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Foto do escritorChristian Lo Iacono

Preservando o Evangelho - Série Gálatas (Parte VII)


GÁLATAS: 3.10-14


Esse trecho da Palavra de Deus lida com o tema de nossa justificação diante de Deus (v. 11). Ora, o ser humano, ainda que pecador, de alguma forma instintiva, mesmo que de maneira inconsciente, tenta obter o favor de Deus quanto ao que ele é ou faz. Afinal, quem não quer ser bem aceito pelos outros? Quem não busca obter o favor dos demais, desejando ser querido por todos? Assim, o ser humano busca, de alguma forma, também ser bem aceito por Deus.


Além disso, Paulo destaca nesse texto a importância de se ter uma vida com Deus (v. 12), de se ter comunhão com Ele. E essas duas verdades, a da justificação diante de Deus e a da vida com Deus, não podem ser separadas: não é possível ter comunhão com Deus sem estar sob o seu favor; e quando estamos sob o seu favor, temos comunhão com Deus. Como tudo isso é possível?


Paulo faz duas citações do AT: “O justo viverá pela fé” (v. 11; Hc 2.4) e “aquele que observar os seus preceitos por eles viverá” (v. 12; Lv 18.5). Ambas prometem vida, embora apresentem caminhos diferentes: a primeira promete vida ao crente; a segunda, ao praticante. Ou seja, a primeira citação faz da fé o caminho para a salvação; a segunda apresenta as obras como caminho. A primeira diz que só Deus pode justificar; a segunda dá a entender que temos que nos arranjar sozinhos. Existe alguma contradição aqui?


Retornando ao versículo 10, vemos outra citação do AT: “Maldito aquele que não confirmar as palavras desta lei, não as cumprido” (Dt 27.26). Ou seja, Paulo está se esforçando para mostrar que ele nada mais ensinava “a não ser o que os profetas e Moisés disseram que ia acontecer” (At 26.22; diante de Agripa). Nesse texto de Deuteronômio, há o pronunciamento de uma maldição sobre os que fracassam em guardar toda a lei.


A palavra “maldito” nesse caso é dura. Afinal, Deus não é aquele que abençoa? Há até quem sugira aqui que não é Deus quem amaldiçoa, mas a lei (“maldição da lei”, v. 13). Ocorre que a lei vem de Deus e, como tal, é uma expressão de sua natureza moral e vontade. O que a lei diz, Deus diz. O que Deus quer dizer aqui é que ninguém pode pecar impunemente, pois Ele é o justo juiz da humanidade. Nesse sentido, o significado de “maldição” é “rejeição”, que produz condenação e morte.


Tal é a posição de cada ser humano que já viveu, exceto Jesus Cristo. Paulo presume aqui a universalidade do pecado, como fez também em Romanos: “todos pecaram”. Essa maldição inclui pessoas direitas e respeitáveis, que pensam estar excluídas dessa posição. Os judeus achavam que as pessoas que não tinham a lei é que estavam sob essa maldição. Aqui Paulo choca os judaizantes ao sugerir que que a maldição não está somente sobre os gentios e ignorantes, mas também sobre os próprios judeus: “porque não há distinção, pois todos pecaram e carecem da glória de Deus” (Rm 3.22-23).

Sabemos disso pela própria experiência. João define o pecado como a transgressão da lei (1Jo 3.4). Ora, todos nós transgredimos a lei, pois não temos amado a Deus como todo o nosso ser, nem ao próximo como a nós mesmos. Isso nos coloca a todos sob a maldição da lei, inclusive os descendentes de Abraão, que fazem parte da aliança de Deus. O versículo 10, portanto, condena todo ser humano, menos Cristo. Por esse motivo, nenhum ser humano pode ser justificado diante de Deus pelas obras da lei. Nem mesmo o crente pode fazer isso. Assim, esse primeiro caminho de salvação, que supostamente levaria a Deus, na verdade não tem saída.


A alternativa está nos versículos 13 e 14. Cristo fez na cruz o que nós não poderíamos fazer por nós mesmos. Nossas obras não são capazes de salvação, mas a obra de Cristo, sim. Versículo 13: “a linguagem aqui é assustadora, quase chocante. Nós não teríamos coragem de usá-la. Mas foi exatamente o que Paulo disse” (Bispo Blunt). Ou seja, a maldição foi transferida de nós para Ele. Cristo colocou voluntariamente a maldição sobre si, a fim de nos libertar dela. Foi essa transferência de maldição que explica o horrível grito de abandono e de solidão que Cristo enunciou na cruz.


Paulo acrescenta uma confirmação bíblica do ocorrido na cruz. Ele cita Dt 21.23: “pois o que for pendurado no madeiro é maldito de Deus”. Todo criminoso condenado à morte sob a legislação mosaica, geralmente por apedrejamento, era então colocado sobre uma estaca, ou “pendurado em madeiro”, como símbolo de rejeição divina. A morte no madeiro era o sinal externo em Israel de um homem que fora amaldiçoado” (Dr. Cole). O fato de os romanos executarem por crucificação e não por enforcamento não faz diferença. Ser pregado em uma cruz era o equivalente a ser pendurado em madeiro. Por isso, o Cristo crucificado foi descrito como “pendurado em madeiro” (At 5.30; 1Pe 2.24) e foi reconhecido como morto sob maldição divina. Por esse motivo, os judeus não conseguiam crer que Jesus fosse o Cristo. Quando o Cristo crucificado se tornou pregação, talvez os judeus possam ter gritado “Jesus é maldito!” (“Anátema, Jesus!”, 1Co 12.3).


Esse fato continuou sendo para os judeus um empecilho para a fé, até que eles viram que a maldição que Cristo carregou foi por eles. Cristo não morreu pelos próprios pecados, mas se tornou maldição por nós. O versículo 14 explica que essa salvação de Deus está “em Cristo Jesus”, em quem também fomos chamados a estar. Mas como isso ocorre? Ora, Paulo havia citado Habacuque pra dizer que o justo vive pela fé (v. 11). Agora, no versículo 14, Paulo acrescenta: “a fim de que recebêssemos, pela fé, o Espírito prometido”.


Fé é tomar posse de Jesus Cristo pessoalmente. Não há mérito algum nisso. A fé não é uma obra. Como bem disse Lutero, “a fé... apreendeu nada mais do que a preciosa joia, Cristo Jesus”.


Conclusão:


1. Os dois destinos. Tal como Moisés, Paulo chama os dois destinos do ser humano de “bênção” e “maldição” (Dt 30.19). Cristo se fez “maldição”, para que pudéssemos herdar a “bênção”. A bênção é chamada “de Abraão” (v. 14), em parte porque é a bênção que o patriarca recebeu quando creu, e em parte porque Deus lhe disse: “o abençoarei...em você serão benditas todas as famílias da terra” (Gn 12.2-3). A bênção inclui justificação, vida eterna e a habitação do Espírito.


2. Os dois caminhos. O caminho das obras leva à maldição, mas o caminho da fé leva à bênção. Devemos renunciar ao louco orgulho de pressupor que podemos estabelecer a nossa própria justiça ou que podemos nos tornar aceitáveis a Deus. Ao contrário, podemos vir humildemente à cruz (não como se isso fosse uma obra), onde Cristo assumiu a nossa maldição, e nos lançar inteiramente sobre as misericórdias dele.





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