Escutem, agora, vocês que dizem: “Hoje ou amanhã, iremos para a cidade tal, e lá passaremos um ano, e faremos negócios, e teremos lucros.”
Vocês não sabem o que acontecerá amanhã. O que é a vida de vocês? Vocês não passam de neblina que aparece por um instante e logo se dissipa.
Em vez disso, deveriam dizer: “Se Deus quiser, não só viveremos, como também faremos isto ou aquilo.”
Agora, entretanto, vocês se orgulham das suas arrogantes pretensões. Todo orgulho semelhante a esse é mau.
Portanto, aquele que sabe que deve fazer o bem e não o faz, nisso está pecando.
Introdução
Uma palavra dirigida principalmente a pessoas que lidam com negócios, empreendedores, caracterizados por uma autoconfiança, porque eles decidem onde e quando irão investir, quanto tempo vão permanecer ali, e porque assumem que certamente terão lucros. Quadro familiar para os leitores da Carta, já que o primeiro século teve grande atividade comercial, especialmente nas cidades helênicas da Palestina, como Decápolis. Tiago não critica o desejo pelo lucro, mas avalia a cosmovisão de quem lida com esse tema, e como fazemos nossos planos.
O planejamento é um valor cristão. Ele vale em todo lugar: nos governos, na família, nas igrejas, no mercado, ne educação etc. “Quem é, pois, o mordomo fiel e prudente, a quem o senhor deixará encarregado dos demais servos da casa, para lhes dar o sustento no devido tempo? Bem-aventurado aquele servo a quem seu senhor, quando vier, achar fazendo assim” (Lc 12.42-43). Qual o problema, então?
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Essa pessoa é resoluta, e sua decisão está carregando a outros. Além disso, suas previsões parecem ser de resultados imediatos, após empreendimentos imediatos, de acordo como o mercado está a indicar, e tudo isso abrange tempo e lugar.
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Qual é o seu equívoco? Ignorar a natureza precária e transitória do mundo. Planejar com essa confiança toda pode ser tolice. Assim como o sol da manhã ou o vento dissipam com rapidez a neblina, assim é a nossa vida na terra. “Não se gabe do dia de amanhã, porque você não sabe o que ele trará à luz” (Pv 27.1). “Lembra-te, ó Deus, de que a minha vida é um sopro... Assim como a nuvem se desfaz e passa, aquele que desce à sepultura jamais voltará a subir... Deixa-me em paz, porque meus dias são um sopro” (Jó 7.7, 9, 16). “Tenham cuidado e não se deixem dominar por qualquer tipo de avareza, porque a vida de uma pessoa não consiste na abundância dos bens que ela tem” (Lc 12.15).
Parece, pelo texto, que o empreendimento foi interrompido. Ora, o que nós sabemos sobre o dia de amanhã? Brevidade e incerteza são características destacadas no texto. “Tu reduzes o ser humano ao pó e dizes: ‘Voltem ao pó, filhos dos homens’. Pois mil anos, aos teus olhos, são como o dia de ontem que se foi e como a vigília da noite” (Sl 90.3-4). “Toda a humanidade é erva, e toda a sua glória é como a flor do campo. A erva seca e as flores caem, soprando nelas o hálito do SENHOR. Na verdade, o povo é erva. A erva seca e as flores caem, mas a palavra do nosso Deus permanece para sempre” (Is 40.6-8).
Deus até podia ter poupado o ser humano do conhecimento de que a morte vai chegando aos poucos. Mas parece que Ele optou por nos dar sabedoria ao lidarmos com ela. “Os dias da nossa vida sobem a setenta anos ou, havendo vigor, a oitenta; neste caso, o melhor deles é canseira e enfado, porque tudo passa rapidamente, e nós voamos... Ensina-nos a contar os nossos dias, para que alcancemos coração sábio” (Sl 90.10, 12). Calvino escreveu que “o mais habilidoso cientista é incapaz de contar 80 anos da sua vida. Os seres humanos medem todas as distâncias fora deles mesmos, mas não conseguem medir seus próprios anos”.
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O nosso mundo não é um sistema fechado, tocado apenas por leis naturais. Cremos que o mundo é dependente de uma influência externa. Deus é “autor e conservador de toda vida” (Nm 27.16; fala de Moisés). Cristo sustenta “todas as coisas pela sua palavra poderosa” (Hb 1.3). É preciso ter cuidado com a “teologia natural”, que enxerga o mundo sendo conduzido apenas por leis naturais, numa sucessão de causas e efeitos (deísmo). Assim, a vontade de Deus importa, porque tudo foi criado para a sua glória (Is 42.8; 43.7). “Pois nele foram criadas todas as coisas, nos céus e sobre a terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam soberanias, quer principados, quer potestades. Tudo foi criado por meio dele e para ele. Ele é antes de todas as coisas. Nele tudo subsiste” (Cl 1.16-17). Ora, a palavra “glória” aparece 159 vezes no NT. Essa fé na Palavra de Deus, portanto, vai formando em nós uma cosmovisão cristã, transformando as nossas mentes: “Portanto, meus irmãos, por causa da grande misericórdia divina, peço que vocês se ofereçam completamente a Deus como um sacrifício vivo, dedicado ao seu serviço e agradável a ele. Esta é a verdadeira adoração que vocês devem oferecer a Deus. Não vivam como vivem as pessoas deste mundo, mas deixem que Deus os transforme por meio de uma completa mudança da mente de vocês. Assim vocês conhecerão a vontade de Deus, isto é, aquilo que é bom, perfeito e agradável” (Rm 12.1-2, NTLH).
