Ao lermos as parábolas de Jesus é muito importante que tenhamos em mente alguns conceitos de interpretação bíblica, a fim de que possamos chegar o mais perto possível daquilo que Jesus quis transmitir através delas. Olhando para a parábola conhecida mais frequentemente como “Parábola do Filho Pródigo”, percebemos que até mesmo a maneira como a denominamos sofre influência de como a interpretamos.
Os autores do texto “A Parábola do Pai amoroso”1 defendem a importância do uso de um método adequado para a leitura e interpretação das parábolas de Jesus, como a “análise da narrativa”. A partir do uso desse método é possível extrair dessa parábola de Lucas o que Jesus pretendeu comunicar aos seus ouvintes. Um olhar para a parábola em si, seu enredo, cenário e personagens influencia de início a própria mudança do nome para “A parábola do Pai amoroso e dos filhos perdidos”. Com isso, já pode ser evitado o erro de dar um enfoque equivocado, como muito se observa frequentemente com relação ao isolamento do texto no primeiro filho. Grande parte das pregações e lições tiradas desta perícope enfocam o filho que saiu de casa, as dificuldades enfrentadas na vida por se estar afastado da casa do pai, enfatizando a importância do arrependimento numa vida de erro. No entanto, com o olhar mais atento para o fato de que Jesus se comunicava com a multidão com quem andava, e lendo o texto sem isolá-lo de todo o contexto do livro de Lucas, percebemos que a ênfase vai muito além disso.
Andando no meio de fariseus, escribas, publicanos e pecadores, Jesus defende a pregação do Evangelho, e um Pai amoroso que ama todos os seus filhos, e os quer participantes da festa que ele oferece! Há também quem enfatize essa parábola como pregação aos pobres, como se Lucas tivesse grande interesse nas causas sociais. No entanto, observando a maneira como o Pai também se dirige com amor ao filho mais velho, percebemos que a ênfase verdadeira deste texto está no amor do Pai! Deus ama a todos sem distinção, e a universalidade da salvação é o que é salientado aqui. “O Filho do Homem veio buscar e salvar o perdido” (19.10), e até mesmo aquele que parece estar próximo pode encontrar-se nesta situação, parecendo estar perto, está longe.
Quando Jesus conta uma parábola, ele não está buscando trazer informação, mas apresentar uma metáfora que trará questionamento para uma reflexão e mudança de atitude, esse é o seu verdadeiro impacto. Dessa forma, compreendemos como é importante uma boa interpretação, a fim de que a proclamação se dê de forma clara, correta e evangélica.
1. Júlio Jandt e Vilson Scholz, A Parábola do Pai Amoroso e dos Filhos Perdidos (Lc 15.11-32) sob a Perspectiva da Análise da Narrativa
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