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Foto do escritorChristian Lo Iacono

Vida no Espírito | Série: O Espírito Santo na Igreja -Parte I

Atualizado: 29 de fev.


Agora, pois, já não existe nenhuma condenação para os que estão em Cristo Jesus. Porque a lei do Espírito da vida, em Cristo Jesus, livrou você da lei do pecado e da morte. Porque aquilo que a lei não podia fazer, por causa da fraqueza da carne, isso Deus fez, enviando o seu próprio Filho em semelhança de carne pecaminosa e no que diz respeito ao pecado. E assim Deus condenou o pecado na carne, a fim de que a exigência da lei se cumprisse em nós, que não vivemos segundo a carne, mas segundo o Espírito. Os que vivem segundo a carne se inclinam para as coisas da carne, mas os que vivem segundo o Espírito se inclinam para as coisas do Espírito. Pois a inclinação da carne é morte, mas a do Espírito é vida e paz. Porque a inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois não está sujeita à lei de Deus, nem mesmo pode estar. Portanto, os que estão na carne não podem agradar a Deus. Vocês, porém, não estão na carne, mas no Espírito, se de fato o Espírito de Deus habita em vocês. E, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele. Se, porém, Cristo está em vocês, o corpo, na verdade, está morto por causa do pecado, mas o Espírito é vida, por causa da justiça. Se em vocês habita o Espírito daquele que ressuscitou Jesus dentre os mortos, esse mesmo que ressuscitou Cristo dentre os mortos vivificará também o corpo mortal de vocês, por meio do seu Espírito, que habita em vocês.


‭‭Romanos 8:1-11



Acho que muitos de nós podemos dizer que sentimos falta de uma ação genuína e mais poderosa do Espírito Santo em sua igreja hoje. Podemos ver isso olhando para nós mesmos. Certamente, todos nós que dizemos pertencer ao Senhor Jesus, às vezes nos sentimos oprimidos por nossos fracassos pessoais na vida e no ministério cristãos. Somos conscientes de que estamos longe do padrão de Cristo, da experiência dos primeiros cristãos e das promessas claras que Deus faz em sua palavra.


Sem dúvida, somos gratos a Deus pelo que ele fez e tem feito, e não queremos ofuscar a sua graça. Mas temos fome e sede de algo mais – ou pelo menos deveríamos ter. Também ansiamos por um reavivamento verdadeiro, uma visitação sobrenatural e abrangente do Espírito Santo na igreja, trazendo profundidade e crescimento; e, ao mesmo tempo, anelamos por uma experiência mais profunda, mais rica e mais completa de Cristo em nossas próprias vidas, através do Espírito Santo.


E por onde devemos começar essa busca? Orando, por exemplo? As Escrituras nos oferecem um caminho seguro a respeito da atuação do Espírito Santo na vida da igreja. A vontade de Deus para as pessoas está na sua palavra. Nela devemos tomar conhecimento da vontade divina, e não preferencialmente da experiência particular de indivíduos ou grupos, por mais reais e válidas que essas experiências possam ser, como ocorreu em algumas visões no livro de Atos (Pedro, Paulo etc).


Não devemos cobiçar o que Deus pode ter dado a outros, nem impor a outros o que Deus pode ter dado a nós como Igreja, a não ser que esteja revelado claramente na sua palavra que isto é parte da herança prometida a todo o seu povo. O que buscamos para nós mesmos e o que ensinamos a outros deve ser orientado s9omente pela Escritura. Somente quando a palavra de Deus habitar ricamente em nós, seremos capazes de avaliar as experiências que tanto nós quanto outros podemos ter. A experiência nunca deveria ser o critério da verdade; mas a verdade deve ser o critério da experiência.