Exemplos de opção e oração pela vontade de Deus:
- “Se Deus quiser, irei visitá-los outra vez” (At 18.21, Éfeso);
- “em todas as minhas orações, pedindo que, em algum momento, pela vontade de Deus, surja uma oportunidade de visitá-los” (Rm 1.10);
- “Mas, em breve, se o Senhor quiser, irei visitá-los, e então conhecerei não a palavra, mas o poder desses orgulhosos” (1Co 4.19);
- “Porque não quero, agora, ver vocês apenas de passagem, pois espero permanecer algum tempo com vocês, se o Senhor o permitir” (1Co 16.7);
“Isso faremos, se Deus o permitir” (Hb 6.3; retomar os princípios elementares da doutrina de Cristo).
Não somos donos da nossa própria história! A vida tem um sentido mais profundo e complexo do que nossas perspectivas terrenas podem conceber; afinal, toda vida está nas mãos de Deus. “Antes da fundação do mundo, Deus nos escolheu, nele [em Cristo], para sermos santos e irrepreensíveis diante dele. Em amor nos predestinou para ele, para sermos adotados como seus filhos por meio de Jesus, segundo o propósito de sua vontade, para louvor da glória de sua graça, que ele nos concedeu gratuitamente no Amado” (Ef 1.4-6). Essa compreensão, obviamente, não nos deve levar à passividade e à omissão.
Não podemos usar o “se o Senhor quiser” como um chavão. A oração do Pai Nosso nos ensina a pedir que a vontade de Deus realmente seja feita. A oração de Jesus no Getsêmani vai na mesma direção, reforçando o fato de que há uma certa luta a ser travada entre a vontade de Deus e a nossa.
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Muitas pessoas não só não consideram a Deus em suas decisões, mas ainda se orgulham de si mesmas, o que é o seu verdadeiro pecado, pois tomam o lugar de Deus, o que torna o ato maligno: “os olhos de vocês se abrirão e, como Deus, vocês serão conhecedores do bem e do mal” (Gn 3.5). O ser humano que, na prática, acha que tem o controle de tudo se coloca no lugar de Deus (embora em seu discurso ele negue isso). A Torre de Babel pretendia enaltecer o ser humano (Gn 11.4). Mas Deus prometeu depois que Ele iria “engrandecer o nome” de Abraão (Gn 12.2). “Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes” (Tg 4.6).
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“Não deixe de fazer o bem aos que dele precisam, estando em sua mão o poder de fazê-lo. Não diga ao seu próximo: “vá e volte mais tarde; amanhã eu terei algo para dar’, se você tem isso em suas mãos agora” (Pv 3.27-28). Omissão é pecado, inclusive nas “pequenas” coisas do dia a dia. “Aquele servo que conheceu a vontade de seu senhor e não se aprontou, nem fez segundo a sua vontade, será punido com muitos açoites” (Lc 12.47). “Afastem-se de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos. Porque tive fome, e vocês não me deram de comer; tive sede, e vocês não me deram de beber; sendo forasteiro, vocês não me hospedaram; estando nu, vocês não me vestiram; achando enfermo e preso, vocês não foram me ver... Sempre que o deixaram de fazer a um destes mais pequeninos, foi a mim que o deixaram de fazer” (Mt 25.41-43, 45).
O serviço ao próximo em amor é um remédio para o nosso egoísmo. Não deve ser encarado como uma obrigação. “Um anjo do Senhor disse a Filipe: Levante-se e vá para o Sul, no caminho que desce de Jerusalém a Gaza; este se acha deserto. Filipe se levantou e foi” (At 8.26-27). Aproveitemos as oportunidades!
Comece consultando e fazendo a vontade de Deus pela leitura das Escrituras. Não perca tempo em outros caminhos! As Escrituras nos oferecem a imagem mais perfeita de Cristo e sua obra. Nelas, o Cristo se revelou como Deus e ser humano perfeito, o modelo de verdadeiro ser humano para todos nós. As Escrituras também nos revelam o Cristo que salva, pela graça e mediante a fé. Elas nos fazem ver nossos pecados e, em seguida, elas nos consolam mediante a obra de Cristo, nos dando a paz e nos motivando para boas obras em favor do nosso próximo. Mas tenha a disposição de ouvir as Escrituras e de se submeter a elas! Não se projete sobre elas!
Aproveite também e ore a Deus por tudo aquilo que você lê, ouve ou precisa decidir. Ou seja, ore a respeito de todas as coisas (Fp 4.6-7). Aquiete o seu coração ansioso. Não ande à procura de grandes coisas (Sl 131). Peça a Deus que a vontade dele seja feita, e submeta-se a essa vontade. Procure pelo dono das bênçãos antes das bênçãos em si. Seja fiel a Deus e àquilo que Ele entregou a você para que fosse feito. A caminhada com Deus é de provisão diária, e não por acumulação. “O pão nosso de cada dia nos dá hoje” (Mt 6.11). Deus não nos mostra tudo por antecipação também. Cada fase de nossas vidas tem seu momento e propósito. Isso nos leva a depender de Deus. Lutero escreveu que Deus lhe conduziu como “um matungo ofuscado” quando olhou para o seu passado.
Oração:
“Sê generoso com o teu servo, para que eu viva e observe a tua palavra. Desvenda os meus olhos, para que eu contemple as maravilhas da tua lei. Sou peregrino na terra; não escondas de mim os teus mandamentos” (Sl 119.17-19).
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