verbo "exortar" (parakaleõ), por sua vez, tem diversos significados, que vão desde "pedir" e "suplicar" até "incentivar", "confortar" e "consolar". Os dois verbos – ensinar e exortar – podem estar se referindo a diferentes aspectos do ministério público da palavra, de um lado a instrução e de outro a exortação.

 

A "exortação" (paraklesis) pode, certamente, ser dada em discurso formal (At 13.15), ou por escrito (Hb 13.22). Mesmo assim, paraklesis é um conceito mais amplo que inclui o tipo de incentivo e conforto que a amizade, interesse e amor pessoal podem dar. Acontece que tanto a instrução como incentivo podem ser dados por pessoas não-cristãs. Encontramos muitas pessoas que são, como dizemos, "professores natos", e outras cujo grande dom é sua compreensão, disponibilidade, sensibilidade, através do que elas reanimam as pessoas e as incentivam em seu caminho. Então, qual pode ser a diferença entre professores e conselheiros não cristãos, e cristãos com esses dons espirituais?

 

Em vista do que foi dito sobre o Deus da natureza e da graça, a priori parece mais improvável que Deus dê o dom espiritual do ensino a um crente que, antes de se converter, não conseguia se comunicar, ou o dom espiritual do aconselhamento a um irmão ou irmã que é antipático ou rude por temperamento. Claro que isso não seria impossível para Deus. Mas parece que estaria em maior harmonia com o Deus da Bíblia, cujos planos são eternos, supor que dons espirituais andem lado a lado com talentos naturais. Parece que, por exemplo, um "filho da consolação" como Barnabé (At 4.36), que exerceu seu ministério pessoal dando generosamente (37) e sendo amigo pessoal (p. ex., At 9.26-27,11.25-26), já era esse tipo de pessoa, pelo menos em potencial, quando Deus o fez, ou não?

 

Nesse caso devemos procurar as peculiaridades dos dons espirituais de ensino e aconselhamento na elevação, na intensificação, na "cristianização" de um talento natural latente, ou já presente. Por essa razão, uma pessoa pode ser um professor dotado antes de sua conversão, e depois receber o charisma do ensino que o capacita a expor com entendimento, clareza e relevância. Ou alguém pode ter por natureza uma maior facilidade de se relacionar amigavelmente com pessoas, mas depois da conversão receber o dom espiritual da "exortação", que o capacita a exercer um ministério cristão específico de "exortação em Cristo" (Fp 2.1), que inclui a instrução cristã (p. ex., 1Ts 4.18; Tt 1.9) e o calor e a força da fé cristã (Rm 1.12). Em todas essas últimas referências ocorrem as palavras parakaleo ou paraklesis.

 

Portanto, a evidência bíblica nos adverte a não traçarmos uma linha demarcatória muito firme entre dons naturais e espirituais. John Owen, em seu grande livro do século XVII, Pneumatologia, distinguiu entre dois tipos de dons espirituais – "os que excedem todos os poderes e capacidades da mente humana" e "os que consistem de reforços extraordinários das capacidades da mente humana".


Assista o Sermão completo no Youtube:



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