Nesse sentido, a revelação do propósito de Deus na Bíblia deve ser buscada preferencialmente nas suas passagens didáticas, e não nas descritivas. Para ser mais preciso, devemos procurá-la nos ensinos de Jesus e nos sermões e escritos dos apóstolos, e não nas seções puramente narrativas de Atos. O que a Escritura descreve como acontecido a outros não precisa necessariamente acontecer conosco; porém, daquilo que nos é prometido devemos nos apropriar, e o que nos é ordenado devemos obedecer.


Não estou dizendo que as passagens descritivas da Bíblia não têm valor, porque "toda a Escritura é inspirada por Deus e útil" (2Tm 3.16). Digo, porém, que o que é descritivo tem valor somente até o ponto em que é interpretado pelo que é didático. Algumas narrativas bíblicas que descrevem acontecimentos interpretam a si mesmas, porque incluem um comentário explicativo, enquanto outras não podem ser interpretadas isoladamente, mas somente à luz do ensino doutrinário ou ético dado em outras passagens.


Por isso Paulo nos diz que as coisas pelas quais Israel passou no deserto "serviram de exemplo" e "foram escritas como advertência a nós" (1Co 10.11; Rm 15.4). Ele está se referindo a diversos episódios em que o julgamento de Deus recaiu sobre eles. Temos, portanto, passagens narrativas que são úteis para o ensino. Porém, seu valor não está na mera descrição, mas na explicação. Devemos evitar a idolatria, a imoralidade, a presunção e a murmuração, diz Paulo, porque essas coisas são gravemente ofensivas a Deus. Como sabemos isso? Porque o julgamento de Deus lhes sobreveio, como Moisés deixa bem claro nas histórias, e como ele e os profetas ensinam em outras passagens.


Entretanto, não podemos deduzir das histórias que, se pecarmos, assim como o povo de Deus no deserto, morreremos por pragas ou picadas de cobras, como aconteceu com eles. De maneira semelhante podemos aprender da história de Ananias e Safira, em Atos 5, que mentir desagrada muito a Deus, porque Pedro o diz; mas não podemos concluir que todos os mentirosos cairão mortos ao chão como eles.


Há ainda outro exemplo: em dois parágrafos de Atos, Lucas nos diz que os primeiros cristãos em Jerusalém venderam muitos dos seus bens, tinham o restante em comum e distribuíam bens e dinheiro "à medida que alguém tinha necessidade" (2.44-45; 4.32-37). Diante desses textos, devemos deduzir que eles estabeleceram um padrão que todos os cristãos devem imitar, de maneira que a propriedade privada é proibida aos cristãos? Alguns grupos têm pensado assim. Certamente a generosidade e o cuidado mútuo desses primeiros cristãos devem ser imitados, pois o Novo Testamento nos ordena muitas vezes que amemos e sirvamos uns aos outros, e que sejamos generosos (até sacrificiais) em nossas contribuições.


Porém, o argumento baseado na prática da primeira igreja de Jerusalém, de que toda propriedade particular fica abolida entre os cristãos, não somente não pode ser mantido pelo texto, como até é contrariado claramente pelo apóstolo Pedro no mesmo contexto (At 5.4) e pelo apóstolo Paulo em outras passagens (1Tm 6.17). Esse exemplo deve nos deixar atentos. Portanto, devemos derivar nossos padrões de fé e comportamento do ensino do Novo Testamento, sempre que ele for dado, e não das práticas e experiências que descreve.


Por fim, nossa motivação, ao buscarmos aprender o propósito de Deus do ensino da Escritura, é prática e pessoal, e não acadêmica e polêmica. Somos irmãos e irmãs na família de Deus. Nos amamos mutuamente e estamos preocupados em conhecer a vontade de Deus, a fim de que a abracemos e a recomendemos a outros. Assim, de acordo com a Escritura, queremos hoje verificar o significado da promessa do Espírito (e se é a mesma coisa que o "batismo" do Espírito). E se Deus permitir, no futuro, também queremos falar sobre a plenitude do Espírito, o fruto do Espírito e os dons do Espírito.


