No último dia de outubro, a igreja cristã protestante ou evangélica comemora um
evento bastante significativo, que teve reflexos – e ainda tem – não somente na estrutura religiosa da época, mas também na política, econômica e cultural de então. Estamos falando da Reforma Protestante, que teve como marco histórico a afixação das 95 teses, por Martinho Lutero, na porta da igreja da cidade de Wittenberg, na Alemanha, em 31 de outubro de 1517.
Mas antes de entrarmos na Reforma Protestante propriamente, é importante destacar que desde o século 12 a sociedade europeia estava sendo assolada por inúmeras guerras, epidemias e outros males que produziram morte, devastação e desordem e, consequentemente, a ruptura da vida social e pessoal. O sentimento dominante era de insegurança, medo e extremo pessimismo. Isso era ilustrado pela “dança da morte”, gravuras que se viam em toda parte com um esqueleto dançante.
Além disso, a partir do século 13 teve início a ascensão dos “estados nacionais” e também das monarquias. Tais movimentos começaram a ver o domínio da Igreja Romana - até então inquestionável - como algo que deveria ser superado. Aliado a isso, temos o declínio moral da cúpula da Igreja de Roma, com inúmeros casos de abusos de toda ordem.
Neste contexto, vários movimentos reformadores começaram a surgir na Europa, como dos valdenses e albigenses, que questionavam a sujeição das pessoas ao modelo de igreja imposta por Roma. Também inúmeros reformadores começaram a surgir, tais como João Wycliff, na Inglaterra, e João Hus, na Boêmia.
Assim, a Europa clamava por mudanças profundas, não somente no âmbito religioso, mas também no político e social. E foi nesse contexto que surgiram os reformadores do século 16, como Martinho Lutero, João Calvino, Ulrico Zuinglio, João Knox, dentre outros. Lutero, então monge católico agostiniano e professor da Universidade de Wittenberg, após uma longa jornada em busca de sua salvação - que envolveu inúmeros episódios dramáticos -, e aterrorizado com o juízo vindouro de Deus, finalmente encontrou paz em sua alma após ser convencido pelas Escrituras de que Deus aceita o pecador arrependido tão somente pelos méritos de Cristo e sua obra substitutiva, ocorrida na cruz do Calvário. Assim, o conceito de justiça de Deus, que antes o aterrorizava, agora lhe dava alento, pois tal conceito estava vinculado à justiça de Cristo, em favor dos pecadores.
Assim, retornando à afixação das 95 teses de Lutero – que é considerado o marco histórico da Reforma -, tal documento na verdade denunciava o abuso da utilização de indulgências pela Igreja Católica Romana para o perdão dos pecados daqueles que as adquiriam. Em outras palavras, quem adquirisse as indulgências, mediante pagamento, teria seus pecados perdoados e ficaria menos tempo no purgatório, assim como seus entes queridos que já haviam morrido. Na verdade, as 95 teses eram um chamado destinado aos acadêmicos da época, para debaterem a doutrina da justificação que, segundo o ensino romano, envolvia a prática de boas obras, a fim de se obter mérito diante de Deus, além da compra de indulgências.
Assim, de início, não foi intenção de Lutero a ruptura com a Igreja Romana, mas ele propunha um chamado à reflexão, à luz das Escrituras Sagradas, sobre como o pecador se torna justo diante de Deus. Claro que, após perceber que seus escritos foram totalmente desprezados, refutados e anatemizados, pela cúpula da Igreja de Roma, não restou outra saída senão a ruptura total e irreconciliável, inclusive com severos prejuízos para si próprio, pois o reformador teve seus direitos de cidadão totalmente cassados, além de ser excomungado pela Igreja Romana.
A partir desse acontecimento, estava iniciada - embora já há muitos séculos gestada - o movimento conhecido como Reforma Protestante do século 16, que acabou dando origem às denominações protestantes históricas, como as de confissão luterana, reformada (calvinista), anglicana, batista e, mais recentemente, as denominações
carismáticas.
No próximo post, iremos falar das principais mudanças ocorridas, na sociedade de então, em função da Reforma Protestante.
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