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Foto do escritorChristian Lo Iacono

Sabedoria e Maturidade Espirituais - Série Coríntios (Parte V)

Eu, porém, irmãos, não pude falar a vocês como a pessoas espirituais, e sim como a pessoas carnais, como a crianças em Cristo. Eu lhes dei leite para beber; não pude alimentá-los com comida sólida, porque vocês ainda não podiam suportar. Nem ainda agora podem, porque vocês ainda são carnais. Porque, se há ciúmes e brigas entre vocês, será que isso não mostra que são carnais e andam segundo os padrões humanos? Quando alguém diz: “Eu sou de Paulo”, e outro diz: “Eu sou de Apolo”, não é evidente que vocês andam segundo padrões humanos? 1 Coríntios 3:1-4


Paulo já tinha argumentado contra as brigas e divisões em Corinto (1.10-13). E sua exposição sobre a “sabedoria” e a cruz (1.17-2.16) não foi uma divagação, como se pode imaginar, mas, na verdade, é a base para se discutir o tema adequadamente. É claro que a igreja está em jogo aqui. Mas, com maior razão, o próprio evangelho também está implicado. A sabedoria que os coríntios estão buscando remove do evangelho a sua finalidade e o seu poder; ao mesmo tempo, essa busca por sabedoria tem levado a divisões em Corinto. Por isso, Paulo aqui faz a transição do argumento inicial, sobre a natureza do evangelho e da verdadeira sabedoria, para o argumento seguinte, sobre a divisão da igreja em nome de certos líderes. A transição é assinalada pelas frases: “porque vocês ainda não podiam suportar. Nem ainda agora podem” (v. 2).


Duas preocupações estão conduzindo Paulo nesse parágrafo. Como é possível ter o Espírito e estar dividido? Os coríntios pensam, porém, que são “pessoas do Espírito”, quando, na verdade, eles são “divididos”. Assim, partindo do contexto do capítulo 2, Paulo retoma o tema sobre o que significa “ser espiritual” para dizer que os coríntios não são “pessoas espirituais”; ao contrário, são “carnais”, ainda pensando como simples seres humanos, como quem não tem o Espírito. Por causa disso, Paulo se expôs a muitos mal-entendidos. Mas sua preocupação é específica: não é sugerir categorias de cristãos ou níveis de espiritualidade, mas levar os crentes a parar de pensar como fazem as pessoas da era presente, que são controladas por preocupações externas ao reino de Deus. Por fim, Paulo quer que os coríntios também deixem de se comportar como as pessoas da era presente.


v. 1-2

“Nós que recebemos o Espírito temos, de fato, a mente de Cristo e compreendemos a sabedoria da loucura de Deus. E eu, de minha parte, irmãos e irmãs, não pude falar a vocês como pessoas do Espírito”. Paulo está se dirigindo à igreja toda (“irmãos”), mesmo que nem todos sejam culpados, mas a contaminação pode ter sido abrangente. Os tempos verbais que Paulo adota no v. 2 (aoristo e presente) indicam que ele ainda está refletindo sobre o tempo que passara com os coríntios, e ele dá a sua resposta ao desencanto deles por Paulo, como lhe fora relatado.


Os coríntios estavam vivendo como pessoas sem o Espírito, mas se achavam espirituais, quem sabe até duvidando da espiritualidade de Paulo. “Carnais” pode ter sido uma palavra usada com ironia para “crentes” que haviam desprezado a existência física atual a ponto de negarem uma futura ressurreição corpórea (15.12). “Carnais” (sarkinoi) enfatiza os lados humano e físico da existência deles em contraste com o lado espiritual. Os coríntios eram carnais não somente quando Paulo esteve com eles pela primeira vez; agora o comportamento deles continuava “carnal” (v. 3). Paulo não os estava chamando de “naturais” (2.14).


Será que Paulo fora acusado de ter dados somente leite, e não sabedoria, aos coríntios? (v. 2) Ora, Paulo se dirige aos coríntios como “crianças [nepios; bebê] em Cristo” (v. 1). O uso de nepios é mais negativo e se refere quase sempre ao pensamento ou comportamento que não é apropriado para uma pessoa crescida (teknon é mais positivo; 1Ts 2.7, 11; 1Co 4.14-16; 2Co 6.13; Gl 4.19; Fp 2.22; Fm 10). A questão não é tanto os coríntios não terem feito progresso (essa é uma parte do problema), mas o fato de serem adultos agindo como se não fossem quando se trata da vida do Espírito: são “bebês”. Ao considerarem o ensino de Paulo “leite para criancinhas”, os coríntios mostram que eles mesmos são simples bebês, porque abandonaram o evangelho por algo que pode parecer “sólido”, mas que não tem nenhum valor nutritivo (1P 2.1-10).


Ora, o argumento de Paulo é de que o evangelho do Crucificado é tanto leite quanto alimento sólido (2.6-16). Como leite, ele é a boa-nova da salvação; como alimento sólido, ele é a compreensão de que a totalidade da vida cristã se baseia na mesma realidade – e aqueles que têm o Espírito devem compreender o “mistério” dessa maneira; eles precisam viver de modo “cruciforme”, como pessoas cuja vida e valores são moldados pela crucificação. Assim, os coríntios não precisam de uma mudança de dieta, mas de uma mudança de perspectiva. “Embora empregue a linguagem deles, o contraste fundamental na mente de Paulo não é entre duas dietas bem diferentes que ele tem a oferecer, mas entre a verdadeira comida do evangelho, com que ele os alimentou (seja leite, seja carne), e os substitutos sintéticos que os coríntios têm preferido” (Morna Hooker).


Paulo continua querendo levar os coríntios a deixarem sua presente fascinação com a sophia e a voltarem para o evangelho puro do Crucificado. “Não pude explicar a cruz como sabedoria divina em mistério porque vocês não podiam compreendê-lo dessa maneira, dado o ‘progresso’ de vocês na direção errada”. O problema não está na mensagem, mas naqueles que se colocaram em uma posição que os impedia de ouvir e compreender o que Cristo, por intermédio de Paulo, lhes diz.


v. 3

“Nem ainda agora podem, porque vocês ainda são carnais” (v. 2). Paulo confronta os coríntios com os ciúmes e as brigas existentes entre eles como prova disso (1.11). Às brigas ele adiciona “ciúmes” (v. 3), indicativo de “rivalidades”, como demonstrado nas discussões deles sobre seus líderes. São atitudes de quem vive na carne, e não no Espírito. O comportamento dos coríntios desmente o que quer que estejam dizendo a respeito de si mesmos. Estão “vivendo como o diabo”.


Aqueles que não têm o Espírito são simples seres humanos; por isso, a cruz é loucura pera eles. Ao mesmo tempo, seu comportamento é egocêntrico. Os coríntios têm o Espírito, mas agem como se não o tivessem. Para Paulo, a vida cristã é andar no Espírito e não satisfazer os desejos da carne (Gl 5.16).


v. 4

Os slogans dos coríntios ilustram suas brigas (1.10-12), que provam que eles estão andando na carne (v. 3). Enganados, eles ainda precisam se tornar loucos (v. 18) na perspectiva do mundo para que possam se tornar verdadeiramente sábios.


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