A promessa do Espírito


A vida cristã é vida no Espírito. Todos os cristãos concordam nisso com alegria. Seria impossível ser cristão, ou falar em viver e crescer como cristão, sem o ministério gracioso do Espírito de Deus. Tudo o que temos e somos como cristãos devemos a ele. Assim, cada cristão tem uma experiência do Espírito Santo desde os primeiros momentos da sua vida cristã. Para o cristão, a vida começa com um novo nascimento, e o novo nascimento é um nascimento "do Espírito" (Jo 3.3-8). Ele é o "Espírito... que vivifica" (Jo 6.63; Rm 8.2: “Espírito da vida”), e é ele quem dá vida às nossas almas mortas. Mais que isso, ele vem pessoalmente morar em nós, de maneira que a presença do Espírito é o privilégio que todos os filhos de Deus têm em comum.


Será que Deus nos faz seus filhos e depois nos dá seu Espírito, ou será que ele nos dá primeiro seu "Espírito de adoção", que, então, nos torna seus filhos? Podemos responder que Paulo diz as duas coisas. Por um lado, "porque vocês são filhos, Deus enviou o Espírito de seu Filho" (Gl 4.6). Por outro lado, "todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus. Porque vocês não receberam um espírito de escravidão, para viverem outra vez atemorizados, mas receberam o Espírito de adoção" (Rm 8.14-15). Não importa como você encara a questão: o resultado é o mesmo. Todos os que têm o Espírito de Deus são filhos de Deus, e todos os que são filhos de Deus têm o Espírito de Deus.


É impossível, até inconcebível, ter o Espírito sem ser filho, ou ser filho sem ter o Espírito. Além disso, uma das primeiras obras do Espírito que mora em nós, e, graças a Deus, sempre repetida, é nos assegurar que somos filhos, especialmente quando oramos. Quando “clamamos: ‘Aba, Pai.’”, “o próprio Espírito confirma ao nosso espírito que somos filhos de Deus" (Rm 8.15-16; Gl 4.6). Ele também inundou nosso coração com o amor de Deus (Rm 5.5: “o amor de Deus é derramado em nosso coração pelo Espírito Santo, que nos foi dado”). Paulo resume o assunto ao dizer que "se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele" (Rm 8.9; v. Jd 1.19).


Toda essa passagem em Romanos 8 é muito importante, porque demonstra que, no entender de Paulo, estar "em Cristo" e "no Espírito", ou ter "Cristo em vocês" (v. 10) e "o Espírito em vocês" (v. 11), são todas expressões sinônimas. Ninguém pode ter Cristo, portanto, sem ter o Espírito. O próprio Jesus deixou isso claro em seu discurso no Cenáculo, quando não fez distinção entre a "vinda" a nós das três pessoas da Trindade. Ele disse "voltarei para junto de vocês", "viremos para ele" (o Pai e o Filho) e "o Consolador [...] virá para vocês" (Jo 14.18; 14.23; 16.7-8).


Depois que ele vem a nós, passando a residir em nós, tornando nosso corpo seu templo (1Co 6.19-20), começa sua obra de santificação. Em poucas palavras, seu ministério implica tanto em nos revelar Cristo como em formar Cristo em nós, de maneira que cresçamos firmemente em nosso conhecimento de Cristo e em nossa semelhança com ele (Ef 1.17; Gl 4.19; 2Co 3.18). Pelo poder do Espírito que habita em nós os desejos maliciosos da nossa natureza decaída são controlados e o bom fruto do caráter cristão é produzido (Gl 5.16-25).


Da mesma forma, o Espírito não é uma propriedade particular, que ministra somente aos cristãos individualmente; ele também une todos no corpo de Cristo, a igreja, de maneira que a comunhão cristã é "a comunhão do Espírito Santo" (Fp 2.1), e o culto cristão é “adoração a Deus no Espírito” (Fp 3.3). Também é ele que chega a outros através de nós, levando-nos a testemunhar de Cristo, e equipando-nos com dons para o serviço para o qual ele nos convoca. Além disso, ele é chamado de "o penhor da nossa herança" (Ef 1.13-14), porque sua presença dentro de nós é tanto a garantia de que iremos ao céu quanto o antegozo dele. Por fim, no último dia sua atividade será a de ressuscitar nosso “corpo mortal” (Rm 8.11).


Essa visão panorâmica de algumas das principais atividades do Espírito Santo na experiência do cristão deve bastar para mostrar que, do começo ao fim da nossa vida cristã, somos dependentes da obra do Espírito Santo – o Espírito, nas palavras de Paulo, "que nos foi dado" (Rm 5.5).


Todavia, será que esse "dom" do Espírito prometido é a mesma coisa que o "batismo" do Espírito Santo? É nesse ponto que as convicções diferem. Alguns dizem "sim"; outros, "não". Os que dizem "não", creem que "dom" e "batismo" são diferentes, passam a ensinar que o "batismo" é uma segunda experiência, subsequente, mesmo se, pelo menos em termos ideais, ela segue a primeira muito de perto. Mas para os que creem que ambos são idênticos, e que ser "batizado" com o Espírito é uma figura vívida para ter "recebido" o Espírito, o "batismo" é algo que todos os cristãos tiveram. Essa é a minha convicção, e em seguida explicarei o que entendo ser a base bíblica para essa posição.


Não estamos fazendo um jogo de palavras superficial, como pode parecer. Pelo contrário, nossa posição terá um impacto considerável sobre a compreensão da nossa peregrinação cristã pessoal e sobre nosso aconselhamento de outras pessoas. Por isso, precisamos estudar algumas passagens bíblicas importantes, que tratam dessa questão.


“A santidade cristã não consiste de penosa conformidade com preceitos particulares de um código externo de leis. É antes uma questão de o Espírito Santo produzir Seu fruto na vida do crente, reproduzindo aquelas graças que só se viram com perfeição na vida de Cristo. A lei prescrevia uma vida de santidade, mas era incapaz de produzir tal vida, porque o material humano no qual tinha de trabalhar era inadequado.

Porém, o que a lei foi impotente para fazer, Deus fez. Agora que o próprio Filho de Deus, enviado à terra "em semelhança de carne pecaminosa", entregou Sua vida como oferta pelo pecado em benefício do Seu povo, o pecado recebeu sentença de morte. Não achou onde firmar os pés na vida de Jesus; foi efetivamente vencido em Sua morte; e os frutos daquela vitória se fizeram bons, agora, para todos quantos estão "nele" ("em Cristo"). Tudo o que a lei exigia com vistas à conformidade com a vontade de Deus, realiza-se agora nas vidas daqueles que são dominados e dirigidos pelo Espírito Santo, e são libertados da escravidão da velha ordem. Os mandamentos de Deus transformaram-se em meios divinos para capacitar os crentes.” (F. F. Bruce)


"Laborar e correr me manda a lei. contudo, não me dá nem pés nem mãos.

Mas o Evangelho traz melhores novas. Convida-me a voar, e asas me dá."


"A graça foi dada", diz Agostinho, "para que se cumprisse a lei."


"Somente depois que a nova criação veio à luz, pela morte e ressurreição de Cristo, é que se tornou possível a Deus enviar o Espírito do Seu Filho aos corações dos homens perdidos e desamparados; e com o Espírito vieram vida, liberdade e poder. Os que vivem pelo Espírito, como Paulo diz, produzem os frutos do Espírito. A videira não produz uvas por um decreto do governo; elas são o fruto da vida da videira; assim a conduta que se harmoniza com o padrão do Reino não é produzida por nenhuma exigência, nem mesmo de Deus, mas é o fruto daquela natureza divina que Deus dá como resultado daquilo que Ele fez em Cristo e por meio de Cristo” (S. H. Hooke).



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